Por PAULO FERNANDES SILVEIRA*
Da conferência de Florestan Fernandes sobre o “novo negro” em 1975 à manifestação do MNU em 1978, a ditadura militar documentou obsessivamente cada passo da consciência racial brasileira

Para a presidenta Dilma Rousseff, que tornou possível essa pesquisa.
Um relatório de Fernando Mourão, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e diretor do Centro de Estudos Africanos (CEA-USP), enviado para a Assessoria de Segurança e Informação (ASI-USP), em 19 de abril de 1977, sugere uma série de boicotes aos trabalhos e atividades de Abdias Nascimento, Clóvis Moura e Eduardo de Oliveira e Oliveira, que na época fazia doutorado na FFLCH-USP (SILVEIRA, 2023).[i]
O padrão desse relatório de Mourão se repete em vários outros relatórios anônimos voltados à perseguição das pessoas relacionadas ao movimento negro. Esses relatórios, elaborados por alguém que acompanhava o debate sobre o racismo no Brasil e em outros países, geralmente, anexam documentos, artigos de revistas e trechos de livros, além de desenvolverem análises sobre as ideias e as ações dos grupos e das pessoas perseguidas.
Informações sobre alguns professores e estudantes da USP contribuíram na perseguição ao Movimento Negro Unificado (MNU). Uma das pastas do Serviço Nacional de Informações (SNI) traz um relatório da AESI-USP sobre Florestan Fernandes. Nessa pasta, difundida em 1981, também há um relatório sobre a participação de Florestan num curso de extensão cultural sobre o negro brasileiro, organizado pelo Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA), presidido por Clóvis Moura.
Realizado entre os dias 6 e 16 de outubro de 1975, no auditório da União Brasileira de Escritores (UBE), o curso “Uma visão dinâmica do negro no Brasil” foi coordenado por Aristides Barbosa e Clóvis Moura. Além dos coordenadores do curso, também apresentaram conferências: Florestan Fernandes, Oracy Nogueira, Fernando Henrique Cardoso, Octávio Ianni, José Correia Leite, Eduardo de Oliveira e Oliveira e Raul Joviano (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES, 1976). [ii]
Sobre a conferência “A situação do negro no Brasil – perspectivas”, proferida por Florestan, o informante registrou: “O orador concitou os negros a participarem da vida política, na direção de SINDICATOS, CENTROS ACADÊMICOS e COMITÊS POLÍTICOS, afirmando que o MARXISMO é a única solução para o problema do negro e de seus descendentes” (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES, 1976, p. 2). [iii]
Segundo o informante, Florestan apontou para o surgimento no Brasil de um “novo negro”, que anseia por uma participação mais efetiva no meio social, mas não deixa de ser manipulado pelo capitalismo. Em contraponto, Florestan citou os militantes norte-americanos do movimento Black Power que têm: “consciência de suas reivindicações e tomam posição contra seus espoliadores” (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES, 1976, p. 11). [iv]
Em 1982, um relatório assinado pelo general Mário Orlando Ribeiro Sampaio, chefe do Centro de Informações do Exército (CIE), traz um dossiê sobre o MNU. O relatório considera esse curso organizado pelo IBEA e, especialmente, a conferência de Florestan, como uma influência decisiva na redefinição do movimento negro brasileiro: “Foi uma investida dos adeptos da esquerda, tentando atrair elementos da cor negra para as hostes comunistas” (CENTRO DE INFORMAÇÕES DO EXÉRCITO, 1982, p. 6).
Os relatórios dos órgãos de segurança ignoram a importância do pesquisador norte-americano Michael Mitchell na formação dos militantes negros paulistas. Entre 1971 e 1972, Mitchell desenvolveu em São Paulo o doutorado: Consciência racial, atitudes e comportamentos políticos de negros em São Paulo, Brasil. A pesquisa teve apoio acadêmico do CEBRAP e foi acompanhada por Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fernandes.
