Oportunismo, doença infantil do esquerdismo

Imagem: Paula Schmidt
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Por HERLON MIGUEL*

Considerações sobre a greve na Universidade Federal da Bahia

1.

O governo do PT proporciona um momento importante às mobilizações, organizações e à luta pela ampliação dos direitos. A história política recente do Brasil tem sido marcada por essa dinâmica, onde a sociedade civil se mobiliza em busca de avanços sociais.

Nesse contexto, a greve surge como um instrumento essencial da luta política. O capitalismo, com sua estrutura de exploração, fundamenta-se em leis que sustentam os privilégios das elites. Portanto, é crucial que os trabalhadores se organizem e recorram à greve para reivindicar seus direitos e enfrentar as injustiças sociais.

Comparando os governos, dados revelam disparidades significativas. No último ano da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022, as universidades federais receberam apenas R$ 53,2 milhões em recursos, o menor valor desde 2013. Ao longo de seus quatro anos de mandato, o ex-mandatário inaugurou apenas uma universidade, o que contrasta com a política de expansão observada em governos anteriores. A redução de investimentos durante o governo de Jair Bolsonaro gerou uma precarização da pesquisa e do ensino nas universidades, com consequências prejudiciais para a educação no país.

No contexto das universidades, a mobilização durante o governo de Jair Bolsonaro foi limitada. Infelizmente, poucas iniciativas foram tomadas. Setores fundamentais da esquerda estavam apáticos. Agora, no terceiro governo Lula, estão se mobilizando o que é positivo, mas qual a tônica da mobilização do esquerdismo?

2.

Atualmente, vivemos os primeiros anos do novo governo Lula, em um momento de desafios éticos e econômicos. As instituições enfrentam dificuldades para oferecer serviços de qualidade devido ao desmantelamento do Estado. Recentemente, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) recebeu um investimento significativo, 9 milhões de reais, para retomada da obra do campus, destacando sua importância na promoção da integração entre o Brasil e os países africanos de língua oficial portuguesa.

Esse investimento e um conjunto de outros que estão sendo feitos na educação como, por exemplo, a construção de mais institutos federais, se relaciona com a importância histórica que os governos do PT dão a educação, que vão de ações pontuais até as mais estruturantes. Mesmo assim, reformar a educação é uma tarefa muito complexa dado ao tamanho do setor, demandas históricas acumuladas, expansão do conservadorismo no último governo federal, dentre outros problemas.

No caso da Unilab-Campus Malês, no primeiro momento, não foi aprovada a greve. Essa não aprovação teve dois pilares fundamentais: prejudicar a vida acadêmica dos estudantes, alguns que sofrem com todas as dificuldades culturais, econômicas e sociais para se manter na Bahia, e a necessidade de manter os processos em curso que vão qualificar e melhorar esse campus que tanto sofreu no último governo, e, nesse sentido, atrasaria processos, obras e entregas. No segundo momento, a greve foi aprovada.

Talvez, os professores que são contra a greve, de fato, estejam colocando seus interesses individuais secundários, já que de fato, há uma defasagem salarial e ajustes fundamentais que precisam ser feitos às carreiras. No entanto, é de uma nobreza relevante esse sentimento de cuidado com o estudante e com o momento histórico do Brasil.

No caso da UFBA, e de acordo com a maioria que estava na assembleia de professores organizada pelo sindicato, instaurou-se a greve. Legitimamente, mas engendrada por sentimentos periféricos das disputas partidárias.

Participei de lutas fundamentais na UFBA, já que lá era o ponto focal da parte das lutas e mobilizações da universidade baiana. Das lutas que destacaria, lembro-me bem de dois momentos. O primeiro se referia à Reforma da Universidade, proposta por uma equipe muito qualificada (Tarso Genro, Fernando Haddad, dentre outros).

Essa política tinha um conjunto diversificado de ações, das quais queria lembrar do Programa Universidade Para Todos, o governo sugeria a transformação de impostos não pagos em vagas para pessoas pobres. No segundo momento, o REUNI, programa de reestruturação das universidades, hoje é responsável pela maior quantidade de vagas, cursos e, consequentemente, de pessoas negras na universidade.

