Lula terá facilidade no Congresso?

Imagem: Magali Magalhães
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BRUNO MACHADO*

Lula e o PT têm tudo para ter boa governabilidade em sua inclinação à centro-direita

A elite econômica demonstrou seu apoio a Lula contra Jair Bolsonaro com a subida da bolsa e a queda do dólar no primeiro dia após a vitória de Lula. Além disso, o mesmo Judiciário – que demonstra agir por pressão da mídia e do mercado, que são controlados pela elite econômica – e que deu aval ao impeachment de Dilma em 2015 e a prisão de Lula em 2017 anulou em 2021 os processos claramente ilegais da Lava Jato contra Lula desde 2013. Para completar, ideólogos do liberalismo no Brasil, representantes intelectuais da elite nacional, declararam voto em Lula nessas eleições de 2022. E, por fim, a mídia oligopolista que perseguiu Lula desde seu surgimento na política nacional demonstrou simpatia por sua candidatura na chapa com Geraldo Alckmin, e atacou muito agressivamente Jair Bolsonaro desde 2020.

Com esse apoio da maior parte da elite nacional, observado formalmente na chapa com Geraldo Alckmin mas verificável também na mudança de posicionamento do Judiciário e da mídia (o chamada quarto poder), o PT provavelmente se moverá da centro-esquerda à centro-direita, substituindo o espaço deixado pelo quase falecido PSDB. Como a estratégia política do PT tem se dado pela busca por vitórias eleitorais e alianças com a elite econômica, dificilmente o partido abrirá mão da enorme aliança que conseguiu firmar nessas eleições e a grande possibilidade de vencer muitas próximas eleições presidenciais.

É fato que as eleições parlamentares desse ano elegeram uma quantidade recorde de bolsonaristas e isso fez com que houvesse uma preocupação com a governabilidade de Lula no seu terceiro mandato. Entretanto, engana-se quem pensa que o Congresso vota de acordo com ideologia política. O Congresso brasileiro historicamente vota de acordo com as verbas liberadas pelo governo federal para investimentos em seus redutos eleitorais e de acordo com a vontade da elite econômica nacional, que está com Lula em 2022. Portanto, a governabilidade desse governo Lula com esse parlamento bolsonarista não será muito diferente da governabilidade com o Centrão dos governos petistas do passado.

Essa parcela do Congresso que ganhou as eleições pela via do bolsonarismo representa uma parcela menos rica e mais criminosa da elite nacional. Entretanto, a disputa pelo poder econômico, que determina os votos da direita no Congresso, sempre é vencida por quem tem mais dinheiro. Por isso, o bolsonarismo no parlamento formará um novo centrão e representará a elite nacional que tentará ter o PT como seu novo PSDB. Os parlamentares que surfaram na onda bolsonarista buscarão suas eleições fazendo acordos para levar verba para seus municípios e agradar seus eleitores ao mesmo tempo em que buscarão ser úteis à elite econômica que determina os rumos de seus partidos sendo seus representantes no Congresso, como sempre fizeram os parlamentares da direita.

O bolsonarismo como movimento neofascista precisou de uma crise econômica e social para ter popularidade nas urnas. Crise essa que veio com a queda dos preços das commodities no governo Dilma Rousseff e com a Lava Jato impulsionada pela mídia. Sem esse cenário externo, já que o preço das commodities voltou a patamares altos, e sem o cenário interno de terrorismo moral da mídia oligopolista, que nesse momento nutre simpatia por Lula-Alckmin, o bolsonarismo – que é um movimento neofascista – tende a perder popularidade.

Além disso, a viabilização material de um governo fascista depende do apoio da elite econômica, já que o fascismo defende os interesses do capital e não o interesse dos trabalhadores. Esse apoio era representado por Paulo Guedes, Ricardo Salles e pela euforia dos mercados financeiros com Bolsonaro. Entretanto, atualmente, tal apoio da elite só existe na parcela minoritária e atrasada dessa elite econômica, que é subordinada financeiramente a elite econômica ligada aos bancos e ao agronegócio, que já aderiram ao governo Lula-Alckmin e abandonaram o navio do bolsonarismo onde haviam embarcado sorrateiramente em 2018.

Com isso, desde que não traia seus controversos aliados atuais, Lula e o PT têm tudo para ter boa governabilidade em sua inclinação à centro-direita. E o bolsonarismo, que vai além de Jair Bolsonaro, tem tudo para se enfraquecer e desaparecer tanto no parlamento quanto nas ruas. É muito provável, portanto, que em 2026 já não haja um candidato bolsonarista a presidência com mais de 15% das intenções de voto, e assim sendo, a democracia brasileira volte à normalidade, abrindo espaço para novas forças políticas que sejam democráticas e republicanas.