Na aplicação dos questionários da pesquisa junto às associações negras, Mitchell contou com a participação de Eduardo de Oliveira e Oliveira e de outros militantes do movimento negro. Essa experiência fez com que esses jovens militantes, que anos depois criariam o MNU, analisassem os problemas enfrentados pelas pessoas negras (MITCHELL, 2002). Em 1978, esse tema foi discutido na carta de princípios do MNU, primeiro documento do movimento, que retoma o título da conferência de Florestan no IBEA: a situação do negro no Brasil (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÕES, 1978a).
Além de Florestan, Clóvis Moura e Michael Mitchell, a militância do MNU teve a influência de várias outras lideranças, tais como: Eduardo de Oliveira e Oliveira, Abdias Nascimento, Maria Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez e Thereza Santos.
Segundo o engenheiro, professor e militante Henrique Cunha Júnior: “Em meio a uma fase de reestruturação dos movimentos negros foi que se formou, no interior da USP, um pequeno setor ativista, procurando discutir a temática do negro, entre alunos e funcionários. (…) Tivemos o prazer de conviver com a ilustração e as elaborações conceituais do sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira e da historiadora Beatriz Nascimento. Nossas reuniões, então, saíram da USP e passaram a acontecer no apartamento do professor Eduardo, localizado no bairro de Santa Cecília, ou aos domingos, nos encontros da feira de artes da Praça da República. (…) Mais tarde juntaram-se à nossa pequena academia renegada uspiana pesquisadores americanos que desenvolviam teses a respeito dos movimentos negros e da cultura negra no Brasil. Destaque importante nessa participação foi o professor Michael Mitchell, que insistia na tomada da USP por uma horda de pensadores negros. Seu plano nos parecia uma utopia realizável. Porém, as dificuldades aumentaram à medida que os posicionamentos acadêmicos de Beatriz e de Eduardo tiveram uma sutil e traumática rejeição, implicando a desistência destes da pós-graduação” (2002, p. 20-22).[v]
O acontecimento que originou o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, posteriormente, rebatizado de Movimento Negro Unificado (MNU), foi a manifestação ocorrida em 7 de julho de 1978, no centro da cidade de São Paulo. Segundo Clóvis Moura, que foi um dos oradores na manifestação: “Os fatos que contribuíram ou mesmo determinaram a sua convocação foram os seguintes: a morte do trabalhador negro Robson Silveira da Luz, no mês de maio, devido às torturas executadas por policiais em uma delegacia de Guaianases, na capital; expulsão, no mês de maio, de quatro atletas negros do time juvenil do Clube de Regatas Tietê e o assassinato, por um policial, no bairro da Lapa, de Nilton Lourenço, negro e operário” (1983, p. 72).[vi]
Na edição n. 22, de junho-julho, o jornal Versus publicou, na seção Afro-Latino-América, uma longa reportagem de Hamilton Cardoso, jornalista e militante do movimento negro, sobre a tortura e assassinato de Robson Silveira da Luz: “O delegado, enquanto batia em Robson, dizia-lhe: — negro tem que morrer no pau!” (1978a, p. 38).
Na edição seguinte, o Versus estampou em sua capa uma foto do militante Milton Barbosa (Miltão) discursando com um megafone em meio à manifestação de 7 de julho. A manchete da edição foi: “os negros estão nas ruas”. [vii] O jornal também publicou textos de Hamilton Cardoso (1978b) e de Neusa Pereira (1978) sobre a manifestação, além de uma carta de apoio dos Grupos Afro-brasileiros e dos Netos de Zumbi, entidades compostas por pessoas negras aprisionadas na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru).[viii]
No livro O genocídio do negro brasileiro, Abdias Nascimento, que também foi orador na manifestação, lista os diversos grupos e associações negras que a apoiaram, além das sete entidades que a organizaram: “Grupo Afro-Latino-América (SP); Grupo de Atletas Negros; Associação Cultural Recreativa Brasil Jovem; Grupo de Artistas Negros; Afro-Latino-América (RJ); Associação Cristã Brasileira Beneficente (ACBB) e Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA)” (1978, p. 132).
Em 18 de junho de 1978, dia do jogo Brasil e Argentina na Copa do Mundo, ocorreu uma grande reunião para organizar o protesto contra a discriminação racial. Ali estavam presentes: representantes e associados de entidades, de grupos, de jornais e de equipes de bailes, estudantes, esportistas, artistas e blacks. Pelo relato de Hamilton Cardoso: “Ao final estava decidido a criação de um Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial. Sua primeira atividade já estava marcada: a realização de um ato público no 7 de julho, no Viaduto do Chá, em São Paulo (1978b, p. 33).[ix]
Uma panfletagem na véspera convocou a população para o ato público programado para começar às 18.30 horas, em frente ao Teatro Municipal. Neusa Pereira publicou um registro pessoal sobre a manifestação: “Enquanto algumas pessoas bem vestidas e perfumadas entravam no Teatro Municipal de São Paulo para cumprir seu dever social, um grupo de mais de mil negros abriam seu peito ali em frente, num grito sufocado, denunciando as péssimas condições em que vivemos nesse país. Mais de mil negros, em sua maioria, jovens, desmistificavam publicamente o racismo covarde que o proíbe de participar do progresso da sociedade, que o atira na sarjeta e o assassina” (1978, p. 34).
Em seu estudo “O movimento negro na última década”, a filósofa, antropóloga e militante Lélia Gonzalez analisa o significado desse primeiro ato público do MNU: “Por aí a gente constata que o 7 de julho é um marco histórico muito importante para nós, na medida em que se constituiu em ponto de convergência para a manifestação, em praça pública, de todo um clima de contestação às práticas racistas, assim como da determinação de levar adiante a organização política dos negros. Ora, esse clima e essa determinação já haviam pintado em diferentes pontos do país, como já dissemos. Faltava esse 7 de julho, garantia simbólica de um movimento negro de caráter nacional” (1982, p. 48).
Ao analisar o 7 de julho, Florestan Fernandes enfatiza a politização e a radicalização dessa fase do protesto negro brasileiro: “Enquanto nas décadas de 1930 e 1940 o negro procurava inibir o teor ideológico do protesto racial, agora a tendência é elevar o nível da radicalização ideológica e, ao mesmo tempo, politizar o protesto, de modo a ter o máximo de ataque explícito à ordem existente” (2017, p. 97).
Numa publicação em parceria com Florestan sobre a história do movimento negro no Brasil, Hamilton Cardoso traça um panorama sobre a repressão às pessoas negras e não brancas: “Daí não é de se estranhar que as análises sobre tortura no Brasil do regime militar não estabeleciam relações com a tradição de torturas e violência policial, iniciadas durante a escravidão contra os rebeldes das senzalas e que continuaram, inclusive, nos brasis democráticos de depois da escravidão, contra os desregrados das favelas, cidadãos comuns e quase sempre não brancos — negros, mestiços, índios e outros” (1988, p. 11).
Transcrevo, em seguida, um relatório dos agentes do SNI sobre a manifestação de 7 de julho. O relatório indica que o movimento negro estava sendo monitorado há bastante tempo.
Serviço Nacional de Informação – INFORMAÇÃO N. º 3500/119/ASP/SNI/78[x]
DATA: 11 JUL 78
ASSUNTO: MANIFESTO. “MOVIMENTO UNIFICADO CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL” – SÃO PAULO/SP.
REFERÊNCIA: Telex 214/19/AC/78
ORIGEM: ASP/SNI
ANEXO(S): Discriminados no último item.
Em 04 de JUL 78, em carta enviada ao Delegado Geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo, os responsáveis pela iniciativa: ANTONIO LEITE, presidente da Associação Cultural Recreativa Brasil Jovem, MILTON BARBOSA, ligado ao Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas e Eduardo de Oliveira, ex-vereador do município, participaram da realização do ato de repúdio.
