Por MARCOS COSTA LIMA*
Apresentação do livro recém-lançado de Rubens Pinto Lyra
Eis que nos chega mais um livro de Rubens Pinto Lyra, Professor Emérito da UFPB, sem favor, um dos cientistas políticos que mais tem contribuído para a teoria política no Brasil. Rubens vem de longa trajetória nessa sua área de atuação e agora publica a coletânea Teoria política: dos clássicos à contemporaneidade, da qual não é apenas organizador, mas autor de metade de seus artigos.
Na primeira parte desse novo livro, Pinto Lyra disserta sobre os clássicos Maquiavel, Hobbes, Locke e Rousseau e na segunda, sobre Marx e Gramsci, além de aprofundar a polêmica entre Lenin e Kautsky sobre o bolchevismo.
Alguns de seus artigos versam sobre o que Ruy Fausto qualifica como “a bruma que envolve a história do movimento socialista no século XX , que é muito mais espessa do que se supõe em geral, e há materiais importantes enterrados sob o peso de mitologias ainda poderosas. Há autores que não se lê, partidos e organizações que não deixaram ou quase não deixaram traços, há acontecimentos quase esquecidos. Mesmo a desmistificação do stalinismo, que começou nos anos vinte e que se impôs nas últimas décadas, teve um papel contraditório. Se ela pôde desmascarar a versão stalinista da história da esquerda no século XX, não deixou de ter ao mesmo tempo um papel de ocultação. Dir-se-ia mesmo que a profissão de fé anti-stalinista se transformou numa garantia de objetividade, sob a qual se ocultam novas lendas”.
A primeira parte do livro acolhe ainda outras contribuições importantes, como a da professora de ciência política da USP, Célia Quirino, cuja tese de doutorado inspira o seu artigo dedicado à Alexis de Tocqueville “Sobre a liberdade e a igualdade”. E também a do professor Alfredo Attié, presidente da Academia Paulista de Direito, autor do artigo sobre Montesquieu e de importante livro desse filósofo do direito, publicado em Portugal.
Na segunda parte da coletânea, que trata do marxismo, além dos trabalhos já referidos do professor Rubens Pinto Lyra, se destaca a contribuição do professor Gabriel Vitullo, da UFRN, no seu estudo sobre “Rosa de Luxemburgo e a questão democrática” e a do professor José Antonio Spinelli que analisa “A contra-hegemonia sob o capitalismo flexível”.
Na terceira parte dessa obra coletiva, dentre os teóricos da contemporaneidade, o professor Ariosvaldo Diniz, da UFPB, nos brinda com o seu “Michel Foucault: o poder e a dispersão”. Nesse sentido, aborda os discursos sobre a conflitualidade violenta, que constitui um fenômeno sintomático de seu contexto cultural, pois, ao criar um clima de medo, de catástrofe e de desordem, termina sendo usado ideológica e politicamente como meio de recompor a harmonia social.
Já a professora Alba Maria Pinho de Carvalho, da Universidade Federal do Ceará, contribui com cuidadosa interpretação do sociólogo e cientista político Boaventura dos Santos sobre a reinvenção da emancipação na contemporaneidade, um dos autores mais lidos hoje no Brasil, no campo das ciências sociais, inteiramente devotado às causas das epistemologias do Sul. É o próprio Boaventura dos Santos que nos diz da urgência em “buscar alternativas à globalização neoliberal e ao capitalismo global, produzidas pelos movimentos sociais e pelas ONG’s, na sua luta contra a exclusão e a discriminação em diferentes domínios sociais e em diferentes países”.
A terceira parte da coletânea em questão se completa com o estudo de Rubens Pinto Lyra sobre o renomado jurista e filósofo Norberto Bobbio e o de Vileni Garcia sobre Jürgen Habermas. Este, com toda a certeza, é um livro importante para a ciência política e em especial para a teoria política, seja pela qualidade intelectual de Rubens Pinto Lyra, seja pela companhia de renomados autores. É tempo de refletirmos sobre os impasses da contemporaneidade e os imensos desafios que ela nos oferece.
*Marcos Costa Lima é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Referência
Rubens Pinto Lyra (org.). Teoria política: dos clássicos à contemporaneidade. João Pessoa, Editora do CCTA-UFPB, 2022. 406 págs.