A cena brasileira – XXVI

Imagem: C. Cagnin
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

Considerações sobre meio ambiente, avanço legislativo sobre instituições e absenteísmo do governo federal

A questão ambiental continua centralizando as atenções de todo o mundo, às vésperas da conferência de Glasgow sobre opções climáticas, a realizar-se a partir de 31 do corrente mês. Diante da inapetência e desorganização do governo federal, os governadores brasileiros, consorciados pela temática, vão a Escócia liderados pelo governador do Espírito Santo, em delegação com proposições próprias em uma manifestação de interesse e militância. O eixo verde revigorado na Alemanha pós-eleitoral, de modo especial, bem como as tempestades de areia em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais funcionam como alerta e ponto de disparo de novas iniciativas ao nível subnacional.  Destaque-se, também, o efeito das pressões ambientalistas no leilão de campos petrolíferos (7 de outubro), quando o governo vendeu apenas 5 das 92 áreas oferecidas. São passos importantes para o médio e longo prazo. No panorama imediato, continuamos com o palavrório das autoridades federais.

As manifestações de 2 de outubro indicam dificuldades de mobilização social ou receio de conflitos com hostes contrárias, especialmente causados por bolsonaristas e forças de segurança sob influência do armamentismo vigente. Cansaço cívico, também é possível de ser diagnosticado; o que não chega a influir nos prognósticos otimistas da esquerda, lulista de modo especial. As pesquisas de opinião vão configurando o favoritismo de Lula sobre os demais candidatos; assim como são sublinhados os traços de crescente reprovação ao atual governo federal.

A reforma política ampla foi inviabilizada pelos prazos necessários à sanção ( um ano antes das próximas eleições). Como resultados das medidas aprovadas pelo Congresso ficam a contagem em dobro dos votos em mulheres e negros, para fins de participação no Fundo Eleitoral por parte dos partidos que propõem estas candidaturas; bem como a consagração das federações partidárias, que deverão ter duração da própria legislatura investida. Uma garantia de sobrevivência aos pequenos partidos políticos, que ainda terão de cumprir requisitos complexos quanto ao quociente eleitoral para manter sua existência.

No contexto de vazamento dos segredos financeiros das autoridades máximas do sistema financeiro brasileiro, presidente do Banco Central e ministro da Economia nos “Pandora Papers”, sobre os paraísos fiscais, chegamos à inflação de 10,25% no ano, ao nível  da época do Plano Real. Isso sem os  destaques de índices pertinentes a  combustíveis e certos alimentos essenciais, como proteínas animais. A crise hídrica e o aumento dos preços dos insumos para a agricultura, especialmente provenientes da China em crise energética, devem sobrecarregar os índices da inflação nos próximos meses. Sendo boa para a diminuição das despesas públicas, em valores reais, a inflação afeta o bolso de todos os cidadãos; isso especialmente entre os trabalhadores informais, que têm suas receitas diminuídas peta retração dos serviços e trabalhos intermitentes que são afetados pelo aumento de custos. Pressão sobre o desemprego, que atinge a 14,5 milhões de pessoas e aumento o nível de desalento da força de trabalho. Bolsonaro ajuda na difusão dos desastres futuros, sem nenhum encaminhamento de medidas necessárias ao problema. Desfaçatez e absenteísmo governamental.

Recentes decisões do Congresso Nacional afetam a Lei da Improbidade de 1992, trazendo, entre outras mudanças, um afrouxamento geral no encaminhamento das ações em defesa do patrimônio público por parte dos agentes e concedendo o monopólio da iniciativa ao Ministério Público, em detrimento da Advocacia Geral da União, por exemplo., entre outros órgãos.

Na mesma direção, a Câmara de Deputados prepara a votação de uma PEC que muda a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e amplia possibilidades de interferência política, dando ao Congresso poder para indicar mais membros ao órgão. Na mesma direção das alterações sobre a improbidade, trata-se de um avanço sobre os mecanismos de controle público por parte dos políticos profissionais. O CNMP é responsável pela fiscalização administrativa, financeira e disciplinar do Ministério Público e de seus membros. Em debate, com decisão adiada para as próximas semanas, deve gerar muitas controvérsias.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB e consultor da Empower Consult. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

MAIS AUTORES

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Bento Prado Jr. Paulo Fernandes Silveira Berenice Bento José Luís Fiori Andrés del Río Caio Bugiato Gilberto Maringoni Ronaldo Tadeu de Souza Daniel Brazil João Paulo Ayub Fonseca Ricardo Antunes Osvaldo Coggiola Chico Whitaker Luiz Roberto Alves Samuel Kilsztajn Daniel Afonso da Silva Celso Favaretto Vinício Carrilho Martinez Alexandre Aragão de Albuquerque Marjorie C. Marona Alysson Leandro Mascaro Henry Burnett Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Otaviano Helene Marcus Ianoni Francisco Pereira de Farias Rodrigo de Faria Airton Paschoa Fernando Nogueira da Costa Eugênio Bucci Dennis Oliveira Luis Felipe Miguel Bernardo Ricupero Flávio R. Kothe Igor Felippe Santos Antonio Martins Bruno Fabricio Alcebino da Silva Renato Dagnino Luiz Renato Martins João Sette Whitaker Ferreira Jean Marc Von Der Weid José Micaelson Lacerda Morais Leonardo Avritzer Armando Boito Claudio Katz Tales Ab'Sáber Afrânio Catani Rubens Pinto Lyra Luiz Werneck Vianna Eleonora Albano Ronald León Núñez Yuri Martins-Fontes Mariarosaria Fabris Érico Andrade Henri Acselrad Paulo Sérgio Pinheiro Boaventura de Sousa Santos Lincoln Secco Flávio Aguiar Anselm Jappe Daniel Costa Marcos Silva Fábio Konder Comparato Benicio Viero Schmidt Ladislau Dowbor Tadeu Valadares Carlos Tautz Michel Goulart da Silva Luiz Marques Eduardo Borges Annateresa Fabris Lucas Fiaschetti Estevez Kátia Gerab Baggio Priscila Figueiredo Alexandre de Freitas Barbosa Dênis de Moraes Luiz Carlos Bresser-Pereira Elias Jabbour Vanderlei Tenório Jorge Luiz Souto Maior Bruno Machado André Singer Marcelo Módolo Paulo Capel Narvai João Adolfo Hansen Andrew Korybko João Feres Júnior José Dirceu Michael Roberts Marilia Pacheco Fiorillo Jean Pierre Chauvin Valerio Arcary Maria Rita Kehl Leda Maria Paulani Vladimir Safatle João Carlos Salles Ricardo Musse Ricardo Abramovay Paulo Nogueira Batista Jr Marcos Aurélio da Silva Milton Pinheiro Matheus Silveira de Souza Gerson Almeida Carla Teixeira Paulo Martins Heraldo Campos Salem Nasser Leonardo Sacramento Ronald Rocha Michael Löwy Plínio de Arruda Sampaio Jr. Everaldo de Oliveira Andrade Sergio Amadeu da Silveira Luís Fernando Vitagliano Luiz Bernardo Pericás Luiz Eduardo Soares Francisco de Oliveira Barros Júnior Mário Maestri Chico Alencar André Márcio Neves Soares Gilberto Lopes Fernão Pessoa Ramos Sandra Bitencourt Liszt Vieira João Lanari Bo Francisco Fernandes Ladeira José Machado Moita Neto Luciano Nascimento Denilson Cordeiro Remy José Fontana Ari Marcelo Solon Lorenzo Vitral Slavoj Žižek Walnice Nogueira Galvão Gabriel Cohn Tarso Genro Marilena Chauí Julian Rodrigues Manuel Domingos Neto Rafael R. Ioris Marcelo Guimarães Lima Juarez Guimarães Jorge Branco Antônio Sales Rios Neto Atilio A. Boron Eliziário Andrade Eugênio Trivinho João Carlos Loebens Leonardo Boff Valerio Arcary Eleutério F. S. Prado Antonino Infranca Manchetômetro Ricardo Fabbrini Thomas Piketty Alexandre de Lima Castro Tranjan José Geraldo Couto José Costa Júnior Celso Frederico José Raimundo Trindade

NOVAS PUBLICAÇÕES