O acontecimento encarado como um protesto veemente e corajoso a todas as formas de racismo foi divulgado através de 30.000 panfletos distribuídos pela cidade.
Conforme Info. nº 3339/119/ASP/SNI, de 30 de JUN 78, aos 07 de JUL 78 realizou-se em SÃO PAULO o Ato Público organizado pelo Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, criado em 18 JUN último.[xi]
A manifestação foi pacífica e contou com a presença de aproximadamente mil pessoas.
Constou da programação:
Afixação de faixas com os seguintes dizeres:
“PELA DEMOCRACIA RACIAL”
“PELA PARTICIPAÇÃO DE TODOS OS NEGROS NO MOVIMENTO”
“CONTRA A DISCRIMINAÇÃO RACIAL”
“CONTRA A OPRESSÃO QUE O NEGRO SOFRE”.
Distribuição da carta aberta à população e do jornal VERSUS, nº 5 / (em anexo).
Leitura em coro da referida carta.
Distribuição de convite do centro de luta de três entidades negras para uma Assembleia do Movimento pela Libertação do Negro pelo próprio negro, cuja realização está prevista para o próximo dia 23.
Discursos de vários representantes da comunidade negra, dos quais destacamos:
ABDIAS DO NASCIMENTO, professor de Culturas Negras no Novo Mundo, declarando que:
“O Brasil é o único país que admite a existência do preconceito racial em suas terras. Tanto isso é verdade que foi preciso criar a Lei Afonso Arinos para proteger aqueles que sofrem atitudes racistas. Acontece que esta Lei, pelo que se tem notícia, nunca foi aplicada. Há mais de 20 anos que ela não é atualizada e, hoje, quem praticar no país atos de racismo, fica obrigado pela Justiça a pagar uma multa de Cr$ 15,00”.
MÁRIO AMÉRICO, vereador municipal, considera o racismo como fenômeno geral e, sabendo que medidas já foram tomadas nos dois acontecimentos que originaram o manifesto, perguntava aos negros ali presentes,
“o que nós queremos mais?”
enfim, não só se negou aderir ao movimento, alegando ser um homem público, como lamentou o nascimento dessa manifestação:
“Pediria a eles que não prosseguissem nessa demonstração pública, para o bem de nossa raça. E se vier uma represália? Qual a segurança, a proteção que vão ter? É uma luta desigual. Além disso, esse é um movimento que divide, que separa ainda mais os negros dos brancos”.
A jornalista NEUSA MARIA PEREIRA declarou: “Nós queremos oportunidades e não considerações. O negro precisa fazer um esforço três vezes maior do que um branco para conseguir um emprego”.
ALDO BUENO, ator negro atualmente desempregado afirmou: “O negro só entra para certos papéis, o ator negro é o tipo específico para trabalhos específicos”.
Distribuição de propaganda eleitoral de MILTON SANTOS e HÉLIO SANTOS, candidatos à Câmera Federal e à Assembleia Legislativa.
Finalizando o ato público, os negros fizeram o gesto característico do movimento “BLACK POWER” (punho fechado para o alto).
–Este Ato, aparentemente de protesto contra as injustiças cometidas nos contingentes da raça negra, esconde no fundo, um movimento observado de longa data (vide Info. 417/119/ASP/SNI/77, de 30 DEZ 76), através de atividades do professor FLORESTAN FERNANDES e de CLÓVIS STEIGER DE ASSIS MOURA, membros do Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas, uma das entidades promotoras do evento.[xii]
Ultimamente, tem tomado grande vulto a Convergência Socialista, que propõe a fundação do Partido Socialista. Constata-se que nessa Frente Socialista, uma entidade que se propõe a lutar pela organização do negro no Brasil, denominada “AFRO-LATINO-AMÉRICA”, também mais uma das promotoras do Ato.
Um dos motivos que deu origem a este movimento, ou seja, os fatos ocorridos no Clube de Regatas Tietê, cujo mérito está sendo apurado pela divisão de ordem política do DOPS/SP, é patrocinado pelo conhecido advogado IDIBAL PIVETTA, membro da Coordenação Regional da Convergência Socialista em S. Paulo.
O jornal Versus, porta voz da Convergência Socialista, aliás, que foi distribuído nesta manifestação, tem dedicado muitas páginas ao movimento Afro-Latino-América, com matérias de CLÓVIS MOURA e FLORESTAN FERNANDES, bastante conhecidos por suas tendências.
A edição distribuída, nesta oportunidade, publica pequeno artigo subscritado pelo Núcleo Negro Socialista, que esclarece todo o movimento:
“Na verdade, vivemos momentos de grandes vitórias. A esquerda brasileira, em conjunto com os trabalhadores e o movimento negro, conseguirão um grande avanço no momento em que conseguirem combinar as lutas específicas com as lutas gerais.
Logo após o surgimento de uma Tendência Negra na Convergência Socialista, nasce de uma unidade vários grupos e entidades da Comunidade Negra, o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, um movimento amplo e democrático, que sem dúvida, vai unificar todos os setores mais consequentes da Comunidade Negra. Este será um movimento independente, onde os negros poderão se colocar, livres de qualquer escamoteação, seja de setores da esquerda ou da direita branca…”.
Na atual Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em seu primeiro dia efetivo de trabalhos, 10 JUL 78, sob a coordenação de EDUARDO DE OLIVEIRA E OLIVEIRA, disse que: “O problema do negro é um problema nacional, pois é de natureza política, e que, também, só politicamente poderá ser resolvido”.
Conclusão
Pelos motivos apresentados, conclui-se que, realmente, o racismo vem sendo encarado, não só sob o ponto de vista social, como político, e seus batalhadores estão utilizando este motivo para fortalecer a Convergência Socialista, uma vez que também se sentem mais fortalecidos pela unificação de todas as entidades afro-brasileiras do país.
Relação dos Anexos
um exemplar da edição especial do jornal Versus, nº 5.
carta aberta à população contra o racimo.
cópia xerox da carta enviada ao Delegado Geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo, sr. TÁCITO PINHEIRO DE MACHADO, pelos responsáveis do movimento.
cópia xerox da propaganda eleitoral.
cópia xerox de convite dirigido aos negros, para uma Assembleia a realizar-se em 30 JUL 78.
cópia xerox da carta convocatória para o ato público.
*Paulo Fernandes Silveira é professor da Faculdade de Educação da USP e pesquisador no Grupo de Direitos Humanos do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Crianças negras expulsas do Clube de Regatas Tietê, em maio de 1978 (RACISMO, 1978).

Hamilton Cardoso, Antonio Leite, Eduardo Ribeiro e Milton Barbosa (Miltão),
manifestação de 7 julho de 1978, foto de Jesus Carlos (CARRANÇA, 2022).

Relatório de agentes do DOPS sobre o 7 de julho, SÃO PAULO (1978).
Referências
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Notas
[i] No livro Sitiado em lagos, Abdias Nascimento já havia denunciado correspondências comprometedoras entre Mourão e o Itamaraty (SILVEIRA, 2024a).
[ii] Por sugestão de Fernando Mourão, a ditadura militar exigiu a cobrança de um depósito compulsório dos conferencistas convidados para participar do “Primer Congreso de la Cultura Negra de las Americas”, em Cali, na Colômbia (SILVEIRA, 2023). Essa medida impediu Clóvis Moura de participar do congresso, para o qual havia sido convidado para coordenar a delegação brasileira. Desde a sua origem, o IBEA tornou-se um dos poucos institutos africanistas brasileiros que não se submeteram às diretrizes do Itamaraty e da ditadura militar. O Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos (IBEAA), no Rio de Janeiro, teve como um dos seus diretores José Maria Nunes Pereira, colega e orientando de doutorado de Fernando Mourão. Na juventude, os dois participaram da Casa dos Estudantes do Império (CEI), em Portugal. Nos anos 1960, Pereira e outras pessoas que migraram para o Brasil por causa da ditadura salazarista foram vigiados por informantes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), inclusive, Humberto Delgado, que foi assassinado em 1965 por agentes da PIDE (PIMENTEL, 2022). Na ditadura portuguesa, como na brasileira, muitos informantes traíram os grupos de esquerda em que militavam.
