Disparidade mundial entre riquezas

Imagem: Pille Kirsi
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Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA*

As grandes diferenças nos níveis médios de riqueza entre os países são reforçadas pela elevada desigualdade de riqueza dentro das nações

Uma perspectiva global sobre a disparidade de riqueza por adulto entre países e regiões é apresentada pelo Mapa Mundial da Riqueza, apresentado no Global Wealth Report 2023 do Credit Suisse/UBS. As nações com elevada riqueza por adulto (acima de 100.000 dólares) estão concentradas na América do Norte, na Europa Ocidental e nas partes mais ricas da Ásia Oriental, do Pacífico e do Médio Oriente, com uma “pitada de postos avançados” nos paraísos fiscais.

A China e a Rússia são membros centrais do grupo de países de “riqueza intermediária”, com uma riqueza média por adulto na faixa dos 25.000 a 100.000 dólares americanos. Este grupo também inclui os membros mais recentes da União Europeia e importantes economias de mercados emergentes na América Latina – entre as quais a brasileira, tendo ultrapassado o limiar do grupo intermediário em 2022 –, no Oriente Médio e no Leste Asiático.

Abaixo, na faixa de 5.000 a 25.000 dólares por adulto (“riqueza fronteiriça com pobreza”), está um grupo heterogêneo, abrangendo países densamente povoados como a Índia, a Indonésia e as Filipinas, além de muitos países da América do Sul e muitas das nações costeiras de África. Os países asiáticos, embora em rápido desenvolvimento, como o Camboja, o Laos e o Vietnã, ainda se enquadram aí.

Os países com riqueza média inferior a 5.000 dólares americanos constituem o grupo mais pobre. Predominam países da África Central.

A América do Norte e a Europa, em conjunto, contabilizaram 56% da riqueza total das famílias, embora possuam apenas 16% da população adulta (acima de 20 anos) mundial no total de 5,4 bilhões em 2022. A percentagem de riqueza na região Ásia-Pacífico (excluindo a Índia, mas incluindo a China) é bastante semelhante à sua percentagem de adultos. Mas a proporção da população adulta é mais do dobro da proporção da riqueza total das famílias na América Latina, cinco vezes a proporção da riqueza na Índia e dez vezes a proporção da riqueza em África.

No ranking por riqueza média entre os 60 mercados com a maior riqueza total, excluindo países com populações menores como a do Mônaco, a Suíça lidera novamente a lista com uma riqueza média por adulto de US$ 685.230. Os Estados Unidos (US$ 551.350) estão em segundo lugar, ligeiramente acima de Hong Kong (US$ 551.190) e este à frente da Austrália (US$ 496.820).

Existe então uma lacuna substancial, antes de surgir um conjunto de países (Dinamarca, Nova Zelândia, Noruega, Singapura, Canadá, Países Baixos e Bélgica), todos com riqueza por adulto entre 350.000 e 410.000 dólares.

A riqueza média é obtida dividindo a riqueza agregada total pelo número de adultos. A riqueza mediana divide a distribuição da riqueza em dois grupos iguais, onde metade dos adultos tem riqueza acima dela e a outra metade abaixo.

A classificação pela riqueza mediana favorece os mercados com níveis mais baixos de desigualdade de riqueza e resulta em uma lista diferente. A Suíça (US$ 167.350) fica em sexto lugar, de acordo com este critério, enquanto os Estados Unidos (US$ 107.740) caem para o décimo terceiro lugar.

A queda da riqueza financeira (ações) diante da riqueza não financeira (imóveis) nos Estados Unidos, em 2022, levou a riqueza mediana aumentar, enquanto a riqueza média caía. Nesse ano, a Bélgica (US$ 249.940) ultrapassou a Austrália (US$ 247.450) no topo dessa classificação.

A Bélgica, a Espanha, a Itália e o Japão estão entre os mercados com uma classificação mais elevada no critério de riqueza mediana em comparação com a riqueza média, enquanto os Estados Unidos, a Suécia e a Alemanha têm uma classificação inferior. Aqueles são mais igualitários, estes são menos…

As grandes diferenças nos níveis médios de riqueza entre os países são reforçadas pela elevada desigualdade de riqueza dentro das nações. A Pirâmide da Riqueza, apresentada no Global Wealth Report 2023 do Credit Suisse/UBS, resume a distribuição da riqueza entre os adultos em todo o mundo. Uma grande base de detentores de baixa riqueza sustenta os níveis mais elevados, ocupados por cada vez menos adultos.

