O espalhamento do vírus obedece a uma lógica diferente da crise econômica. Seu comportamento encontra-se ainda em estudo. Mas impacta mais rapidamente o dilema de vida ou morte
Por Roberto Jorge Regensteiner*
Que crises são estas que se sobrepõem? A crise do Covid-19,
a crise econômica, a relação da sociedade urbano-industrial com a Natureza (com
ene maiúsculo). Quer dizer que os seres humanos achavam que não faziam mais
parte da natureza? Se esqueceram desse fato básico da biologia? Ou então, como
sociedade global, como todo social nunca o aprenderam verdadeiramente, eis que
a interconexão de 9 bilhões sobre um planeta limitado nos ocorre a todos pela
primeira vez. É um novo desafio…
Poderíamos dizer que um hipotético Zeus enviou um
míssil, batizado de Covid-19, só para nos recordar que somos parte da natureza,
que precisamos de oxigênio, água, de toda a Tabela Periódica dos elementos. Tomemos
logo consciência disso e aproveitemos a convergência das crises para uma
reestruturação completa da sociedade global rumo ao ecossocialismo.
A irrupção do Covid-19 num ponto fulcral do sistema
produtivo mundial, fez com que a produção industrial chinesa cair primeiro trimestre
de 2020. Interrompeu bruscamente fluxos de mercadorias, ao longo das
geografias, afetando analogamente fluxos financeiros diretos e derivados.
O espalhamento do vírus obedece a uma lógica
diferente da crise econômica. Encontra-se ainda em estudo. Mas impacta muito
mais rapidamente, no curto prazo, o dilema de vida ou morte. Sabe-se pouco
sobre ele além de que se transfere de um humano a outro por meio do contato
entre (simplificadamente) secreções e mucosas superiores.
Considerando que o valor humano mais importante é a
preservação da vida, foi uma sorte a infecção tivesse começado na China como
ficou claro pela capacidade que o país demonstrou para enfrentar o problema.
Entre sua identificação inicial (em dezembro de 2019) e o momento atual
prevalecem estatísticas de diminuição da letalidade do Covid-19 naquele país,
configurando um gráfico em curva de sino que, agora, aponta para baixo.
Enquanto isso a Europa, os EUA e outros países
preparam-se para vivenciar a fase ascendente do problema. Oxalá se saiam melhor,
posto que tiveram mais tempo que os chineses para se preparar e se quiserem ser
inteligentes se beneficiarão da experiência que a China colocou à disposição de
todos os países. Mas dá medo ver a incompetência de Donald Trump, do primeiro ministro
britânico Boris Johnson e de Jair Bolsonaro (não necessariamente nesta ordem)
para lidar com o problema.
A República Popular da China, dirigida pelo PCC
(Partido Comunista da China; cada país tem o pcc que consegue ter…), deu um
show de bola!, mostrou-se um exemplo de organização social seguida da
disposição de colaborar com outros países em busca do bem comum. Negue isso
quem quiser! Apontem o primeiro dedo para as normais hesitações iniciais na
identificação do problema que houve na China, os países e regimes que nunca
sofreram do pecado de reconhecer só depois um problema, apenas quando ele se
torna calamidade. Há muitos exemplos.
Na China, a identificação das medidas fundamentais
a serem tomadas e sua magistral execução calam fundo na alma dos admiradores da
engenhosidade humana: da execução do lockdown
à concretização das obras turn-key de
dois hospitais (pensem no planejamento que há de haver por trás!); do
desenvolvimento de parcerias em busca de vacinas até sua postura impecável de
oferecer ajuda às demais nações. Meus aplausos e gritos de bravo! Isto é o que
temos de inspiração para enfrentar um momento que é de dor por milhares de
perdas para a doença na China, pelo féretro de caminhões do exército italiano
transportando um número parecido de corpos para a cremação de vítimas de uma
população que é pequena fração da chinesa.
Vejamos o que as outras nações fizeram com o prazo
que lhes foi concedido pela sorte para se prepararem e vejamos quanto tempo
dura o surto nestas outras localidades.
Esta é a hora em que cada governo nacional deve
cuidar de sua população e, mais que nunca, é necessária uma articulação global
para enfrentar as questões da saúde, no plano institucional, político e econômico,
que suplante a força sistemas financeiros, da articulação entre Bancos Centrais
e Bolsas de Valores.
