Diante do fogo na Cinemateca brasileira

Imagem: Jeffrey Czum
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por DOCENTES DO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA USP*

Carta aberta

Um depósito da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, ‘incendiou-se’ no dia 29 de julho de 2021, com perda de filmes e documentação textual a eles referente, material de inestimável importância e, em grande parte, irrecuperável.

Muitas vozes, em protesto contra esse desastre, assinalaram que foi uma tragédia anunciada e mais que previsível, levando em conta as denúncias feitas por funcionários da instituição, cineastas, pesquisadores e imprensa sobre a incúria do governo federal em relação à segurança daquelas instalações e à preservação de seu precioso acervo, sufocado e, agora, incinerado por inadmissível descaso governamental sobre sua sustentação mínima, com verbas e outros recursos materiais negados ou minimizados.

Documentos históricos muito importantes, após sua criminosa destruição por irresponsabilidade de quem deveria zelar por eles, não retornam em nova safra.

Filmes, textos e outras fontes históricas são mais que sua visível materialidade. Eles representam fazeres humanos, relações entre homens e mulheres de diferentes gerações, resultados e potencialidades de experiências sociais. Perdê-los é diminuir drasticamente a capacidade de entender aquele mundo e sua posteridade, nosso mundo e o porvir, é mutilar as perspectivas das relações sociais que tornaram possíveis aqueles materiais e tornam possíveis sua compreensão posterior e seus desdobramentos em novos fazeres de mulheres e homens.

Estudiosos de comunicações, historiadores, educadores e tantos outros profissionais, na universidade e noutras instituições de pesquisa e ensino, assim como todos os cidadãos, fomos irremediavelmente agredidos, vitimados por este terrível acontecimento.

Tragédias, no mundo sem deuses, remetem para responsabilidades políticas humanas, demasiado humanas, por suas consequências.

Denunciamos os responsáveis pela destruição de parte expressiva da Cinemateca Brasileira, admirável entidade de preservação e estudo do cinema nacional, e cobramos da justiça rigorosa apuração sobre os fatos e punição de quem os tornou possíveis.

A perda de documentação histórica, repetimos, ultrapassa sua dimensão material imediata. Ela significa menor possibilidade de indagarmos sobre as condições sociais de quem a produziu e de quem a estudou, estuda e estudará.

Nós, que estudamos Cinema e outros fazeres sociais, em nome da História, não podemos nos calar diante da calamidade instituída.

A Dignidade da Política engloba Responsabilidade e Ética.

Sem essas dimensões, a gestão pública fica reduzida ao vazio ou, ainda pior, ao banditismo oficial.

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Otaviano Helene Alexandre de Oliveira Torres Carrasco José Luís Fiori Fernando Nogueira da Costa Leonardo Sacramento Francisco Fernandes Ladeira Daniel Brazil Armando Boito Michel Goulart da Silva Kátia Gerab Baggio Lorenzo Vitral Chico Alencar Ricardo Abramovay Milton Pinheiro Francisco Pereira de Farias Luís Fernando Vitagliano Antonio Martins Marcelo Módolo Gilberto Lopes Andrew Korybko João Feres Júnior Renato Dagnino Lucas Fiaschetti Estevez Berenice Bento Flávio Aguiar Vinício Carrilho Martinez Luiz Bernardo Pericás Alysson Leandro Mascaro Leonardo Boff José Micaelson Lacerda Morais Chico Whitaker Ladislau Dowbor Ricardo Antunes Bruno Fabricio Alcebino da Silva Henry Burnett Jean Marc Von Der Weid André Singer Vanderlei Tenório Julian Rodrigues Salem Nasser João Sette Whitaker Ferreira Paulo Nogueira Batista Jr Fernão Pessoa Ramos Samuel Kilsztajn Luciano Nascimento José Dirceu José Machado Moita Neto Plínio de Arruda Sampaio Jr. Ricardo Fabbrini Leda Maria Paulani Jean Pierre Chauvin Thomas Piketty Bruno Machado Rubens Pinto Lyra Ronald Rocha Paulo Sérgio Pinheiro Celso Favaretto Flávio R. Kothe Gabriel Cohn José Raimundo Trindade João Paulo Ayub Fonseca Alexandre de Freitas Barbosa Gerson Almeida Andrés del Río Bernardo Ricupero Marilena Chauí Luiz Renato Martins Gilberto Maringoni Henri Acselrad Eliziário Andrade Luiz Carlos Bresser-Pereira Igor Felippe Santos Luiz Eduardo Soares Michael Löwy Anselm Jappe Remy José Fontana Eleonora Albano Daniel Costa Afrânio Catani João Lanari Bo Marcos Aurélio da Silva Heraldo Campos Manuel Domingos Neto Jorge Branco Paulo Fernandes Silveira André Márcio Neves Soares Carla Teixeira Bento Prado Jr. Marcelo Guimarães Lima João Adolfo Hansen Ricardo Musse Lincoln Secco Eugênio Bucci Tales Ab'Sáber Walnice Nogueira Galvão Carlos Tautz Érico Andrade Ari Marcelo Solon Dênis de Moraes Priscila Figueiredo Boaventura de Sousa Santos Daniel Afonso da Silva Marcus Ianoni Luiz Roberto Alves José Geraldo Couto Tarso Genro Mariarosaria Fabris Matheus Silveira de Souza Manchetômetro Dennis Oliveira Juarez Guimarães Vladimir Safatle José Costa Júnior Luiz Marques Antônio Sales Rios Neto Sandra Bitencourt Luiz Werneck Vianna Paulo Martins Michael Roberts Marcos Silva Yuri Martins-Fontes Eduardo Borges Tadeu Valadares Benicio Viero Schmidt Eleutério F. S. Prado Annateresa Fabris Claudio Katz Fábio Konder Comparato Francisco de Oliveira Barros Júnior Slavoj Žižek Eugênio Trivinho Marilia Pacheco Fiorillo Luis Felipe Miguel Valerio Arcary Rodrigo de Faria Airton Paschoa Antonino Infranca Alexandre de Lima Castro Tranjan Maria Rita Kehl Denilson Cordeiro Leonardo Avritzer Jorge Luiz Souto Maior Everaldo de Oliveira Andrade Elias Jabbour Celso Frederico Rafael R. Ioris Osvaldo Coggiola Caio Bugiato Marjorie C. Marona Mário Maestri Atilio A. Boron Paulo Capel Narvai Valerio Arcary João Carlos Loebens Ronald León Núñez Liszt Vieira Ronaldo Tadeu de Souza João Carlos Salles Alexandre Aragão de Albuquerque Sergio Amadeu da Silveira

NOVAS PUBLICAÇÕES