Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA*
Comparação entre os tipos de investidores nos mercados acionários dos EUA e Brasil
A estrutura dos mercados acionários dos EUA e do Brasil difere substancialmente quanto à composição dos tipos de investidores. Reflete o grau de desenvolvimento financeiro, a cultura de investimento e as formas de intermediação de poupança em cada país.
O quadro abaixo compara sistematicamente os principais tipos de investidores.
Tipos de investidores por categoria na bolsa de valores
Categoria | Características principais | EUA | Brasil |
Pessoa Física (Retail ou Varejo) | Investidor individual direto | Representa cerca de 38% do volume negociado | Representa cerca de 10–15% do volume negociado |
Investidor Institucional | Fundos de pensão, seguradoras, fundos mútuos e hedge funds | Dominante, com cerca de 55–60% de participação | Em declínio, com participação próxima de 20–25% |
Investidor Estrangeiro | Investidores fora do país comprando ações localmente | Cerca de 25-30% das ações em circulação (ativos) | 55-60% do volume negociado na B3 |
Intermediários (Market makers) | Bancos e formadores de mercado | Atuam como facilitadores de liquidez | Menor presença relativa |
Alta frequência (HFT) | Robôs e algoritmos operando em milissegundos | Representa mais de 50% dos volumes diários | Pouco relevante, mas crescente |
A participação no mercado de ações, segundo dados mais recentes nos Estados Unidos (NYSE + Nasdaq) é: Fundos de Pensão: ~30%; Fundos Mútuos e ETFs: ~20%; Seguradoras e Hedge Funds: ~10%; Investidores Individuais Diretos: ~38%; Investidores Estrangeiros: ~15–20% das ações em circulação. Gestoras de ativos como BlackRock/Vanguard dominam via ETFs.
No Brasil (B3), em abril de 2025, Investidores Estrangeiros: ~60% do volume negociado; Pessoa Física: ~14%; Investidores Institucionais nacionais (EFPC, fundos de ações): ~22%; Instituições financeiras e empresas: ~3%; Day Traders e robôs: menos de 5%, mas com impacto crescente. A bolsa de valores brasileira é raquítica e controlada por especuladores estrangeiros!
Estrutura de intermediação
Função | EUA | Brasil |
Fundos de Índice (ETFS) | Fortemente utilizados (ex: iShares da BlackRock) | Crescimento recente, ainda pequeno |
Corretoras e Bancos | Alto grau de automação e competição | Concentração em poucos players |
Previdência Privada | Investimentos maiores em ações via fundos | EFPC ainda conservadores, EAPC mais abertos |
Educação Financeira | Ampla e enraizada culturalmente | Em processo de difusão recente |
Nos EUA, o mercado é profundamente institucionalizado, com alta participação de investidores de longo prazo (fundos de pensão, ETFs), enquanto a pessoa física opera mais via planos de aposentadoria (401k, IRA).
No Brasil, os investidores estrangeiros dominam o volume diário, e a participação crescente da pessoa física foi acelerada quando houve taxas de juros mais baixas, em especial no ano da pandemia (2020), e popularização de plataformas digitais.
Fundos soberanos estrangeiros (como os da Noruega e Singapura) também têm peso relevante no mercado americano. Representa muito mais diante o investimento no Brasil.
Com base nos dados disponíveis até o fim de 2024, é possível estimar a participação de investidores estrangeiros nos principais mercados financeiros dos Estados Unidos. Nas ações de empresas norte-americanas, a participação estrangeira atingia US$ 18,45 trilhões diante a capitalização total do mercado acionário dos EUA em US$ 67,6 trilhões, os investidores estrangeiros detinham cerca de 27,3% do valor total das ações de empresas norte-americanas.
Nos Títulos do Tesouro dos EUA (U.S. Treasuries), a participação estrangeira somava US$ 8,817 trilhões diante uma dívida total em circulação de US$ 28,6 trilhões. Logo, os investidores estrangeiros possuíam cerca de 30,8% dos títulos do Tesouro dos EUA em circulação no mercado.
A Dívida Pública Bruta dos EUA (em circulação) atingia o total de US$ 34,6 trilhões (2025), dos quais US$ 28,6 trilhões em mercado aberto (Treasuries negociáveis). O restante era intragovernamental, por exemplo, Trust Funds da Previdência Social. A dívida total dos EUA é maior, pois inclui obrigações não negociáveis.
Já os títulos corporativos (como debêntures) cresceram muito nas últimas décadas devido à busca de empresas por financiamento barato com taxas de juros baixas, em especial pós-2008 e durante a pandemia de 2020.
Nos títulos corporativos americanos, a participação estrangeira era de US$ 5 trilhões diante o valor total do mercado desses títulos dos EUA estimado em US$ 28,6 trilhões. Os investidores estrangeiros detinham cerca de 17,5% do mercado de títulos corporativos dos EUA.
A dívida corporativa está sujeita a riscos de default (calote empresarial), por isso exige prêmios de risco maiores. Os Treasuries são referência global de segurança, liquidez e servem como ativo livre de risco (risk-free asset) para modelos financeiros.
Resumo comparativo
Categoria | Participação Estrangeira | Total do Mercado | Percentual Estimado |
Ações de Empresas dos EUA | US$ 18,45 trilhões | US$ 67,6 trilhões | 27,3% |
Títulos do Tesouro dos EUA | US$ 8,817 trilhões | US$ 28,6 trilhões | 30,8% |
Títulos Corporativos dos EUA | US$ 5 trilhões | US$ 28,6 trilhões | 17,5% |
Esses dados refletem a expressiva participação de investidores estrangeiros nos mercados financeiros dos Estados Unidos. Destacam a interconexão entre a economia americana e os fluxos de capital globais.
Antes, quando um investidor estrangeiro perdia pela desvalorização das ações compensava pela valorização do dólar. Hoje, em lugar de um jogo de ganha-ganha, seu governo está optando pelo jogo perde-ganha… e poderá perder!
*Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de Brasil dos bancos (EDUSP). [https://amzn.to/4dvKtBb]
