Profetas do presente

Imagem_Elyeser Szturm
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por José Machado Moita Neto*

Os diagnósticos monotemáticos baseados apenas na realidade atual levarão a apostas inconsequentes no futuro

Não se preocupem que não irei atacar àqueles que consultam irmã Janaina. Não a conheço. Apenas pelas peças de publicitárias (marketing) grudadas nos postes de Teresina onde anuncia os seus serviços (búzios, tarôs, etc.). Creio que a empresária, que eu não saberia identificar o setor econômico, cobra por seus serviços especializados.  É certo que a mesma deva concorrer, pelas certezas e consolo que oferece, com as diversas religiões, com os terapeutas, com os coaching e com os políticos.

O dom da profecia autêntico olha um futuro não previsto pela sociedade em sua mesmice. Os profetas foram solitários em suas ideias, pois falavam de um futuro distante. Raros os casos em que o futuro pode ser preparado e até modificado para que a catástrofe anunciada não acontecesse. Um sonho de sete anos de abundância seguido de sete anos de seca desencadearam ações para mitigar seus efeitos. Agora não precisamos sonhar, pois o conhecimento científico anunciou algumas catástrofes possíveis. Por desleixo, nós não nos preparamos adequadamente para todas elas. E as possibilidades são enormes e variadas!

Estamos diante de um tempo singular em que aumentou muito o número de profetas. São profetas do passado, profetas do presente ou profetas do futuro próximo. Aqui a proximidade se mede como menor que o palmo na frente do nariz. Neste sentido, creio que os serviços empresariais customizados ao gosto do cliente mencionados no primeiro parágrafo tenham uma eficiência bem maior (tipo irmã Janaina). De fato, a profecias que tenho lido são meras reproduções ad nauseam do óbvio. O mundo não será o mesmo ou tudo vai continuar como antes são posturas conhecidas na filosofia e na literatura pelo menos há 2500 anos.

A razão menosprezou o sentido. Talvez esta seja um resumo drástico da acusação de Nietzsche sobre a filosofia grega de Sócrates em diante. Contudo, na pós-modernidade, o sentido colapsa a razão e as várias razões particulares a cada ciência se colapsam mutuamente. Falta-nos um projeto ou uma visão de homem e de sociedade na crise ou na normalidade para os próximos 50 anos. Cenário tão grande assim dependeria de criar resiliência (e não soluções) e de ensinar a adaptabilidade a contextos diferentes para os quais exigirão novas habilidades, competências e atitudes, para o normal e para o extraordinário.

Os diagnósticos monotemáticos baseados apenas na realidade atual levarão a apostas inconsequentes no futuro. A sociedade é cada vez mais complexa e é resultado de sistemas acoplados por todas as dimensões do humano. Qualquer redução nestas dimensões da sociedade para melhor atender um destes sistemas levará no descuido dos demais. E isto pode ser fatal na próxima catástrofe que pode não ser na saúde, mas pode ser sobre as conexões virtuais ou em outro campo. Bastaria um apagão no Amazon Web Services (AWS), ou todos os serviços e aplicativos do Google desconectassem ou um fluxo eletromagnético atípico sobre a terra para criar uma catástrofe na vida 4.0 de nossos profetas da atual crise.

Há vagas para profetas autênticos!

*José Machado Moita Neto é professor aposentado da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Um estudo do caso Ailton Krenak1974__Identidade ignorada 21/07/2024 Por MARIA SILVIA CINTRA MARTINS: Prefiro sonhar com Krenak o parentesco com a natureza e com as pedras do que embarcar na naturalização do genocídio
  • Clarice Lispector no cinemacultura a paixão segundo g.h. 22/07/2024 Por LUCIANA MOLINA: Comentário sobre três adaptações cinematográficas da obra de Clarice Lispector
  • O princípio de autodestruiçãoLeonardo Boff 25/07/2024 Por LEONARDO BOFF: Qual ciência é boa para a transformação mundial?
  • Filosofia da práxis como poiésiscultura lenora de barros 24/07/2024 Por GENILDO FERREIRA DA SILVA & JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUZA: Fazer filosofia é, para o Poética, fazer filosofia contemporânea, crítica e temática
  • Que horas são no relógio de guerra da OTAN?José Luís Fiori 17/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada
  • Apagão digitalSergio Amadeu da Silveira 22/07/2024 Por SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA: A catástrofe algorítmica e a nuvem do “apagão”
  • A disputa de Taiwan e a inovação tecnológica na ChinaChina Flag 20/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: A China já é hoje a líder mundial em 37 das 44 tecnologias consideradas mais importantes para o desenvolvimento econômico e militar do futuro
  • A produção ensaística de Ailton Krenakcultura gotas transp 11/07/2024 Por FILIPE DE FREITAS GONÇALVES: Ao radicalizar sua crítica ao capitalismo, Krenak esquece de que o que está levando o mundo a seu fim é o sistema econômico e social em que vivemos e não nossa separação da natureza
  • A radicalidade da vida estéticacultura 04 20/07/2024 Por AMANDA DE ALMEIDA ROMÃO: O sentido da vida para Contardo Calligaris
  • A questão agrária no Brasil — segundo Octávio IanniJose-Raimundo-Trindade2 19/07/2024 Por JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE: As contribuições de Ianni podem auxiliar a reformular o debate agrário brasileiro, sendo que as obras do autor nos apontam os eixos para se repensar a estrutura fundiária brasileira

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES