Poder e contrapoder

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ANDRÉ SINGER*

A presença militar no governo e a sua conduta com relação à pandemia

O ministro do STF, Gilmar Mendes, afirmou recentemente: “Não é aceitável que se tenha esse vazio no Ministério da Saúde. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a este genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”.

Evidentemente trata-se de uma declaração muito forte, mas ela é esperada diante dessa situação em que o governo brasileiro está crescentemente militarizado, muitos ministérios importantes da Esplanada ocupados por oficiais das três Forças, sobretudo do Exército. E no caso do Ministério da Saúde por um general da ativa. A conduta do governo brasileiro com relação à pandemia é, no mínimo, controvertida e tem levado o Brasil a ter mais de mil mortes por dia, tendo atingido mais de 75 mil. É o segundo país do mundo em número de óbitos por coronavírus, sendo o primeiro os Estados Unidos, considerados um caso muito ruim de combate à covid-19, para colocar em termos bastante objetivos. À medida que essa situação da pandemia vai se agravando no Brasil, a associação entre o agravamento da crise e a presença de militares no governo certamente será feita.

Se o atual responsável pelo Ministério da Saúde em caráter interino – uma interinidade que já se prolonga – viesse a passar para a reserva, haveria um fato positivo porque eliminaria essa mistura entre a conduta de militares que estão no governo e as Forças Armadas na sua função principal, que é a de defesa do país. Mas mesmo essa possibilidade não resolveria o problema porque a presença maciça de militares em ministérios importantes – e em uma grande proporção, sendo da ativa ou da reserva – cria confusão entre instituições que não deveriam estar misturadas. Do ponto de vista da democracia seria importante que as Forças Armadas não participassem da gestão diária do governo e se concentrassem nas tarefas de defesa externa do país.

*André Singer é professor titular de ciência política na USP. Autor, entre outros livros, de O lulismo em crise (Companhia das Letras).

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • João Cândido e a Revolta da Chibatarevolta da chibata 23/06/2024 Por PETRÔNIO DOMINGUES: No atual contexto, em que tanto se discute reparações do Estado à população negra, o nome de João Cândido não pode ser esquecido
  • O medo e a esperançaJoao_Carlos_Salles 24/06/2024 Por JOÃO CARLOS SALLES: Contra a destruição da universidade pública
  • O colapso do sionismopalestina livre 80 23/06/2024 Por ILAN PAPPÉ: Quer as pessoas acolham a ideia ou a temam, o colapso de Israel tornou-se previsível. Esta possibilidade deve informar a conversa de longo prazo sobre o futuro da região
  • Um olhar sobre a greve das federais de 2024lula haddad 20/06/2024 Por IAEL DE SOUZA: Com alguns meses de governo, comprovou-se o estelionato eleitoral de Lula, acompanhado do seu “fiel escudeiro”, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad
  • Retomar o caminho da esperançafim de tarde 21/06/2024 Por JUAREZ GUIMARÃES & MARILANE TEIXEIRA: Cinco iniciativas que podem permitir às esquerdas e centro-esquerdas brasileiras retomarem o diálogo com a esperança majoritária dos brasileiros
  • Manual teológico do neopentecostalismo neoliberaljesus salva 22/06/2024 Por LEONARDO SACRAMENTO: A teologia transformou-se em coaching ou fomentador da disputa entre trabalhadores no mundo do trabalho
  • Por que estamos em greve?estátua 50g 20/06/2024 Por SERGIO STOCO: Chegamos a uma situação de penúria das instituições de ensino federal
  • Franz Kafka, espírito libertárioFranz Kafka, espírito libertário 13/06/2024 Por MICHAEL LÖWY: Notas por ocasião do centenário da morte do escritor tcheco
  • Sobre a ignorância artificialEugenio Bucci 15/06/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Hoje, a ignorância não é uma casa inabitada, desprovida de ideias, mas uma edificação repleta de baboseiras desarticuladas, uma gosma de densidade pesada que ocupa todos os espaços
  • A sociedade da história mortasala de aula parecida com a da história usp 16/06/2024 Por ANTONIO SIMPLICIO DE ALMEIDA NETO: A disciplina de história foi inserida numa área genérica chamada de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e, por fim, desapareceu no ralo curricular

AUTORES

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES