A teoria da acumulação de Rosa Luxemburgo e o SPD

Magnus Thierfelder Tzotzis, 2019, Instalação com água
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por JULIAN RODRIGUES*

Considerações acerca do artigo de Rosa Rosa Gomes

Acredito que qualquer comentário sobre a reflexão de Rosa Rosa Gomes deve se iniciar com uma saudação – reconhecimento. Não é pouca coisa hodiernamente optar por tratar de temas clássicos, complexos, polêmicos e caros à melhor tradição marxista – tão vilipendiada nessas últimas três ou quatro décadas de neoliberopósmodernex.

E já que é para causar, Rosa Rosa causou. A historiadora-assistente de conservação e restauro, doutoranda pela USP, mete sua colher em nada menos do que na espinhosa [canônica] polêmica Rosa Luxemburgo x Vladimir Lênin acerca da teoria do imperialismo.

As e os iniciados sabem da vigorosa fortuna crítica sobre a vida e obra da espartaquista. Aparentemente, predomina uma espécie de acordo tácito que separa a biografia extraordinária da dirigente política de sua obra teórica (ou pelo menos de seus escritos econômicos).

É meio que estabelecido reconhecer que Rosa Luxemburgo errou ao atribuir os problemas do capitalismo à falta de consumidores, ignorando a questão da produção – na esfera da circulação, portanto.

Gomes discorda da ideia de que Rosa (sua célebre homônima) era boa de política mas ruim de economia – propõe uma abordagem unificada.

À guisa de estabelecer um contexto, a autora faz sintético panorama da história alemã entre o final do XIX e início do século XX. Ficamos sabendo que a edição original da Acumulação, em 1913, foi de 2.000 exemplares – reparem que obra tem 600 páginas [a tiragem média de livros no Brasil, hoje, é a mesma].

Particularmente instigante é o chamado que nossa Rosa faz à Caio Prado Júnior propondo uma dança de aproximação com a história brasileira; é quando articula tudo com a visão sobre o imperialismo presente na obra da outra Rosa – a polonesa.

Atualíssimo também é o registro dos embates ocorridos no Partido Social Democrata Alemão no início do século passado, em especial (para além da conhecida polêmica sobre Primeira Guerra), os debates relacionados à posição do Partido acerca das relações entre capitalismo, colonialismo, imperialismo e militarismo.

O final do paper é o ponto fraco do trabalho, na minha opinião. Entusiasmada pela tentação de estabelecer paralelos entre o SPD e o PT, Gomes, apesar de reconhecer que “Brazil and Germany are very different countries”, sai a proferir julgamentos sumários, e, com sinceridade: bem superficiais – toscos, mesmos. Aliás, totalmente descolados do que foi escrito antes – um salto acrobático.

Quando a perspicaz autora começa a manejar clichês como “conciliação” e culpar a burocracia pela perda do espírito puro e revolucionário do SPD e do PT (que não tinha entrado na história!) fui tomado por sentimentos de tristeza, decepção e indignação.

Estava respirando, relativizando. Afinal, o antipetismo é uma força que se constitui à direita e à esquerda. Há toda uma geração de gente boa que nem conhece o PT direito, nem milita de fato em algum lugar. E cede ao senso comum –seja o da Globo seja o esquerdista.

Mas, não deu para terminar a leitura em paz. Tive que ler o seguinte: “in a country with a past permeated by slavery and in a subdued position in the world, the improvements PT achieved for the poorest were enough to make the middle and upper-middle classes lose their temper when facing budget shortages. When the time came, PT did not choose the side of the workers, but rather chose the side of order”.

O PT não escolheu o lado dos trabalhadores?? Rosa deveria dizer isso ao Lula que ficou 580 dias preso. E à Dilma que foi arrancada da presidência. Esse finalzinho podia ser extirpado do artigo. Se eu fosse a Rosa faria um outro artigo só sobre o PT e tentaria embasar melhor, teórica e praticamente tais juízos peremptórios, sectários e superficiais.

*Julian Rodrigues, professor e jornalista, é ativista do movimento LGBTI e de direitos humanos; milita no PT desde 1989.