*Bruno Machado é engenheiro.

O site A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores. Ajude-nos a manter esta ideia.
Clique aqui e veja como

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Flávio Aguiar Tadeu Valadares Plínio de Arruda Sampaio Jr. Priscila Figueiredo Luiz Eduardo Soares Mário Maestri Maria Rita Kehl Marcelo Módolo Tales Ab'Sáber Eugênio Trivinho Armando Boito Marcos Aurélio da Silva Alexandre Juliete Rosa Michael Löwy Ronald León Núñez Sergio Amadeu da Silveira Tarso Genro Jorge Branco Daniel Afonso da Silva Ricardo Fabbrini Francisco de Oliveira Barros Júnior Ari Marcelo Solon Yuri Martins-Fontes Marjorie C. Marona Paulo Fernandes Silveira Marilia Pacheco Fiorillo Luiz Werneck Vianna Airton Paschoa Atilio A. Boron Carla Teixeira Marcos Silva Ronald Rocha Renato Dagnino Eleonora Albano Lucas Fiaschetti Estevez Leonardo Sacramento Jorge Luiz Souto Maior Eliziário Andrade Manchetômetro Andrés del Río José Costa Júnior João Feres Júnior Slavoj Žižek Dennis Oliveira Caio Bugiato Jean Pierre Chauvin Remy José Fontana Bento Prado Jr. João Paulo Ayub Fonseca Daniel Costa Alexandre de Freitas Barbosa Henry Burnett Gerson Almeida Boaventura de Sousa Santos Eleutério F. S. Prado Marcelo Guimarães Lima Ricardo Musse Vladimir Safatle Luciano Nascimento João Lanari Bo Francisco Pereira de Farias Anselm Jappe Gabriel Cohn Igor Felippe Santos Everaldo de Oliveira Andrade José Micaelson Lacerda Morais José Luís Fiori Valerio Arcary Kátia Gerab Baggio Paulo Capel Narvai Rafael R. Ioris Luis Felipe Miguel Daniel Brazil Flávio R. Kothe Alysson Leandro Mascaro Matheus Silveira de Souza Andrew Korybko Érico Andrade Michel Goulart da Silva Antonio Martins Bernardo Ricupero Alexandre Aragão de Albuquerque André Singer Otaviano Helene Afrânio Catani Chico Whitaker Ronaldo Tadeu de Souza José Geraldo Couto José Dirceu Luiz Bernardo Pericás Leonardo Boff Marilena Chauí Henri Acselrad Fernão Pessoa Ramos Celso Favaretto Alexandre de Lima Castro Tranjan Carlos Tautz Marcus Ianoni Antônio Sales Rios Neto Rodrigo de Faria Lorenzo Vitral Dênis de Moraes Fernando Nogueira da Costa Luiz Renato Martins Eugênio Bucci Michael Roberts João Carlos Loebens Annateresa Fabris Leonardo Avritzer Juarez Guimarães Salem Nasser Julian Rodrigues João Sette Whitaker Ferreira Antonino Infranca Ladislau Dowbor Thomas Piketty Lincoln Secco Ricardo Abramovay Berenice Bento Luiz Marques Gilberto Maringoni João Carlos Salles Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Luís Fernando Vitagliano Sandra Bitencourt Leda Maria Paulani Osvaldo Coggiola Walnice Nogueira Galvão Bruno Machado Bruno Fabricio Alcebino da Silva Elias Jabbour Mariarosaria Fabris Eduardo Borges André Márcio Neves Soares Heraldo Campos Jean Marc Von Der Weid Vanderlei Tenório Celso Frederico Benicio Viero Schmidt Samuel Kilsztajn Manuel Domingos Neto Rubens Pinto Lyra João Adolfo Hansen Paulo Nogueira Batista Jr Paulo Sérgio Pinheiro Fábio Konder Comparato Luiz Roberto Alves Denilson Cordeiro Liszt Vieira Luiz Carlos Bresser-Pereira Milton Pinheiro Paulo Martins Francisco Fernandes Ladeira Claudio Katz Chico Alencar José Raimundo Trindade Vinício Carrilho Martinez Gilberto Lopes José Machado Moita Neto Ricardo Antunes

NOVAS PUBLICAÇÕES