Por ALEXANDRE DE OLIVEIRA TORRES CARRASCO*
Haicai de ocasião
Chove
Se não chovesse
Sol veria
Haicai da conversa de antropólogo
o que – em mim
não for mito
imito
Haicai da segunda-feira à noite
Frio bate no rosto
– no coração
um osso
Haicai da passagem de ano
Fim de ano –
o que passou fica
passado.
Haicai do que recebi sem pedir
Presente:
o que ganhei
des
cubro.
Haicai para uma quarta-feira de cinzas, todo ele a partir de CDA
amar o perdido
contra o sem sentido
esses ficarão.
Haicai à moda de Heráclito
No mesmo rio não se banha duas vezes
No mesmo amor não se ama duas vezes
No mesmo medo: Parmênides.
Haicai que aparece de madrugada
Durmo, sono e sumo
Reapareço, sonho e olho
Vejo que durmo, acordo.
Haicai da langue de bois
Como seria o caso
se a desinência
viesse do acaso?
Sem título
Folha se espraia no vazio.
Não cai, ainda.
Cai indo.
*Alexandre de Oliveira Torres Carrasco é professor de filosofia na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
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