Carta de fundação do MBP

Imagem: Alexandre Saraiva Carniato
image_pdf

Por MOVIMENTO BRASIL POPULAR*

Carta da Assembleia Nacional de Lutadores e Lutadoras do Povo – Luiz Gama

Entre os dias 17 e 20 de março, mais de 500 lutadores e lutadoras do povo brasileiro, militantes dos mais diversos movimentos populares, de juventude, do movimento negro, feminista, LGBTQIA+, camponês, sindical e por direitos sociais, estiveram reunidos em Belo Horizonte (MG), com o objetivo de debater a profunda crise pela qual passa o Brasil, mas sobretudo discutir qual organização necessária para derrotar o fascismo junto à e numa relação de complementação com as forças políticas comprometidas com a democracia, ao passo que enfrentamos os problemas concretos do povo e cultivamos a perspectiva de emancipação do povo brasileiro.

Vivenciamos um cenário internacional complexo, marcado pela ofensiva do imperialismo sobre o sul global, provocando novas guerras e ameaçando o direito dos povos à autodeterminação; por uma crise econômica internacional que tem aprofundado a superexploração dos trabalhadores e das trabalhadoras, a exploração desenfreada e irresponsável de bens naturais, saqueando as riquezas de países dependentes, acelerando a emergência climática e crimes ambientais por todo o mundo; e marcado também por fortes questionamentos a ordem política internacional, comandada pelos Estados Unidos da América.

Na América Latina temos presenciado a retomada de grandes mobilizações de massa, com destaque para a luta das mulheres pela descriminalização do aborto, dos povos indígenas, e pela radicalização da democracia, que foram combinadas com importantes vitórias eleitorais no Peru, Chile e Honduras, processo este que, caso as forças democráticas e populares sejam vitoriosas também na Colômbia e no Brasil, abre a possibilidade de um novo ciclo de governos progressistas no continente.

No Brasil, temos visto o aprofundamento das crises política, econômica, ecológica, sanitária e social. O governo Bolsonaro é o principal responsável pelos mais de 650 mil brasileiros e brasileiras mortos devido à pandemia da Covid-19, pelos mais de 19 milhões que passam fome e pelos mais de 14 milhões de desempregados no país.

Por isso, nossa tarefa fundamental para o próximo período é derrotar Bolsonaro e eleger Lula presidente da República. Por essas questões, estamos afirmando que a reconstrução da Nação perpassa pela construção de um forte movimento político de massas, que eleja Lula presidente e que combine as diversas formas de luta: social, institucional e ideológica, com centralidade no fortalecimento da organização popular.

Esse movimento político compreende que as transformações estruturais no Brasil serão obra de milhões de brasileiros e brasileiras que lutam. Compreende, também, a importância de alterar a correlação de forças institucional, com a eleição de parlamentares progressistas, para reverter o conjunto de medidas antidemocráticas e antipopulares implementadas a partir do Golpe parlamentar de 2016 que retirou Dilma Rousseff da Presidência da República.

Para isso, precisamos transformar a forte referência política que Lula possui no povo brasileiro em organização popular, e para essa tarefa apontamos a construção de Comitês Populares Lula Presidente, que disputem a hegemonia na sociedade através de um Projeto Nacional de Desenvolvimento que possa contribuir para a reconstrução do Brasil.

Desse modo, nossas tarefas políticas e organizativas para o próximo período são: (1) se construir enquanto um movimento político, social e cultural, de caráter nacional e de massas; (2) construir, em todos os territórios onde estamos inseridos, os Comitês Populares da candidatura Lula; (3) fortalecer a unidade do campo democrático e popular, em especial nossa relação com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT).

Ao mesmo tempo, reivindicamos parte significativa da nossa trajetória política anterior, em especial nosso compromisso com a construção de um Projeto Popular para o Brasil, que contemple a diversidade do nosso povo; o compromisso com o trabalho de base e uma organização vocacionada para a luta de massas; o compromisso com a unidade das forças populares e o fortalecimento dos diversos movimentos populares do país.

Inspirados pela história de Luiz Gama e do movimento abolicionista radical brasileiro, adicionamos o compromisso com a igualdade étnico-racial como um dos pilares fundamentais da construção do Projeto Popular, pois compreendemos que a luta antirracista é parte estrutural da luta da classe trabalhadora no Brasil. Cada militante sai dessa assembleia reafirmando seu compromisso e animação com a luta popular e os grandes enfrentamentos políticos que virão este ano, tendo a certeza de que o povo brasileiro é o sujeito das grandes transformações sociais em nosso país.