 

Referência


Rosa Rosa Gomes. Rosa Luxemburg’s Accumulation Theory and the SPD A Peripheral Perspective [A teoria da acumulação de Rosa Luxemburgo e o SPD: uma perspectiva periférica].

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Heraldo Campos Paulo Capel Narvai Leonardo Avritzer Elias Jabbour Eugênio Bucci Ronald León Núñez Luís Fernando Vitagliano Lorenzo Vitral Marcos Aurélio da Silva Leda Maria Paulani Liszt Vieira Jean Marc Von Der Weid Marcelo Guimarães Lima Andrew Korybko Eduardo Borges Atilio A. Boron Julian Rodrigues Luis Felipe Miguel João Lanari Bo Francisco Fernandes Ladeira Caio Bugiato Eleonora Albano Francisco Pereira de Farias José Dirceu Manchetômetro Eliziário Andrade Anselm Jappe Ricardo Abramovay Fernando Nogueira da Costa Chico Whitaker Andrés del Río José Raimundo Trindade Paulo Nogueira Batista Jr Eleutério F. S. Prado Luiz Roberto Alves Luiz Carlos Bresser-Pereira Daniel Costa Manuel Domingos Neto Otaviano Helene Luciano Nascimento Ronaldo Tadeu de Souza Gabriel Cohn Anderson Alves Esteves Rubens Pinto Lyra Vanderlei Tenório Bruno Fabricio Alcebino da Silva Ricardo Antunes Flávio Aguiar Tarso Genro Matheus Silveira de Souza Valerio Arcary Marjorie C. Marona Daniel Afonso da Silva Alexandre Aragão de Albuquerque Osvaldo Coggiola Michel Goulart da Silva Leonardo Sacramento José Micaelson Lacerda Morais Antônio Sales Rios Neto Alexandre de Lima Castro Tranjan Denilson Cordeiro João Carlos Loebens Alexandre de Freitas Barbosa João Adolfo Hansen Yuri Martins-Fontes Gilberto Lopes Renato Dagnino Priscila Figueiredo Fábio Konder Comparato Marcelo Módolo Bernardo Ricupero Benicio Viero Schmidt José Geraldo Couto Bento Prado Jr. Everaldo de Oliveira Andrade Claudio Katz Dennis Oliveira Carla Teixeira Jean Pierre Chauvin Antonio Martins André Singer Slavoj Žižek Celso Favaretto José Machado Moita Neto Paulo Fernandes Silveira José Luís Fiori Rodrigo de Faria Airton Paschoa Mariarosaria Fabris Maria Rita Kehl Marcos Silva Carlos Tautz Afrânio Catani Gerson Almeida Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Francisco de Oliveira Barros Júnior Plínio de Arruda Sampaio Jr. Michael Löwy Henry Burnett Ronald Rocha Gilberto Maringoni Luiz Marques Marcus Ianoni Berenice Bento Daniel Brazil Bruno Machado Juarez Guimarães Tadeu Valadares Eugênio Trivinho Leonardo Boff Fernão Pessoa Ramos Rafael R. Ioris Jorge Branco Annateresa Fabris Vladimir Safatle João Paulo Ayub Fonseca Kátia Gerab Baggio Alysson Leandro Mascaro Lucas Fiaschetti Estevez Sergio Amadeu da Silveira Luiz Werneck Vianna Walnice Nogueira Galvão Salem Nasser Chico Alencar José Costa Júnior Lincoln Secco Marilena Chauí Milton Pinheiro Luiz Eduardo Soares Celso Frederico Érico Andrade Vinício Carrilho Martinez Ricardo Fabbrini Igor Felippe Santos Ari Marcelo Solon Remy José Fontana Marilia Pacheco Fiorillo Ladislau Dowbor Thomas Piketty Mário Maestri Antonino Infranca Tales Ab'Sáber João Feres Júnior Sandra Bitencourt Jorge Luiz Souto Maior André Márcio Neves Soares Samuel Kilsztajn Armando Boito Ricardo Musse Michael Roberts Luiz Renato Martins Paulo Martins Boaventura de Sousa Santos João Carlos Salles Henri Acselrad Paulo Sérgio Pinheiro Luiz Bernardo Pericás Flávio R. Kothe Dênis de Moraes João Sette Whitaker Ferreira

NOVAS PUBLICAÇÕES