Por LISZT VIEIRA*
Não pode haver acordo nem anistia para os golpistas. Não pode haver liberdade para os inimigos da liberdade
A tentativa frustrada de golpe militar liderada por Jair Bolsonaro e os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Mario Fernandes e outros, levava o nome de “Punhal Verde Amarelo”. Na gíria militar, a palavra “punhal” é usada metaforicamente para evocar matança, massacre.
A inspiração veio da Alemanha nazista. A Noite dos Longos Punhais ou a Noite das Facas Longas (em alemão Nacht der langen Messer) foi uma ação de expurgo interno no partido nazista que aconteceu na Alemanha na noite do dia 30 de junho para 1 de julho de 1934, quando a facção de Adolf Hitler do Partido Nazista realizou uma série de execuções políticas.
A Noite dos Longos Punhais foi o nome dado a essa ação de expurgo com o objetivo de eliminar os chefes e as tropas da organização conhecida como SA, a Tropa de Assalto dos nazistas, que tinha com principal líder Ernst Röhm. A partir daí, os nazistas começaram a prender e eliminar adversários e até mesmo pessoas que apenas se recusavam a aderir, delatadas por vizinhos.
Assim, os militares brasileiros, ao usarem o título fortemente simbólico do golpe militar que então se preparava – e que acabou frustrado, entre outras razões, pela oposição do presidente Joe Biden – já indicavam que o objetivo era fazer um massacre que não ia se limitar ao assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do Ministro do STF Alexandre de Moraes.
Se o título da Operação Punhal Verde Amarelo se inspirou na Noite dos Longos Punhais, na versão brasileira o objetivo era estabelecer uma ditadura militar que iria provocar um banho de sangue, no estilo do governo de Augusto Pinochet após o golpe no Chile em 11 de setembro de 1973.
Se os golpistas não forem todos presos, vão se rearticular e tentar um novo golpe, desta vez com apoio de Donald Trump, o novo presidente dos EUA, já que Joe Biden não apoiou o golpe e até mesmo barrou a tentativa que estava em curso. Nesse caso, se o golpe for dado com sucesso, vão matar e prender um monte de gente. Lembremos que o presidente Salvadr Allende recebeu o conselho do general Pratts para prender os militares golpistas. Tentou dialogar e o general Augusto Pinochet, Comandante do Exército, considerado leal, liderou o golpe militar que ensanguentou o Chile e instalou uma ditadura fascista.
Não pode haver acordo nem anistia para os golpistas. Não pode haver liberdade para os inimigos da liberdade. Ou a democracia se defende com energia, ou acabará engolida pela ditadura, e a civilização pela barbárie.
*Liszt Vieira é professor de sociologia aposentado da PUC-Rio. Foi deputado (PT-RJ) e coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92. Autor, entre outros livros, de A democracia reage (Garamond). [https://amzn.to/3sQ7Qn3]
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