A biopolítica do ultraimperialismo

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Por LUIS EUSTÁQUIO SOARES*

O conceito de ultraimperialismo descreve a hegemonia norte-americana como um sistema que transcende o controle econômico para colonizar o inconsciente, manipulando o desejo e fragmentando a resistência social

Imperialismo e terraplanismo

Na atual época do Ocidente terraplanista mais do que nunca é indispensável compreender a importância irrecusável da negação da negação, relativamente ao sistema imperialista, que defino como o colonialismo na era do capitalismo mundial integrado, sendo que a sua versão dominante, a estadunidense, tem como principal “colônia” o inconsciente e com este o desejo deslocado da economia política e, portanto, das relações sociais de produção.

É, pois, a total negação do mundo que domina no contemporâneo. Trata-se de um tipo especial de servidão voluntária, para lembrar o título de uma obra de Étienne de La Boétie, autor de Discurso sobre a servidão voluntária, porque se expressa como representação sem lastro algum na realidade, como ficção, como cinema total; irrealidade total, irracionalismo total; e, nesse contexto como racismo total contra a realidade humana e natural.

Desde seus primeiros formuladores como John Hobson, de Imperialism: a study (1992), seguido por Rodolph Hilferding de O capital financeiro(1910), assim como Rosa Luxemburgo de A acumulação do capital (1913), Karl Kautsky de “Ultraimperialismo” (1914) e Vladímir Lênin de Imperialismo: etapa final do capitalismo (1916), não obstante as significativas diferenças interpretativas, um consenso estava pressuposto no que tange à análise da emergência do período imperialista do capitalismo ocidental, a saber: o imperialismo exporta capitais e capitais são ao fim e ao cabo a expressão financeira da civilização perante a barbárie, compreendendo como civilização a, obviamente, ocidental; e como barbárie os povos que foram colonizados no período expansionista europeu, o colonial, razão pela qual o imperialismo é uma particularidade ocidental, não podendo sob hipótese alguma ser identificado com a China e a Rússia, por exemplo, países que historicamente foram e são alvos do sistema colonial, capitalista e imperialista europeu-estadunidense.

O ocidental imperialismo “exporta”, também, populações, reatualizando os modelos coloniais de colonização de exploração e de povoamento, como foi o caso do Mandato britânico sobre a Palestina histórica e seu efeito fatal com o empoderamento do sionismo.

Essa ideologia da terra prometida, na era ianque da colonização do inconsciente, tornou-se o desejo comum, com as devidas diferenças, tanto da extrema direita quanto da esquerda woke com suas “diversidades” de gênero, étnica, ecológica; o desejo de um retorno romântico-reacionário ao Antigo Testamento, caso da primeira, da extrema direita; e o desejo ao retorno mítico-místico a 1620, como se fossem herdeiros escolhidos a dedo, como na Arca de Noé, para embarcar do Mayflower direto para excepcionalismo estadunidense, caso do esquerdismo woke, com o seu desejo de habitar em bolhas virtuais, imunes à realidade histórico-social.

A crise engendrada pela disputa interpaíses europeus (EUA em cena) à liderança do saqueio colonial dos povos, como é possível evidenciar considerando o seguinte fragmento de La expansión de Europa (1830-1914), obra de David K. Fieldhouse: “Antes de 1830, só existem cinco potências coloniais importantes. Em 1914 existiam dez, incluindo EUA, uma ex-colônia convertida em potência imperial” (FIELDHOUSE, 1990, p. 8).

A dupla crise do capitalismo, a interna, com a organização da classe trabalhadora; e a externa, com as guerras neocoloniais contra a maioria global, tornou-se dois referenciais inseparáveis a serem administrados pela burocracia imperialista do capital monopólico, razão por que a sua principal tarefa doravante deveria ser a negação total da história, compreendida como movimento, mudança, devir; e negação total da existência de classes sociais.