Em ambos os momentos, o PSol, principal setor da atual oposição à APLB na Bahia, foi contra, mobilizou-se e organizou um conjunto de iniciativas contra as ações que posteriormente mudaram positivamente a vida de milhares de jovens. Esse movimento deles (PSol) fez com que, no calor da radicalização, vários professores sérios fossem iludidos. Na realidade, eles venceram um conjunto de eleições e tornaram-se força hegemônica em organismos importantes como a ANDES.

Esse mesmo setor foi um dos responsáveis, com suas pautas sectárias e disputas erradas, por todos os movimentos que, juntamente com a direita, fortaleceram o “Fora Dilma”.

3.

Em todos os casos, a comunidade acadêmica percebeu, após o funcionamento das políticas e efetivação das ações, que as iniciativas propostas pelos governos do PT eram boas e mudaram a cara da universidade. Mais que isso, percebeu-se que as posições do PSol, em detrimento do que é bom para o povo brasileiro, sobretudo nas ações do ativismo sindical, têm como base de suas narrativas organizar argumentos oportunistas para disputarem aparelhos como DCEs e sindicatos.

Infelizmente, no calor das emoções e voltados por seus interesses individuais, muita gente séria “vai na onda” e acaba, ali na frente, percebendo que se tratava, meramente, de uma disputa partidária. Após aqueles primeiros anos do governo Lula, a esquerda propositiva e unificada venceu em vários DCEs e sindicatos importantes.

É importante ressaltar que a APUB esteve presente em todas as lutas importantes do último período, demonstrando seu compromisso histórico com a defesa dos direitos e interesses dos professores e da educação pública como um todo. As pessoas que estão à frente do sindicato são ativistas com presenças em lutas na Bahia e no Brasil em defesa da educação.

É essencial que a sociedade civil se mobilize e pressione o governo em busca de investimentos adequados e políticas educacionais que promovam a inclusão e a excelência acadêmica. No entanto, é fundamental olharmos com uma lupa sobre que interesses estão envolvidos em cada uma das disputas políticas.

É fundamental identificar dois aspectos. O primeiro é que o PSol da Bahia tem muita gente séria, essa opinião aqui não é sobre o partido como um todo, mas sobre uma prática antiga e cotidiana, sobretudo na UFBA, de fazer com que a disputa política/partidária sobreponha o interesse da comunidade acadêmica.

Hoje, a disputa de narrativas feita, sobretudo nas redes sociais, por ativistas do PSol tem como meta o desmantelamento e enfraquecimento da APUB, organismo que representa os professores de instituições públicas federais do Estado. Apenas isso!

Há uma tentativa oportunista de tomar poderes do sindicato, o grupo almeja enfraquecer a liderança da APUB, revela-se como uma ação que, ao invés de diminuir a representatividade sindical, mina a coesão e a eficácia da organização. Esta abordagem dissidente, ao invés de promover a unidade e a defesa dos interesses dos docentes, fragmenta a voz coletiva dos professores, enfraquecendo assim sua capacidade de negociar e defender seus direitos, o que prejudica todo mundo para ações futuras.

É importante dizer que o PSol é um partido importante para a democracia brasileira. Foi fundamental na luta pela manutenção da democracia. Mas já fazem alguns anos que a militância do partido, especificamente na Bahia, está na contramão da unidade política, fundamental à esquerda brasileira. Destacaria ativistas baianos como a vereadora Laína, Fabio Nogueira, Kleber Rosa, dentre várias outras pessoas.

A educação é um dos pilares fundamentais para a transformação social e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, é dever de todos nós, enquanto cidadãos e membros da comunidade acadêmica, defendermos uma educação pública de qualidade, que atenda às necessidades da população e promova o desenvolvimento humano e social. A greve é um direito do trabalhador e deve ser exercida plenamente.

No entanto, após o enfraquecimento das entidades, o que sobra? Quem alcança êxito? E finalmente, professor/estudante, não seja manipulado. Fortalecer o sindicato é fortalecer a vocês mesmos.

Avante, professores. Avante, APUB.

*Herlon Miguel é mestrando em gestão de tecnologia aplicada à educação pela Universidade do Estado da Bahia. Foi diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE).


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