Van Gogh, o pintor que amava as letras

Imagem: Wikimedia Commons
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Por SAMUEL KILSZTAJN*

Van Gogh costumava descrever literalmente seus quadros em detalhes, abusando de adjetivar as cores, tanto antes de pintá-los como depois de prontos

Vincent, este homem de paixões que, de acordo com as suas próprias palavras, era capaz e dado a fazer coisas mais ou menos insensatas, havia recebido alguns sonetos de Bernard. Depois de várias observações, com a sua natural, habitual e característica franqueza, acrescentou, “Mas, em suma, ainda não estão tão bons quanto a sua pintura. Não importa. Isso virá e você certamente deve continuar com os sonetos.”

No dia seguinte, 17 de outubro de 1888, depois de pintar o quadro, Vincent escreveu a Paul Gauguin:

… fiz ainda para minha decoração uma tela de 30 do meu quarto com os móveis de madeira branca que você conhece… Em tons planos, mas grosseiramente escovados em pasta plena, as paredes lilases pálidas, o chão de um vermelho quebrado e desbotado, as cadeiras e a cama amarelos cromados, os travesseiros e o lençol verde limão muito pálido, o cobertor vermelho sangue, o toucador laranja, a bacia d’água azul, a janela verde. Queria expressar um descanso absoluto através de todos esses tons tão diversos que você vê, e onde não há branco exceto a pequena nota dada pelo espelho com moldura preta…”

Vincent, que tinha exasperada necessidade de expressar as suas ideias e sentimentos em palavras e redigiu mais de duas mil longas cartas (820 foram encontradas), era também um leitor incansável. Em 22-24 de junho de 1880, em carta da Bélgica a Theo, escreveu:

Esboço a Theo (com quadro da mãe na cabeceira)
Desenho a Gauguin (com paisagem na cabeceira)

Nota: além do original de 1888, do esboço e do desenho, há mais dois quadros do Quarto em Arles pintados por van Gogh em 1889, a “repetição” e a “redução” (56,5 por 74 cm).

* Samuel Kilsztajn é professor titular em economia política da PUC-SP. Autor, entre outros livros, de Partir c’est garder son équilibre [https://amzn.to/48lv9G9]


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