Isso na prática ocorreu da seguinte maneira com a vanguarda da Inglaterra: a manipulação do desejo entre segmentos medianos da classe operária de se tornar uma aristocracia operária ( sem jamais designar-se como tal) sem lastro algum na realidade concreta; e a criação do fascismo, tendo como alvo e cenário parte significativa da classe operária que passaria a ser, no âmbito do inconsciente, a vanguarda do ódio à realidade histórico-social, de ódio à humanidade, à natureza, ao operariado, ao mundo.

As duas negações das três negações imperialistas

Analiso o imperialismo, sempre ocidental, como um metacapitalismo e um metacolonialismo; e “meta” no sentido de mudança, de reflexão sobre, de além de, como metalinguagem. A burocracia imperialista (financeira, econômica, militar, educacional, midiática) bem entendido se constitui como metaburocracia ou, dito de outro modo, como um holding ou escritório central do metacapitalismo e metacolonialismo. Sua tarefa principal é a de negação total e cínica da realidade histórica existente, separando o Ocidente europeu e norte-americano (o Jardim do Éden) da Maioria Global (a selva).

O primeiro, o Ocidente mitificado, marca-se como a bolha ou a redoma de vidro, fora da realidade; o segundo, a classe trabalhadora, os povos, transformou-se na realidade a ser odiada, destruída, objeto implacável de um novo tipo de racismo: o racismo ao mundo, aos povos, evidenciado na expiação televisionada do povo palestino que, a rigor, é uma metonímia do Sul Global, de ódio racista à América Latina, à África à Ásia, à Terra.

A dialética imperialista está, pois, servida à mesa do cemitério do mundo: exporta “capital”, pela exaltação supremacista dos imunizados, o próprio Ocidente arcádico, fora da história e da realidade; e exporta o ódio , à história e às classes sociais.

A (des)cultura woke é o capital especulativo comportamental da primeira exportação imperialista de capital, a ser adquirida pelas pequenas burguesias e importada pelas universidades da maioria global (sítio das bolsas de ações identitárias), embaladas como mercadorias epistêmicas, sob, por exemplo, a forma de ancestralidade e decolonialismo; a, por sua vez, exportação especulativa de ódio ao mundo (um niilismo suicidário) tem como consumidor-alvo a classe trabalhadora superexplorada, que deve assumir a condição, sempre como desejo de, de sujeito da destruição das instituições e do contrato social – qualquer semelhança com o 8 de janeiro de 2023 e o bolsonarismo no Brasil não é mera coincidência.

O imperialismo é, pois, a categoria a ser negada (negação da negação) mais importante para a inteligência e práxis emancipadoras do mundo moderno e pós-moderno. Do primeiro, o moderno, o imperialismo em questão é o europeu, constituído pelo sistema colonial e capitalista europeu; e já administrado, a partir do final do século XIX, pela metaburocracia imperialista; uma administração em processo de constituição, em formação.

Do segundo, o pós-moderno, o imperialismo é o norte-americano, de tal modo que seja possível afirmar que a pós-modernidade nada mais seja que a dominação cultural, política, tecnológica e econômica dos Estados Unidos.

Diferentemente da modernidade imperialista europeia, a estadunidense é integralmente um metaburocrático holding total, que não separa mais Estado de capital privado, realidade de ficção, inconsciente de consciente, razão e sua ausência, verdade e mentira, dedicada que está a subsumir o desejo woke pelas bolhas, pela fuga da realidade, pelas ilhas de fantasias; e também de incendiar o mundo com seus cavalheiros do apocalipse do inconsciente de ódio ao mundo, indissociável da classe trabalhadora historicamente abandonada.

Por essa razão tenho chamado o imperialismo estadunidense, ao mesmo tempo metacolonial, metacapitalista e metaimperialista, de ultraimperialilsmo, não no sentido de Karl Kautsky, que defendia no seu ensaio de 1914, que o ultraimperialismo se constituiria como uma espécie de fase superior do próprio imperialismo, de paz orquestrada entre as principais potências imperialistas; ultraimperialista ao fim e ao cabo porque é metaimperialismo, porque se fez ( ou acreditava ser) como o holding de negação e de ódio ao mundo.