[iii] Devo ao pesquisador e militante Gabriel dos Santos Rocha a indicação do áudio da conferência “A situação do negro no Brasil – perspectivas”, de Fernandes (1975), acessível no acervo digital do Centro de Documentação e Memória (CEDEM), da UNESP, com o título e referência: Palestra sobre preconceito racial, caixa CM.009, (CM_fk7_09_TRATADO). A gravação começa com um trecho da conferência de Octávio Ianni, a fala de Florestan só começa no minuto: 03:28. As ideias desenvolvidas na conferência no IBEA foram incorporadas por Florestan no ensaio “25 anos depois: o negro na era atual”, que faz parte do livro Circuito fechado, publicado, originalmente, em 1976. No final desse ensaio, Florestan sugere que a nova geração do movimento negro brasileiro se aproxime da geração anterior.
[iv] No início dos anos 1970, em seu exílio nos Estados Unidos, Florestan conheceu os Panteras Negras (SILVEIRA, 2022). No colóquio do IBEA, Florestan elogia os trabalhos de Stokely Carmichael (Kwame Ture) e de Louis Lomax, com quem ele participou de um colóquio nos Estados Unidos, em 1965. Numa conferência realizada na Universidade da Califórnia (UCLA), Lomax (1966) assume uma posição semelhante à de Florestan sobre a importância das reivindicações de classe para a revolta negra. A relação do movimento negro brasileiro com o Black Power foi abordada no relatório de Mourão: “O problema racial está reabrindo-se a partir, principalmente, da influência dos vários movimentos negros norte-americanos, alguns dos quais com características revolucionárias e, ao que consta, infiltrados, entre outros por elementos comunistas” (ASSESSORIA DE SEGURANÇA E INFORMAÇÃO, 1977, p. 2).
[v] Entre as dificuldades que enfrentou no doutorado, relacionadas à ditadura militar, Eduardo de Oliveira perdeu a orientação de Ruy Galvão de Andrade Coelho, em 1974, quando este precisou ir para o exílio com sua esposa Lúcia Maria Sálvia Coelho. Ruy e Lúcia Coelho, ambos, professores da USP, foram presos por agentes da ditadura militar, em 1971 (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 2014). Na OBAN, em São Paulo, Lúcia Coelho foi torturada. Depois disso, ela foi enviada para a “Torre das donzelas”, ala do Presídio Tiradentes onde Dilma Rousseff também ficou aprisionada.
[vi] Pelas análises do químico, cientista social e militante Ivair dos Santos: “A violência policial, uma das mais frequentes situações de violação dos Direitos Humanos, era preocupação permanente do movimento negro que, em 1978, rompeu com o discurso uníssono de combate à discriminação racial e incorporou a luta contra a tortura para o preso comum” (2015, p. 39).
[vii] A imagem do Miltão com um megafone é análoga à de Michel Foucault numa reportagem publicada pela revista Magazine Littéraire. A legenda da foto era: “Sartre, Foucault, Glucksmann: os filósofos estão nas ruas” (SILVEIRA, 2024b). A frase “os filósofos estão nas ruas” (e não em seus escritórios) causa alguma surpresa. Em plena ditadura militar, a frase “os negros estão na rua” também chama a atenção. Todavia, ao contrário da impostura de intelectuais brancos e burgueses que procuram assumir o lugar de porta-vozes do povo em manifestações cujas demandas não lhes concerne (RANCIÈRE; RANCIÈRE, 1978), pessoas negras nas ruas manifestando-se contra a discriminação racial estão em seu legítimo lugar de fala e de luta. Em seu exílio nos Estados Unidos, Florestan (1975) acompanhou de perto o debate sobre o lugar de fala proposto pelo movimento negro nos campos das universidades norte-americanas (ROGERS, 2009). Talvez por isso Florestan não tenha participado da manifestação de 7 de julho, que contou, apenas, com oradores e oradoras negras. Três dias depois da manifestação, em 10 de julho, Florestan entregou para a editora Paz e Terra o prefácio do livro O genocídio do negro brasileiro, no qual Abdias Nascimento (1978) analisa a importância da criação do MNU.
