Eleger Lula faz avançar a luta socialista no Brasil?

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por JULIAN RODRIGUES*

Lula já pode ser um movimento capaz de recrutar milhares e empolgar milhões

O título desse artigo não é click bait direcionado a alguns setores específicos da vanguarda de esquerda. Trata-se de uma discussão mais do que legítima: teórica, estratégica, programática, tática e conjuntural.

A esquerda socialista brasileira se organiza partidariamente no PSOL, no PCdoB, no PCB/PSTU, mas majoritariamente no PT. Há uma forte esquerda socialista nos movimentos sociais e nos partidos que orbitam o campo democrático-popular hegemonizado pelo PT.

Não é novidade nenhuma nem algo estranho à cultura petista críticas ao rebaixamento programático, à prioridade institucional, aos limites das alianças – ou seja, à política majoritária do PT nos últimos anos.

Mas, se é assim, por que deveriam os comunistas e socialistas apoiar candidaturas do PT ou integrar o Partido? Como avançar no acúmulo revolucionário/socialista/democrático-popular e, ao mesmo tempo, fortalecer o petismo?

Antes mesmo de qualquer aprofundamento histórico-teórico: mergulhados que estamos no neofascismo, vivendo sob a égide de um golpe que começou em 2016, a primeira tarefa é sobreviver e resistir.

Resistir agora aos movimentos que apontam para o fechamento total do regime, e à necropolítica ultraliberal que opera no sentido mesmo de inviabilizar a própria existência minimamente digna de milhões de trabalhadores/as.

Derrotar eleitoralmente o bolsonarismo neofaxo é o primeiro passo. Gigante e minúsculo ao mesmo tempo – dialeticamente. A batalha para reverter as condições estruturais da atual correlação de forças internacional, continental e nacional – completamente desfavorável às massas empobrecidas – será longa e sinuosa.

O socialismo está na ordem do dia. Sim, não é mero saludo à la bandera.

Trata-se de uma resposta orgânica, mundial, estrutural, articulada e sistêmica a esse estado de coisas verdadeiramente distópico que é esse nosso atual capitalismo neoliberalóide.

Rejeitar as projeções de um mundo high tech, ubercapitalista, ultramonopolista, coisificador, hiper-explorador, colonialista, crudelíssimo, desesperançoso – que tem Elon Musk como referência.

É hora de voltar à Rosa Luxemburgo: “socialismo ou barbárie”.

Não, o PT não é um partido majoritariamente revolucionário. Nem possui uma estratégia socialista consolidada. Mas é o Partido que elaborou e defendeu, nos anos 1980 e 1990, a estratégia e o programa democrático-popular – uma via, um caminho para a revolução brasileira para a construção do socialismo – que passaria pela eleição do presidente da República (Lula lá, demarcando e catalisando todas as forças progressistas, socialistas, transformadoras, nacionalistas, comunistas, radicais, reformistas, críticas, anticapitalistas, socialdemocratas).

O bolivarianismo em geral – o chavismo e a experiência da Bolívia com Evo em particular – situam-se, a rigor, dentro do mesmo paradigma do socialismo petista – essa espécie de atalho da estratégia democrático-popular-socialista.

Nos remetem à Salvador Allende e à estratégia socialista da esquerda naquele Chile pré-golpe.

A vitória eleitoral de Lula não está garantida, muito menos o golpe dentro do golpe é fato dado a priori. Eleger Lula será uma reação político-cultural-ideológica, um apelo pela sobrevivência mesmo. O bolsonarismo persistirá.

Para a esquerda socialista, engajada toda desde já na campanha Lula (exceto PCB-PSTU), um futuro governo é uma janela para acumular forças e apontar caminhos mais ousados.

O Brasil é muito grande, importante demais. Lula presidente impacta o cenário mundial, joga a favor de um mundo menos americanizado, fortalece todas perspectivas, todas correntes humanistas e pluralistas.

As forças socialistas da esquerda nacional sociais – estamos com Lula Presidente.

Mas, é preciso mais. E queremos nós todas mais. Bem mais. Organização, disputa ideológica, formação política, acúmulo de forças para ir mais longe. Combinar avanços institucionais e grande mobilização popular. Revolucionar nossa comunicação que é tosca. Tudo muito difícil, entretanto, tudo muito possível.

A eleição de Lula abriria (abrirá) um novo período em nossa história, com melhores condições para a luta social – sindical, popular, ideológica.

Cabe a nós navegar mais ousadamente, aproveitar para ganhar mais pessoas, fazer mais propaganda, formar mais gente, organizar, lutar mais, nos enraizarmos, “ir a onde o povo está” – integrar ruas e redes.