Segundo a estimativa, 2,8 bilhões de indivíduos – 53% de todos os adultos no mundo – tinham uma riqueza inferior a 10.000 dólares em 2022. Acumulavam US$ 5,3 trilhões, apenas 1,2% do total.

O segmento seguinte abrangia aqueles com riqueza média na faixa de 10.000 a 100.000 dólares. Registrou o maior aumento nos números de adultos deste século, passando de 503 milhões em 2000 para 1,8 bilhão em meados de 2022.

Refletiu a crescente prosperidade das economias emergentes, especialmente a da China, e a expansão da classe média no mundo em desenvolvimento. A riqueza média deste grupo é de 33.573 dólares ou cerca de 40% do nível de riqueza média mundial. Os ativos totais de US$ 61,9 trilhões (13,6%) proporcionam a este segmento como um todo oferecer uma alavancagem econômica considerável.

O segmento médio-alto, com uma riqueza variante entre 100.000 e 1 milhão de dólares, também triplicou de tamanho neste século, passando de 208 milhões para 642 milhões de adultos. Os membros deste grupo possuíam ativos líquidos totalizando US$ 178,9 trilhões ou 39,4% da riqueza global, percentual mais de três vezes a sua percentagem da população adulta (12%). A classe média rica nos países desenvolvidos, geralmente, pertencia a esse grupo.

Acima deles, o nível superior de indivíduos com elevado patrimônio líquido (HNW), ou seja, milionários em dólares americanos, permaneceu relativamente pequeno em tamanho, totalizando 59,4 milhões ou 1,1% de todos os adultos. Esse percentual foi alcançado em 2020 e mantido, embora o número absoluto tenha caído 3,5 milhões em 2022.

Em termos de propriedade de riqueza, o grupo HNW é cada vez mais dominante. A riqueza agregada dos HNW quintuplicou no século corrente, passando de US$ 41,4 trilhões em 2000 para US$ 208,3 trilhões em 2022. A sua percentagem na riqueza global (US$ 454,4 trilhões) aumentou de 35% para 46% durante o mesmo período.

As propriedades das camadas da pirâmide da riqueza é bastante distinta em termos de residência e demais componentes de riqueza.

Nas economias avançadas, cerca de 30% dos adultos enquadram-se no nível base. Para a maioria deles, a passagem é transitória – por exemplo, devido a perdas empresariais ou desemprego – ou devida à fase do ciclo de vida associada à juventude ou à velhice. Em contraste, em países de rendimentos mais baixos, mais de 80% da população adulta enquadra-se nesta primeira faixa de riqueza – e a permanência vitalícia nela costuma ser a norma.

A principal característica dos dois segmentos intermediários da pirâmide é o domínio dos chineses. Representam 36% do total de membros, em comparação com 10% da Índia, 7% da América Latina e apenas 4% de África. Somam 57%.

A representação regional é ainda mais distorcida entre os milionários, onde 42% de todos os membros residem na América do Norte, 27% na Europa e 17% na Ásia-Pacífico (excluindo China e Índia). Em nítido contraste com a base da Pirâmide da Riqueza, caracterizada por uma grande variedade de pessoas de todos os países e de todas as fases do ciclo de vida, os indivíduos HNW estão fortemente concentrados em regiões e países específicos e têm estilos de vida semelhantes.

Participam nos mesmos mercados globais de bens de luxo, férias e oportunidades de educação para os seus filhos, mesmo quando residem em continentes diferentes. As carteiras de riqueza desses indivíduos HNW também são mais semelhantes, com destaque para ativos financeiros, particularmente ações, além de obrigações e outros títulos negociados em mercados internacionais.

Uma pessoa precisava possuir 8.654 dólares em ativos líquidos para estar entre a metade mais rica dos cidadãos mundiais no fim de 2022. No entanto, eram necessários 137.333 dólares para pertencer aos 10% mais ricos do mundo e 1.081.342 dólares para participar do 1% mais rico. O requisito de riqueza mínima, em 2021, era de US$ 1.152.602, logo, o limite para entrar neste grupo de elite caiu.

O rápido crescimento da riqueza nos mercados emergentes é a razão pela qual a desigualdade da riqueza global diminuiu neste século através da redução da desigualdade entre países. A riqueza mediana está aumentando mais rapidamente diante da riqueza média. Mas tamanha desigualdade social ainda é absurda!

O Relatório Mundial da Desigualdade de 2022 também apresenta um mapeamento da iniquidade: os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza e 52% da renda, enquanto metade da população mundial fica com apenas 2% da riqueza e 8,5% da renda. Só.

*Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de Brasil dos bancos (EDUSP). [https://amzn.to/3r9xVNh]


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