Guerra na Ucrânia – o que virá a seguir?

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Por HELMHOLTZ SMITH*

A Rússia continuará fazendo o que está fazendo retendo a reserva até decidir que chegou o momento de acabar com a guerra

Não sei o que os russos estão indo fazer na Ucrânia, nem ninguém fora de seu alto comando. Mas, quanto a isso, com certeza muitas previsões erradas têm aparecido. Deixando de lado o moinho de propaganda ocidental, observadores sérios parecem ter-se enganado em relação ao momento. Sabemos que a correlação de forças favorece a Rússia, mas esperamos que as coisas aconteçam mais rapidamente. Concordamos que Moscou esperava algo mais curto, menos sangrento e mais rápido no início e foi provavelmente surpreendido pela resistência do regime de Kiev e pelo apoio mal-intencionado da OTAN. Por conseguinte, houve uma reavaliação e a convocação de mais forças. Até aqui estamos de acordo – parece que nos equivocamos quanto ao momento do próximo passo.

Estive pensando sobre a razão disto e cheguei às seguintes conclusões. Neste momento, todos que estão prestando atenção sabem que o campo de batalha da Ucrânia faz parte de uma guerra mundial na qual aqueles que controlam o império americano estão tentando manter seu domínio. Para aqueles que estão fora da bolha de propaganda da OTAN, há um consenso geral de que: (i) a Rússia está ganhando tanto no campo de batalha da Ucrânia como no teatro mais amplo; (ii) o tempo está do lado da Rússia.

Primeiro, o campo de batalha da Ucrânia. O primeiro objetivo na guerra é destruir o poder do inimigo, e é isso o que a Rússia está fazendo, especialmente no matadouro de Bakhmut. Kiev está determinada a ficar de pé e lutar ali, e os russos estão bastante contentes em deixá-los fazer isso – “a artilharia conquista e a infantaria ocupa” –, é o que vemos aqui. Lentamente, as forças russas avançam sobre montanhas de corpos ucranianos. Na última semana, mais ou menos, as forças russas começaram a avançar também em outras frentes. Esta trituração pode continuar até o colapso da Ucrânia, porque é mais fácil para os russos deixar o inimigo vir até eles do que ir atrás deles. Enquanto isso, os mísseis russos destroem a infraestrutura que Kiev necessita para continuar a guerra. O tempo e os desenvolvimentos favorecem a Rússia e não há incentivo para fazer movimentos de “grande flecha”.

Sobre a guerra maior, as sanções que supostamente teriam esmagado a Rússia, têm retornado como bumerangue e temos lido manchetes como “A inflação na Europa está caindo mas os preços dos alimentos estão subindo” e mortes por hipotermia na Inglaterra. A inflação está diminuindo porque a demanda está diminuindo e a demanda está diminuindo porque as empresas estão parando devido ao preço dos combustíveis. O Índice de Atividade Econômica da Zona do Euro (PMI) da Alemanha está em declínio.

Ninguém (com exceção dos habitantes da bolha na OTAN) deveria ficar surpreso – sancionou-se o maior exportador de energia, o maior exportador de cereais e um grande exportador de potássio, esperava que os preços caíssem? Tudo precisa de energia e todos precisam de alimentos. A unidade da OTAN oscila com Turquia, Suécia e Finlândia. A Hungria observa oficialmente o sofrimento dos húngaros na Ucrânia. A partição da Ucrânia foi considerada. Emmanuel Macron suspeita que os EUA estão enfraquecendo intencionalmente seus aliados europeus. Será que Washington acabou de convencer Berlim a ir primeiro – quando exatamente os tanques Abrams chegarão lá? A OTAN está entrando agora em seus recursos ativos (a Estônia junta-se à Dinamarca para enviar toda sua artilharia). (E, não que alguém esteja perguntando, quem explodiu o Nord Stream?) Tumultos e protestos por toda a Europa. O que está acontecendo em Kiev? Quanto mais tempo isto durar, mais fracos se tornam os inimigos da Rússia. Assim, na grande guerra, o tempo e os desenvolvimentos favorecem a Rússia e não há incentivo para fazer movimentos de “grande flecha”.

Portanto, a Rússia deve continuar fazendo o que está fazendo e manter a grande força em reserva – não há razão para mudar algo – está friccionando seus inimigos.

 

Mas…

Quão louca ficará a OTAN? Sua estratégia é um fracasso total. As “sanções paralisantes” não colapsaram a economia russa, derrubaram Putin ou fizeram a população revoltar-se. Pelo contrário – quando até o Economist tem que admitir que a Rússia “fez muito melhor do que o esperado”, você sabe que ela está realmente prosperando. As armas maravilhosas – Bayraktars, Javelins, M777s, HIMARS, Gepards, Patriots e agora tanques – só prolongaram o sofrimento da Ucrânia e fizeram de Wagner e Akhmat Sila os melhores combatentes urbanos do mundo. O que vem a seguir? A OTAN poderá reverter ela mesma? Poderá sobreviver a outra derrota? Ou, como Larry se pergunta, dirigir diretamente para o Grand Canyon? Que nova loucura surgirá quando os tanques falharem? (Conseguem imaginar como os tagarelas das geladeiras ficarão transtornados se estas coisas funcionarem? A CNN preocupa-se – “Pense na vitória da propaganda do presidente russo Vladimir Putin se surgirem imagens de tanques americanos inutilizados num campo de batalha ucraniano”).

Por conseguinte, acredito que o alto comando russo está num loop contínuo de decisão. Todas as manhãs considera se deve continuar a atual estratégia ou iniciar o movimento de “grande flecha” para pôr fim a esta situação antes que a OTAN faça algo irremediavelmente estúpido. É um processo de equilíbrio cuidadoso.

Em suma, o alto comando russo continuará fazendo o que está fazendo e a manter a reserva até decidir que chegou o momento de acabar com ela. E essa é uma decisão que só ele pode tomar com base em informações que só ele pode conhecer.

Portanto, talvez a ofensiva da “grande flecha” comece amanhã ou talvez nunca precise ser iniciada.

*Helmholtz Smith é jornalista.

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Publicado originalmente no site A son of the new american revolution.

 

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