Sem esquecer nunca que nosso coração é vermelho e bate do lado esquerdo do peito.

Lula já, como passo primeiro para recolocar na ordem do dia a luta socialista – pensar em um movimento capaz de recrutar milhares e empolgar milhões. Para mudar de verdade esse brasilsão injusto de meu deus.

*Julian Rodrigues é professor e jornalista. Ativista LGBTI e de Direitos Humanos; foi coordenador de políticas LGBT da prefeitura de São Paulo (governo Haddad).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

MAIS AUTORES

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Bernardo Ricupero Bruno Fabricio Alcebino da Silva Manuel Domingos Neto André Singer José Luís Fiori Daniel Afonso da Silva Airton Paschoa Eduardo Borges Paulo Martins José Geraldo Couto Andrew Korybko Sergio Amadeu da Silveira Armando Boito Gilberto Lopes Rodrigo de Faria Alexandre Aragão de Albuquerque Osvaldo Coggiola José Costa Júnior Ronaldo Tadeu de Souza Gerson Almeida Jorge Branco Renato Dagnino Alexandre de Lima Castro Tranjan Chico Whitaker Luís Fernando Vitagliano Afrânio Catani Bento Prado Jr. Alysson Leandro Mascaro João Paulo Ayub Fonseca Érico Andrade Priscila Figueiredo Bruno Machado Yuri Martins-Fontes Milton Pinheiro Marilena Chauí Flávio Aguiar José Micaelson Lacerda Morais Claudio Katz Ronald Rocha Marcos Silva Mariarosaria Fabris Eugênio Bucci Michael Roberts Antonino Infranca Heraldo Campos Henry Burnett Matheus Silveira de Souza Ricardo Antunes Michel Goulart da Silva Celso Frederico Daniel Costa Dênis de Moraes Marilia Pacheco Fiorillo Andrés del Río Paulo Fernandes Silveira Francisco Pereira de Farias Valerio Arcary João Carlos Loebens Rubens Pinto Lyra João Adolfo Hansen Mário Maestri Anselm Jappe Antônio Sales Rios Neto Carlos Tautz Lorenzo Vitral Jean Marc Von Der Weid Denilson Cordeiro Remy José Fontana Luiz Eduardo Soares João Feres Júnior Marcelo Guimarães Lima Benicio Viero Schmidt Michael Löwy Paulo Sérgio Pinheiro Luiz Carlos Bresser-Pereira José Dirceu Samuel Kilsztajn Ronald León Núñez Boaventura de Sousa Santos Marcus Ianoni Vanderlei Tenório Ricardo Musse Daniel Brazil Luiz Renato Martins João Lanari Bo Berenice Bento Julian Rodrigues Paulo Nogueira Batista Jr Caio Bugiato Eleonora Albano Liszt Vieira Leonardo Boff Jorge Luiz Souto Maior Dennis Oliveira Luiz Roberto Alves Ricardo Fabbrini Luiz Marques Lincoln Secco Celso Favaretto Chico Alencar João Sette Whitaker Ferreira Valerio Arcary André Márcio Neves Soares Alexandre de Freitas Barbosa Fernão Pessoa Ramos Everaldo de Oliveira Andrade Otaviano Helene Luiz Werneck Vianna Igor Felippe Santos Tadeu Valadares Jean Pierre Chauvin Henri Acselrad Flávio R. Kothe Ladislau Dowbor Fábio Konder Comparato Luiz Bernardo Pericás Gilberto Maringoni Slavoj Žižek Leonardo Avritzer Marcelo Módolo Luis Felipe Miguel Eleutério F. S. Prado Eliziário Andrade Salem Nasser Vinício Carrilho Martinez José Machado Moita Neto Tarso Genro Rafael R. Ioris Marjorie C. Marona Lucas Fiaschetti Estevez Maria Rita Kehl Ari Marcelo Solon João Carlos Salles Antonio Martins Gabriel Cohn Luciano Nascimento Atilio A. Boron Annateresa Fabris Fernando Nogueira da Costa Leda Maria Paulani Plínio de Arruda Sampaio Jr. Tales Ab'Sáber Anderson Alves Esteves Ricardo Abramovay Paulo Capel Narvai José Raimundo Trindade Juarez Guimarães Thomas Piketty Francisco Fernandes Ladeira Francisco de Oliveira Barros Júnior Elias Jabbour Leonardo Sacramento Carla Teixeira Walnice Nogueira Galvão Manchetômetro Vladimir Safatle Kátia Gerab Baggio Marcos Aurélio da Silva Sandra Bitencourt Eugênio Trivinho

NOVAS PUBLICAÇÕES

Pesquisa detalhada