Por ANDREW KORYBKO*
O futuro da Ucrânia está em jogo, e as decisões tomadas nas próximas semanas podem definir o destino do país
A Ucrânia estendeu a lei marcial até 6 de agosto de 2025, após o pedido de Volodymyr Zelensky no início da semana, o que impedirá a realização de eleições durante o verão, conforme The Economist alegou no final do mês passado, que seria um cenário pretendido por ele por considerar que essa seria a possibilidade de obter vantagem sobre seus rivais. Essa medida, portanto, expõe seu medo de perder a reeleição. Não se trata apenas de sua grande impopularidade, mas provavelmente também por temer que os EUA queiram substituí-lo após sua infame disputa na Casa Branca.
Para tanto o governo de Donald Trump pode não ignorar alguma fraude eleitoral que ele esteja planejando cometer para se manter no poder, recusando-se a reconhecer o resultado, a menos que um de seus rivais vença. Quanto a quem poderia realisticamente substituí-lo, o Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia afirmou, em maio passado, que os EUA teriam entrado em negociações com Petro Poroshenko, Vitaly Klitschko, Andrey Yermak, Valery Zaluzhny e Dmytro Razumkov.
O New York Times acaba de publicar um artigo de destaque sobre Petro Poroshenko, que aproveitou a oportunidade para propor um governo de unidade nacional quase 18 meses após a ideia ter sido lançada pela primeira vez em artigo para o Politico[i] em dezembro de 2023. No entanto, até mesmo o autor do artigo se sentiu obrigado a informar aos leitores que é improvável que ele retorne ao poder. Citando analistas políticos não identificados, eles avaliaram que “o Sr. Poroshenko pode estar mirando uma aliança eleitoral com o General Zaluzhny… [que] permaneceu em silêncio sobre política” até agora.
No entanto, o artigo de destaque de Petro Poroshenko no New York Times conseguiu aumentar a conscientização sobre o cenário GNU, que o governo Donald Trump pode tentar promover durante o verão. Volodymyr Zelensky continua a irritar Donald Trump, mais recentemente alegando que a Rússia tem “enorme influência” sobre a Casa Branca e acusando seu enviado, Steve Witkoff, de exceder sua autoridade nas negociações com Vladimir Putin. Isso ocorre enquanto a Ucrânia continua relutante em concordar com a mais recente proposta de acordo sobre minérios com os EUA.
Da perspectiva dos EUA, como o cada vez mais problemático Volodymyr Zelensky não pode ser democraticamente substituído por meio de eleições de verão, a melhor opção seria pressioná-lo a formar um governo de unidade nacional composto por figuras como Petro Poroshenko, com quem os EUA teriam mais facilidade de trabalhar. Isso também poderia servir para diluir o poder de Volodymyr Zelensky, revertendo a política do governo de Joe Biden, que fez os EUA ignorarem sua consolidação antidemocrática de poder sob pretextos de segurança nacional.
O pretexto poderia ser que qualquer avanço russo-americano na resolução do conflito ucraniano exigiria a aprovação de um governo ucraniano politicamente inclusivo, dada a legitimidade questionável de Volodymyr Zelensky após permanecer no poder depois do término de seu mandato em maio passado e a enormidade do que está sendo proposto. Para atingir esse objetivo, os EUA poderiam ameaçar suspender novamente sua ajuda militar e de inteligência à Ucrânia, a menos que Volodymyr Zelensky rapidamente reúna um governo de unidade nacional aceitável para o governo de Donald Trump.
O objetivo seria forçar um cessar-fogo para o levantamento da lei marcial, a realização de eleições e, por fim, a substituição de Volodymyr Zelensky. O governo de unidade nacional também poderia ajudar a prevenir a fraude que ele poderia estar planejando cometer se decidir concorrer novamente nessas circunstâncias politicamente muito mais difíceis, especialmente se convidar os EUA a supervisionar seus esforços, tanto antes quanto durante a votação. Por esses meios, os EUA ainda poderiam se livrar de Volodymyr Zelensky, que imagina que a extensão da lei marcial poderia impedir isso.
*Andrew Korybko é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes (Expressão Popular). [https://amzn.to/46lAD1d]
Tradução: Artur Scavone.
Nota
[i] Adrian Karatnycky, em seu último artigo para o Politico, afirma que “a Ucrânia precisa de um governo de unidade nacional”. Em resumo, ele avaliou que as mentiras de Kiev sobre a contra-ofensiva fracassada, sua política de recrutamento forçado, cortes sociais iminentes, a crescente reclusão de Volodymyr Zelensky e suas rivalidades políticas recém-exacerbadas “estão contribuindo para uma raiva pública justificável em relação às autoridades”.
