O impacto do auxílio emergencial

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ANDRÉ SINGER*

A consolidação do atual índice de aprovação do presidente irá depender completamente da decisão sobre os rumos da política econômica

Os dados da recente pesquisa do Instituto Datafolha mostram que a aprovação do presidente Jair M. Bolsonaro subiu cinco pontos percentuais. Essa elevação se insere numa tendência já indicada pelos comentaristas atentos às repercussões do pagamento pelo governo do auxílio emergencial. Trata-se de um valor significativo em regiões onde o custo de vida é baixo. São 600 reais, podendo chegar a 1200 reais dependendo se há um ou uma chefe de família na casa.

Tudo indica que o fator que está produzindo o efeito principal na elevação da aprovação ao atual presidente da República é o auxílio emergencial. Alguns dados específicos da pesquisa confirmam isso. No Nordeste, por exemplo, a rejeição caiu de 52% para 35%, uma queda expressiva e se sabe que o Nordeste é uma região na qual o auxílio emergencial é particularmente importante.

Além disso, o Datafolha divulgou, em uma análise de seus diretores, que desses cinco pontos de crescimento (a aprovação subiu de 32% para 37%) três pontos percentuais vieram de trabalhadores informais ou de desempregados com renda familiar mensal de até três salários mínimos, setores que dependem também bastante do auxílio emergencial. Na mesma direção, pode-se observar que a taxa de aprovação do presidente melhorou também entre mulheres de baixa renda.

Cabe notar que houve também um aumento da popularidade presidencial em camadas de renda superior, setor no qual obviamente o auxílio emergencial ou não tem peso ou tem um peso muito restrito. Não dispomos de dados suficientes para explicar esse aumento. Talvez tenha alguma relação com o fato de que desde meados de junho, quando foi preso o ex-PM Fabrício Queiroz, o presidente moderou as suas falas e também algumas atitudes e está transmitindo uma imagem de maior controle. Sobre isso, porém, é necessário aguardar outras pesquisas para saber se é este o fator que efetivamente está influenciando os eleitores das camadas médias.

A consolidação ou não desse índice de aprovação do presidente irá depender completamente da decisão governamental acerca dos rumos da política econômica. Nas últimas semanas tornou-se visível uma divisão dentro do governo. Há aqueles que querem aproveitar esta onda de aprovação maior que o presidente vem tendo para estender o auxílio emergencial e talvez buscar uma saída do auxílio emergencial na direção de um programa com gastos superiores aos do programa Bolsa Família. A questão é que essa alternativa custa muito dinheiro e o governo tem restrições a partir da sua orientação ultraliberal em ampliar o gasto público. Por conta disso surgiram especulações sobre a possível saída do governo do ministro Paulo Guedes.

Não dispomos de indicações suficientes para prever qual decisão irá ser tomada. Se a decisão for favorável a uma mudança da política econômica no sentido de favorecer as camadas de baixa renda, esta aprovação pode se encaminhar na direção de um percurso de consolidação. Caso contrário, é pouco provável que isso aconteça.

*André Singer é professor titular de ciência política na USP. Autor, entre outros livros, de O lulismo em Crise(Companhia das Letras).

Texto estabelecido a partir de entrevista concedida a Gustavo Xavier, na rádio USP.

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Razões para o fim da greve nas Universidade Federaisbancos 16/05/2024 Por TADEU ALENCAR ARRAIS: A nova proposta do Governo Federal anunciada dia 15 de maio merece debate sobre continuar ou não a greve
  • O negacionismo ambiental e a inundação de Porto Alegreporto alegre aeroporto alagado 14/05/2024 Por CARLOS ATÍLIO TODESCHINI: Porto Alegre tem o melhor sistema de proteção contra cheias do Brasil. É considerado um “minissistema holandês”. Por que esse sistema falhou em sua função de evitar que a cidade fosse alagada?
  • A mão de OzaJoao_Carlos_Salles 14/05/2024 Por JOÃO CARLOS SALLES: O dever do Estado brasileiro e a universidade contratada
  • A universidade operacionalMarilena Chauí 2 13/05/2024 Por MARILENA CHAUI: A universidade operacional, em termos universitários, é a expressão mais alta do neoliberalismo
  • Pensar após GazaVladimir Safatle 08/05/2024 Por VLADIMIR SAFATLE: Desumanização, trauma e a filosofia como freio de emergência
  • O cavalo Caramelocavalo caramelo 15/05/2024 Por LEONARDO BOFF: Há que se admitir que nós não temos respeitado os direitos da natureza com seu valor intrínseco, nem posto sob controle nossa voracidade de devastá-la
  • SUS, 36 anos – consolidação e incertezasPaulo Capel Narvai 15/05/2024 Por PAULO CAPEL NARVAI: O SUS não foi o “natimorto” que muitos anteviram. Quase quatro décadas depois, o SUS está institucionalmente consolidado e desenvolveu um notável processo de governança republicana
  • A greve nas universidades e institutos federais não…caminho tempo 17/05/2024 Por GRAÇA DRUCK & LUIZ FILGUEIRAS: As forças de esquerda e democráticas precisam sair da passividade, como que esperando que Lula e o seu governo, bem como o STF resolvam os impasses políticos
  • Por que estamos em greve nas Universidades federais?Gatinho 09/05/2024 Por GRAÇA DRUCK & LUIZ FILGUEIRAS: A greve também busca disputar os fundos públicos com o capital financeiro e forçar o governo a se desvencilhar da tutela desse mesmo capital e de grupos políticos de direita
  • Mentira em massa como performance políticadesprezo imagem falsa 15/05/2024 Por TALES AB´SÁBER: O desprezo por qualquer um que não seja isso: um grupo neofascista mentindo em massa, gozando de toda lei do outro, porque existe

AUTORES

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES