Manifesto da Unicamp pela democracia

Imagem: Jade
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por PROFESSORES EMÉRITOS*

Abaixo-assinado da comunidade acadêmica da Unicamp em defesa da democracia e pelo respeito ao resultado das eleições de outubro de 2022

A Universidade Estadual de Campinas, criada logo após o golpe civil-militar de 1964, conviveu – durante as suas duas primeiras décadas – com a falta de liberdades democráticas, a censura nos planos da educação e da cultura e a repressão política. Como comprovam os trabalhos da Comissão da Verdade e Memória “Octavio Ianni” da Unicamp (2013-2015), a comunidade acadêmica, durante a ditadura militar (1964-1985), foi afetada por “permanentes ameaças e violências concretas, mas também – por meio da resistência democrática que protagonizou – se opôs ao obscurantismo cultural e ao arbítrio representados pelo terrorismo de Estado então vigente”.

Na longa noite de arbítrio e autoritarismo que se abateu sobre o país, a Unicamp buscou, pois, resistir às tentativas de controle e subordinação aos objetivos políticos e estratégicos defendidos pelos dirigentes da ditadura militar, seja no plano federal, seja no plano estadual. Com destemor e firmeza, a Universidade procurou manter sua autonomia acadêmica e científica bem como sua independência política e ideológica diante das frequentes ameaças, vindas de agentes e aparelhos da ditadura militar.

Uma manifestação exemplar destes compromissos pode ser comprovada no plano simbólico. Sob a vigência da rígida censura ao debate público e pensamento crítico, a Unicamp concedeu o título de Doutor Honoris Causa – a mais alta homenagem acadêmica da instituição – a pesquisadores, acadêmicos, artistas, literatos, clérigos que eram consideradas “subversivos” e “inimigos públicos” do regime de 1964.

Recentemente, e ainda no plano simbólico, a Unicamp expressou seu inequívoco compromisso com os valores democráticos. Por meio de uma Placa de bronze, erigida no centro do campus, a universidade fez questão de, publicamente, homenagear “homens e mulheres da comunidade acadêmica que, lutando pela redemocratização, sofreram violências físicas e morais durante a ditadura militar”.

Em tempos recentes, a comunidade acadêmica não deixou de se posicionar. O processo de impeachment do governo de Dilma Rousseff foi um desses momentos. Nestes seis últimos anos, desde o traumático impedimento – que permitiu a governos federais e estaduais radicalizarem políticas econômicas de natureza neoliberal – a comunidade universitária não tem abdicado de manifestações críticas, pois a questão democrática e a crise econômica passaram a centralizar o debate político nacional.

Desde então, centros de estudos e núcleos de pesquisas da Unicamp têm oferecido estudos e trabalhos altamente qualificados sobre: o desmonte das políticas públicas; o desemprego estrutural; o aumento da miséria e o endividamento da população; as contrarreformas trabalhista e da previdência; a ausência de uma política ambiental e a devastação do meio ambiente;  a escalada da violência contra os povos indígenas (retirada de direitos, invasão de terras e o avanço de atividades ilegais) etc. As entidades representativas da comunidade acadêmica têm se somado ao conjunto dos setores democráticos da sociedade civil ao levantarem suas vozes contra os ataques às minorias, aos movimentos sociais, às áreas da educação, à pesquisa, à cultura e à saúde pública.

Sobre este último tipo de ação governamental, avultam o negacionismo da ciência e os profundos cortes nos investimentos públicos, responsáveis diretos pela crise sanitária sem precedentes que ainda enfrenta o país. Mais de 680 mil vidas de brasileiras e brasileiros, ceifadas pela pandemia de Covid-19, não deixam de ser o mais trágico legado deste retrocesso social e econômico ao qual o país tem sido submetido nos últimos quatro anos deste irresponsável e desastroso governo federal.

A dois meses das eleições de outubro, setores democráticos da sociedade civil se mobilizam, pois a democracia no Brasil está sendo, cotidianamente, atacada por altos dirigentes do atual governo. Não se trata de uma afirmação retórica: a democracia no Brasil está em risco! Neste momento, a comunidade acadêmica da Unicamp, igualmente, não deve se silenciar!

Instituição que, desde sua criação, esteve comprometida com a intransigente defesa dos valores democráticos, a Unicamp repudia quaisquer ações que possam contribuir para a ruptura constitucional e o retrocesso político advindo de mais um golpe de Estado. De forma límpida e definitiva, a comunidade acadêmica se manifesta em defesa da realização de eleições livres e do respeito aos seus resultados.

Ao defendermos, de forma resoluta, a democracia política no país, não podemos deixar de reafirmar nosso compromisso com a efetivação de políticas públicas que, no próximo governo federal, enfrentem as profundas desigualdades sociais e as discriminações de todas as espécies bem como se comprometa com a defesa do ensino público, gratuito e de qualidade no Brasil.

Nós, Professores Eméritos e uma pesquisadora Doutora Honoris Causa da Unicamp, ao encabeçarmos este Manifesto, conclamamos a todo/as os professores, funcionário/as e estudantes de nossa universidade a também assiná-lo.