A partir de hoje, nossa ferramenta organizativa será o Movimento Brasil Popular, que carrega em seu nome a expressão das lutas nacionais por libertação do povo brasileiro, ao mesmo tempo que, no ano do bicentenário da independência, apontamos que queremos um Brasil a serviço de seu povo, que realize a segunda independência e a verdadeira abolição, concretizando um projeto nacional, soberano, popular e socialista.

Pátria Livre. Venceremos!

*Movimento Brasil Popular é formado pelo conjunto de militantes que saiu da Consulta Popular em 2021.

 

Veja todos artigos de

MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

1
A rede de proteção do banco Master
28 Nov 2025 Por GERSON ALMEIDA: A fraude bilionária do banco Master expõe a rede de proteção nos bastidores do poder: do Banco Central ao Planalto, quem abriu caminho para o colapso?
2
O filho de mil homens
26 Nov 2025 Por DANIEL BRAZIL: Considerações sobre o filme de Daniel Rezende, em exibição nos cinemas
3
A arquitetura da dependência
30 Nov 2025 Por JOÃO DOS REIS SILVA JÚNIOR: A "arquitetura da dependência" é uma estrutura total que articula exploração econômica, razão dualista e colonialidade do saber, mostrando como o Estado brasileiro não apenas reproduz, mas administra e legitima essa subordinação histórica em todas as esferas, da economia à universidade
4
A disputa mar e terra pela geopolítica dos dados
01 Dec 2025 Por MARCIO POCHMANN: O novo mapa do poder não está nos continentes ou oceanos, mas nos cabos submarinos e nuvens de dados que redesenham a soberania na sombra
5
A poesia de Manuel Bandeira
25 Nov 2025 Por ANDRÉ R. FERNANDES: Por trás do poeta da melancolia íntima, um agudo cronista da desigualdade brasileira. A sociologia escondida nos versos simples de Manuel Bandeira
6
Colonização cultural e filosofia brasileira
30 Nov 2025 Por JOHN KARLEY DE SOUSA AQUINO: A filosofia brasileira sofre de uma colonização cultural profunda que a transformou num "departamento francês de ultramar", onde filósofos locais, com complexo de inferioridade, reproduzem ideias europeias como produtos acabados
7
Raduan Nassar, 90 anos
27 Nov 2025 Por SABRINA SEDLMAYER: Muito além de "Lavoura Arcaica": a trajetória de um escritor que fez da ética e da recusa aos pactos fáceis sua maior obra
8
A feitiçaria digital nas próximas eleições
27 Nov 2025 Por EUGÊNIO BUCCI: O maior risco para as eleições de 2026 não está nas alianças políticas tradicionais, mas no poder desregulado das big techs, que, abandonando qualquer pretensão de neutralidade, atuam abertamente como aparelhos de propaganda da extrema-direita global
9
O empreendedorismo e a economia solidária
02 Dec 2025 Por RENATO DAGNINO: Os filhos da classe média tiveram que abandonar seu ambicionado projeto de explorar os integrantes da classe trabalhadora e foram levados a desistir de tentar vender sua própria força de trabalho a empresas que cada vez mais dela prescindem
10
Biopoder e bolha: os dois fluxos inescapáveis da IA
02 Dec 2025 Por PAULO GHIRALDELLI: Se a inteligência artificial é a nova cenoura pendurada na varinha do capital, quem somos nós nessa corrida — o burro, a cenoura, ou apenas o terreno onde ambos pisam?
11
Totalitarismo tecnológico ou digital
27 Nov 2025 Por CLAUDINEI LUIZ CHITOLINA: A servidão voluntária na era digital: como a IA Generativa, a serviço do capital, nos vigia, controla e aliena com nosso próprio consentimento
12
Argentina – a anorexia da oposição
29 Nov 2025 Por EMILIO CAFASSI: Por que nenhum "nós" consegue desafiar Milei? A crise de imaginação política que paralisa a oposição argentina
13
O parto do pós-bolsonarismo
01 Dec 2025 Por JALDES MENESES: Quando a cabeça da hidra cai, seu corpo se reorganiza em formas mais sutis e perigosas. A verdadeira batalha pelo regime político está apenas começando
14
A voz da saga
30 Nov 2025 Por WALNICE NOGUEIRA GALVÃO: Prefácio do livro “Melhores contos”, de João Guimarães Rosa
15
Por que a Inteligência artificial não faz justiça? – 2
29 Nov 2025 Por ARI MARCELO SOLON & ALAN BRAGANÇA WINTHER: Os fundamentos da ciência da computação e da filosofia do direito mostram que a Inteligência Artificial é estruturalmente incapaz de realizar justiça, pois esta exige historicidade, interpretação contextual e uma "variável caótica" humana que transcende a mera racionalidade algorítmica
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES