Por BRUNO MACHADO*
Lula e o PT têm tudo para ter boa governabilidade em sua inclinação à centro-direita
A elite econômica demonstrou seu apoio a Lula contra Jair Bolsonaro com a subida da bolsa e a queda do dólar no primeiro dia após a vitória de Lula. Além disso, o mesmo Judiciário – que demonstra agir por pressão da mídia e do mercado, que são controlados pela elite econômica – e que deu aval ao impeachment de Dilma em 2015 e a prisão de Lula em 2017 anulou em 2021 os processos claramente ilegais da Lava Jato contra Lula desde 2013. Para completar, ideólogos do liberalismo no Brasil, representantes intelectuais da elite nacional, declararam voto em Lula nessas eleições de 2022. E, por fim, a mídia oligopolista que perseguiu Lula desde seu surgimento na política nacional demonstrou simpatia por sua candidatura na chapa com Geraldo Alckmin, e atacou muito agressivamente Jair Bolsonaro desde 2020.
Com esse apoio da maior parte da elite nacional, observado formalmente na chapa com Geraldo Alckmin mas verificável também na mudança de posicionamento do Judiciário e da mídia (o chamada quarto poder), o PT provavelmente se moverá da centro-esquerda à centro-direita, substituindo o espaço deixado pelo quase falecido PSDB. Como a estratégia política do PT tem se dado pela busca por vitórias eleitorais e alianças com a elite econômica, dificilmente o partido abrirá mão da enorme aliança que conseguiu firmar nessas eleições e a grande possibilidade de vencer muitas próximas eleições presidenciais.
É fato que as eleições parlamentares desse ano elegeram uma quantidade recorde de bolsonaristas e isso fez com que houvesse uma preocupação com a governabilidade de Lula no seu terceiro mandato. Entretanto, engana-se quem pensa que o Congresso vota de acordo com ideologia política. O Congresso brasileiro historicamente vota de acordo com as verbas liberadas pelo governo federal para investimentos em seus redutos eleitorais e de acordo com a vontade da elite econômica nacional, que está com Lula em 2022. Portanto, a governabilidade desse governo Lula com esse parlamento bolsonarista não será muito diferente da governabilidade com o Centrão dos governos petistas do passado.
Essa parcela do Congresso que ganhou as eleições pela via do bolsonarismo representa uma parcela menos rica e mais criminosa da elite nacional. Entretanto, a disputa pelo poder econômico, que determina os votos da direita no Congresso, sempre é vencida por quem tem mais dinheiro. Por isso, o bolsonarismo no parlamento formará um novo centrão e representará a elite nacional que tentará ter o PT como seu novo PSDB. Os parlamentares que surfaram na onda bolsonarista buscarão suas eleições fazendo acordos para levar verba para seus municípios e agradar seus eleitores ao mesmo tempo em que buscarão ser úteis à elite econômica que determina os rumos de seus partidos sendo seus representantes no Congresso, como sempre fizeram os parlamentares da direita.
O bolsonarismo como movimento neofascista precisou de uma crise econômica e social para ter popularidade nas urnas. Crise essa que veio com a queda dos preços das commodities no governo Dilma Rousseff e com a Lava Jato impulsionada pela mídia. Sem esse cenário externo, já que o preço das commodities voltou a patamares altos, e sem o cenário interno de terrorismo moral da mídia oligopolista, que nesse momento nutre simpatia por Lula-Alckmin, o bolsonarismo – que é um movimento neofascista – tende a perder popularidade.
Além disso, a viabilização material de um governo fascista depende do apoio da elite econômica, já que o fascismo defende os interesses do capital e não o interesse dos trabalhadores. Esse apoio era representado por Paulo Guedes, Ricardo Salles e pela euforia dos mercados financeiros com Bolsonaro. Entretanto, atualmente, tal apoio da elite só existe na parcela minoritária e atrasada dessa elite econômica, que é subordinada financeiramente a elite econômica ligada aos bancos e ao agronegócio, que já aderiram ao governo Lula-Alckmin e abandonaram o navio do bolsonarismo onde haviam embarcado sorrateiramente em 2018.
Com isso, desde que não traia seus controversos aliados atuais, Lula e o PT têm tudo para ter boa governabilidade em sua inclinação à centro-direita. E o bolsonarismo, que vai além de Jair Bolsonaro, tem tudo para se enfraquecer e desaparecer tanto no parlamento quanto nas ruas. É muito provável, portanto, que em 2026 já não haja um candidato bolsonarista a presidência com mais de 15% das intenções de voto, e assim sendo, a democracia brasileira volte à normalidade, abrindo espaço para novas forças políticas que sejam democráticas e republicanas.
*Bruno Machado é engenheiro.
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