Antônio Augusto Arantes, professor emérito, IFCH

Antônio Carlos Boschiero, professor emérito, IB

Bernardino Ribeiro de Figueiredo, professor emérito, IG

Carlos Alfredo Joly, professor emérito, IB

Carlos Rodrigues Brandão, professor emérito, IFCH

Carlos Vogt, professor emérito, IEL

Dermeval Saviani, professor emérito, FE

Elza Salvatori Berquó, Doutora Honoris Causa, Nepo-IFCH

Hermano Medeiros Ferreira de Tavares, professor emérito, FEEC

José Mário Martinez Perez, professor emérito, IMECC

Luiz Sérgio Leonardi, professor emérito, FCM

Maria Stella Bresciani, professora emérita, IFCH

Rodolfo Ilari, professor emérito, IEL

Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito, IFGW

 

⇒O site A Terra é redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores. Ajude-nos a manter esta ideia.⇐
Clique aqui e veja como.

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
José Luís Fiori Rubens Pinto Lyra Jorge Branco Lucas Fiaschetti Estevez André Singer Chico Whitaker Antonino Infranca Atilio A. Boron Ronald Rocha Maria Rita Kehl Alysson Leandro Mascaro Osvaldo Coggiola Dênis de Moraes Tales Ab'Sáber Sergio Amadeu da Silveira Igor Felippe Santos Marcos Silva Matheus Silveira de Souza Leda Maria Paulani Michael Roberts Andrew Korybko Jean Marc Von Der Weid Elias Jabbour Airton Paschoa Alexandre de Lima Castro Tranjan Eliziário Andrade José Machado Moita Neto Mariarosaria Fabris Armando Boito Leonardo Sacramento Milton Pinheiro João Sette Whitaker Ferreira Everaldo de Oliveira Andrade Berenice Bento Yuri Martins-Fontes José Costa Júnior Rodrigo de Faria Eugênio Trivinho Paulo Nogueira Batista Jr Gerson Almeida Paulo Fernandes Silveira Francisco Pereira de Farias Ricardo Fabbrini Plínio de Arruda Sampaio Jr. Vanderlei Tenório Afrânio Catani Fernão Pessoa Ramos Slavoj Žižek Boaventura de Sousa Santos Marcelo Módolo Luiz Marques Eduardo Borges Paulo Sérgio Pinheiro Gilberto Maringoni Luiz Roberto Alves Ronaldo Tadeu de Souza Francisco Fernandes Ladeira Marcus Ianoni Fábio Konder Comparato Paulo Martins Manchetômetro Daniel Brazil João Carlos Loebens Luiz Bernardo Pericás Tarso Genro Fernando Nogueira da Costa Luiz Renato Martins Thomas Piketty Ladislau Dowbor José Geraldo Couto Eleonora Albano Annateresa Fabris Remy José Fontana Leonardo Avritzer Bento Prado Jr. Renato Dagnino Liszt Vieira Ricardo Antunes Marilia Pacheco Fiorillo Ari Marcelo Solon Juarez Guimarães João Lanari Bo Dennis Oliveira Eleutério F. S. Prado Vinício Carrilho Martinez Luiz Eduardo Soares Francisco de Oliveira Barros Júnior André Márcio Neves Soares Lincoln Secco Ricardo Abramovay Andrés del Río Bruno Machado Luiz Werneck Vianna Daniel Costa Salem Nasser Antonio Martins Marcos Aurélio da Silva Eugênio Bucci Luciano Nascimento Carlos Tautz Anselm Jappe Antônio Sales Rios Neto Henri Acselrad Valerio Arcary Manuel Domingos Neto Jorge Luiz Souto Maior Ricardo Musse Luis Felipe Miguel João Adolfo Hansen José Raimundo Trindade Julian Rodrigues Benicio Viero Schmidt Lorenzo Vitral Valerio Arcary Sandra Bitencourt Kátia Gerab Baggio Michael Löwy Marjorie C. Marona Bruno Fabricio Alcebino da Silva Claudio Katz Marilena Chauí Flávio Aguiar João Carlos Salles Priscila Figueiredo Flávio R. Kothe Caio Bugiato Érico Andrade José Dirceu Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Carla Teixeira Vladimir Safatle Mário Maestri Daniel Afonso da Silva Luís Fernando Vitagliano Samuel Kilsztajn Alexandre Aragão de Albuquerque Denilson Cordeiro Celso Favaretto Chico Alencar João Feres Júnior Paulo Capel Narvai Leonardo Boff Tadeu Valadares Alexandre de Freitas Barbosa Celso Frederico Heraldo Campos Gilberto Lopes José Micaelson Lacerda Morais João Paulo Ayub Fonseca Bernardo Ricupero Rafael R. Ioris Gabriel Cohn Jean Pierre Chauvin Ronald León Núñez Walnice Nogueira Galvão Henry Burnett Luiz Carlos Bresser-Pereira Marcelo Guimarães Lima Otaviano Helene Michel Goulart da Silva

NOVAS PUBLICAÇÕES