Por JOHNY GUIMARÃES*
na porta do cabaré
a velha prostituta:
varizes e tatuagens
pobre e pardo
papel de pão:
embrulha um sonho
ela se incita
com o gesto fascista:
da mão direita erguida
uma flor carnívora
masca uma libélula
e o sol, impassível
a infância se ilumina
ao pé do abacateiro:
lâmpadas verdes acesas
na areia da praia
os olhos de peixe morto
e um silêncio azul
vestido de cetim
solto ao vento
uma menina dentro
se o amor passar
vá com ele,
cuidado… com à chuva!
entre aquele
velhos amigos
a falsidade primeiro
nenhum sinal de Deus
apenas as lanternas
dos vaga-lumes
infância roubada
jogada na cal (çada)
comida de urubus
folhas secas
sobre o chão
amores ao vento
no asfalto
escaldante
sim! um capinzinho
o jardim e a moça
no chão, um tapete
de flores de jambo
no aquário da dentista
os peixinhos exibem
dentadura postiça
paisagem branca
de puro gelo:
pássaro negro
ferido
*Johny Guimarães é documentarista, poeta e historiador.
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