Por AIRTON PASCHOA*
Uma peça curta
amante
me fala dos homens que você teve e tiveram você
me fala do corpo deles da parte que mais gostava
me fala dos sofás das camas dos carros
me fala das sessões da tarde
sempre tão sôfregas
das sessões de fim de noite
da fadiga do dia nebulosas
me fala do descanso depois
vocês fumavam? cochilavam? cochichavam?
tomavam banho juntos? eles te lavavam? você os lavava?
brincavam no chuveiro? na banheira?
me fala dos seus urros e murros de gozo
você soluçava? eles riam? morriam?
me fala de como você se arrumava pra eles
o cabelo descortinando a orelha
a pérola que daria gosto mordiscar
prevendo os avanços e rodeios à vertigem do monte
antes da queda
me fala de como insinuava o colo de perder de vista
os seios sanguessugas em flor
a costa em ladeira e fogueira
me fala de como te dava água nos lábios só de imaginar
as mãos te rancando rasgando enrolando engasgando
a pecinha preciosa
amorosamente escolhida
a renda preta cedendo à renda escura
o rosa vivo evocando o rosa ávido
me fala o que te pediam ao pé do ouvido e
você não negava
de como te dava água na boca só de lembrar
de como te dava água nos lábios só de pensar de novo
se entregando se abandonando se agarrando à raiz deles
me fala
só assim na pele deles na tua
nudez desamparada
amparado
só assim vou poder me perdoar te perdoar nos perdoar
as voltas que não voltamos
*Airton Paschoa é escritor. Autor, entre outros livros, de Azul vão (e-galáxia, 2022) [https://amzn.to/3MT2rSN]
Por AIRTON PASCHOA*
Uma peça curta
amante
me fala dos homens que você teve e tiveram você
me fala do corpo deles da parte que mais gostava
me fala dos sofás das camas dos carros
me fala das sessões da tarde
sempre tão sôfregas
das sessões de fim de noite
da fadiga do dia nebulosas
me fala do descanso depois
vocês fumavam? cochilavam? cochichavam?
tomavam banho juntos? eles te lavavam? você os lavava?
brincavam no chuveiro? na banheira?
me fala dos seus urros e murros de gozo
você soluçava? eles riam? morriam?
me fala de como você se arrumava pra eles
o cabelo descortinando a orelha
a pérola que daria gosto mordiscar
prevendo os avanços e rodeios à vertigem do monte
antes da queda
me fala de como insinuava o colo de perder de vista
os seios sanguessugas em flor
a costa em ladeira e fogueira
me fala de como te dava água nos lábios só de imaginar
as mãos te rancando rasgando enrolando engasgando
a pecinha preciosa
amorosamente escolhida
a renda preta cedendo à renda escura
o rosa vivo evocando o rosa ávido
me fala o que te pediam ao pé do ouvido e
você não negava
de como te dava água na boca só de lembrar
de como te dava água nos lábios só de pensar de novo
se entregando se abandonando se agarrando à raiz deles
me fala
só assim na pele deles na tua
nudez desamparada
amparado
só assim vou poder me perdoar te perdoar nos perdoar
as voltas que não voltamos
*Airton Paschoa é escritor. Autor, entre outros livros, de Azul vão (e-galáxia, 2022) [https://amzn.to/3MT2rSN]