Por WAGNER PIRES*
As contradições do governo e a greve dos servidores da educação federal de 2024
A greve atual da Educação Federal não é uma peça espalhafatosa da Lava Jato, onde bastava um power point e uma apresentação para conseguir o que se quisesse. Porque diferente da Lava Jato ela contraria a lógica neoliberal. E aponta para o fortalecimento dos direitos, do serviço público e da universidade.
Neste momento, existe um consenso em torno das políticas de austeridade de viés neoliberal, que tomou de assalto o imaginário à direita e à esquerda. Ora, que a direita apoie uma política que retira dos pobres e direciona aos ricos o fundo público não é novidade. Agora, que se cogite isso pela esquerda é que se prova algo terrível.
A luta contra o Teto de Gastos se fez a cada minuto desde que a estrovenga foi inserida na Constituição. A pandemia retirou dele o pouco de lastro que possuía e por fim, desmoronou por si, às vésperas de Lula 3. Mas tal como o louco da história que não queria receber alta, Fernando Haddad, principal ministro de Lula, resolveu manietar o governo com um “arcabouço fiscal” que, na prática, restaurou o teto de gastos, substituindo uma medida mal elaborada, por um sistema primoroso de arrocho sobre o investimento em direitos.
Dessa forma, quem sofre é o povo. E a pancada mais forte cai sobre parte das servidoras e servidores públicos. Dizemos parte, porque o governo federal, em detrimento da Educação, por exemplo, concedeu, a algumas categorias um pacote de bondades, enquanto distribui safanões aos demais. É notório que dentre essas carreiras algumas tiveram um papel abjeto nas ultimas eleições. E a categoria que desde o primeiro momento se colocou como base de Lula está sendo ignorada e maltratada.
Cansados de ser tratados como nada, as técnicas e técnicos administrativos em educação das Universidades entraram em greve. No que foram seguidos por docentes das universidades e pelas servidoras e servidores dos Institutos Federais. Uma greve que prioriza o debate e a busca por uma efetiva valorização dos profissionais e das Instituições de Educação Superior.
O governo federal segue com sua ópera bufa, onde finge negociar, enquanto se imagina protagonista de uma greve, na qual só lhe cabe o papel de antagonista, ao teimar em agradar o mercado, enquanto rifa os trabalhadores, tanto ativos quanto aposentados.
Não foram poucas as vezes que este governo mostrou desconhecer as universidades e Institutos federais, tampouco foram as vezes que agiu de forma desrespeitosa com os representantes das categorias. Neste momento, a prioridade da educação fica nos discursos, enquanto o orçamento segue nas mãos dos banqueiros e do centrão.
As universidades mudaram. Se antes professores e estudantes eram os principais protagonistas da comunidade acadêmica, a greve de 2024 mostrou que as técnicas e técnicos também merecem seu lugar ao sol. Tanto pela combatividade neste momento, quando dia 11/06 completam 90 de greve, quanto por sua contribuição para o ensino, a pesquisa e a extensão. Os TAE desejam equiparação salarial com outras carreiras do executivo para encerrar o alto índice de evasão das servidoras e servidores da carreira e continuar as atividades de excelência executadas na universidade.
A maior carreira do serviço público e uma das mais preparadas, os TAE seguem sendo solenemente menosprezada por um governo que, reconheçamos, foi objeto de esperança de muitas e muitos de nós, mas que neste momento se recusa a ser o sujeito na realização dessas esperanças, deixando nossas universidades tornarem-se cada vez mais sucateadas e permitindo a evasão de servidoras e servidores que fizeram das nossas universidades e Institutos, os centros de referência em ensino, pesquisa e extensão, no Brasil e no mundo.
*Wagner Pires é servidor técnico administrativo em educação da Universidade Federal do Cariri e doutorando em educação na Universidade Federal de Pelotas.
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