[viii] Em 1978, Neninho de Obaluaê (José Augusto Gonçalves da Silva), militante do movimento negro e um dos fundadores do MNU, estava preso no Pavilhão 8, do Carandiru. Com outras lideranças do presidio, Neninho criou o Centro de Lutas Netos do Zumbi. Neninho era o responsável pela coluna “Vozes da Prisão”, do jornal Árvore das Palavras, dos militantes do MNU. No livro Beco sem saída, Neninho de Obaluaê (1999) narra quatorze anos de peregrinações pelos presídios paulistas. No livro Submundo, Abdias Nascimento (2023) também narra suas experiências como prisioneiro no Carandiru, nos anos 1940.
[ix] Sobre a inserção da palavra “negro” no nome do movimento, Flávio Carrança, jornalista e militante do MNU, fez o seguinte testemunho: “Na leitura de Hamilton e do Núcleo Negro Socialista, o movimento deveria unificar forças sociais contra o racismo e não se restringir a um movimento de negros. Sua intenção era criar uma articulação que abrangesse todos os que estivessem dispostos a lutar contra o racismo. Mas essa ideia acabou sendo derrotada. (…) É Milton Barbosa quem explica: ‘Ele [Hamilton] queria fazer um movimento do tipo SOS Racismo da França, que junta todo mundo. Já eu e Rafael (Pinto) queríamos construir o embrião de um movimento de libertação nacional. Não estava decidido na nossa cabeça o que seria, mas nós já tínhamos essa noção. A gente estudava muito os movimentos de libertação na África, partidos políticos, e achávamos que se tinha de construir um movimento negro organizado. Quando Abdias (Nascimento) veio com a palavra negro, nós a abraçamos, porque queríamos uma única coisa: organizar o povo negro’” (2014, s/p).
[x] Esse relatório sobre a manifestação de 7 de julho encontra-se na pasta: Racismo Negro – Dossiê (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÃO, 1978b). Essa pasta também traz dossiês sobre as atividades políticas de Florestan Fernandes e Clóvis Moura. Esse mesmo relatório sobre a manifestação de 7 de julho encontra-se na pasta: Racismo Negro: Poder Negro Tropical (SERVIÇO NACIONAL DE INFORMAÇÃO, 1978c). Um dos relatórios dessa pasta traz uma reportagem do jornal Independência Operária, que destaca as resoluções apresentadas na Quinzena do Negro, organizada por Eduardo de Oliveira e Oliveira. Na manifestação do MNU contra o racismo, algumas dessas resoluções foram transformadas em palavras de ordem.
[xi] A pasta 50-Z-O do DOPS de São Paulo (1978) possui outros relatórios detalhados de agentes infiltrados que acompanharam essa manifestação contra o racismo. Essa pasta não está disponível na internet, mas pode ser consultada no Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP).
[xii] Uma passagem semelhante aparece num relatório do DOPS de São Paulo: “Observamos de longa data que ‘africanistas’ (estudiosos da cultura e raça negra de origem africana) como Clóvis Moura e Florestan Fernandes, entre outros, tentam, usando da dialética, ‘acordar’ a cultura negra ‘ainda adormecida na escravidão’ para um movimento de emancipação de cunho socialista, inspirado nos ‘Panteras Negras’, grupo norte-americano conhecido pelas ações radicais e violentas (Jornal Versus, nº 19, p. 39)” (SÃO PAULO, 2015).
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