É preciso negar os dois imperialismos. É questão literal, de vida ou de morte, para os povos oprimidos, como o brasileiro, por exemplo. Mas, sobretudo, é preciso: (i) negar o segundo, o ultraimperialismo estadunidense, porque é a força de colonização do desejo de negação total da realidade realmente existente e dominante, na atualidade, uma vez que o imperialismo europeu está subsumido pelo ianque, é o desejo deste tanto como expressão woke da bolha ocidental, quanto como berço do fascismo e do nazismo; (ii) nunca acreditar, sob hipótese alguma, nas notícias que circulam nos veículos dominantes da sociedade do espetáculo norte-americana e tampouco nos produtos e narrativas que a sociedade do espetáculo produz, como o cinema, por exemplo.

Hollywood, a propósito, produz bem mais que filmes: realiza o efeito estético da dominação dos trabalhadores do mundo, colonizando o inconsciente do desejo de ser bolha irreal e também de ser a explosão de ódio ao mundo, manipulando ressentimentos e abandonos historicamente acumulados.

Nunca acreditar, quer dizer, para ser redundante, nunca, sobretudo se repetem uma notícia. O holding total da metaburocracia estadunidense está em guerra contra o mundo do trabalho. Nesse contexto, incorporar ou polemizar, como se fosse verdade, qualquer notícia que advenha das empresas de comunicação nacionais e internacionais, sobretudo as que estão no eixo de influência do ultraimperialismo norte-americano, é simplesmente um suicídio social, o que inclui, também, as notícias que circulam a partir das empresas das chamadas Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, como Google, Facebook, por exemplo.

É preciso negar resolutamente a biopolítica do estilo ianque de vida de vida, que é mundial.

Em História da sexualidade: vontade de saber (1976), Michel Foucault desenvolveu a categoria de dispositivo comportamental, compreendida em linhas gerais como uma transformação do próprio desejo como uma ferramenta a ser manipulada, sobretudo tendo como eixo o dispositivo da sexualidade, acionado pelo dispositivo confessional.

O subtítulo do livro, “vontade de saber”, remete às instituições que se dedicam a formar quadros profissionais para o Estado: professores, médicos, biólogos, psiquiatras… Vontade de saber, assim, pode ser interpretada como saber sobre ( meta-saber) com objetivo de domesticar corpos, estimulando-os a confessar pelo dispositivo da confissão ( os saberes institucionais), e, assim, produzindo identidades etárias, de gênero, étnicas que passariam a se comportar e no limite a desejar ser um tipo corporal humano adaptável às fábricas da Segunda Revolução Industrial; corpos dóceis.

Na era pós-industrial do ultraimperialismo estadunidense, o dispositivo confessional, agenciado por seu holding burocrático total, com sua vontade de saber total sobre o inconsciente e o desejo, já não tem como objetivo produzir corpos dóceis.

Pelo contrário, dois são os dispositivos confessionais da biopolítica do ultraimperialismo norte-americano: (a) o desejo à bolha woke é um novo dispositivo confessional de fuga da história, da realidade, devendo odiar não propriamente a realidade, mas a classe trabalhadora “impura”, porque, no delírio, representa um perigo ao dispositivo confessional, e sionista, de retorno ao seu próprio corpo sagrado, à sua própria identidade puritana, indissociável da cosmogonia da criação mítica de EUA, alegorizada como travessia do Mar Vermelho e conquista da terra paradisíaca, desde que os índios, esses palestinos pré-modernos, sejam eliminados.

(b) O dispositivo confessional de ódio ao mundo, a ser incorporado, como desejo, pela a classe trabalhadora superexplorada, designada como fascista, porque, no limite, de fato se comporta como fascista por ter sido capturada para explodir o mundo (chamam-se de libertarianismo), sobretudo o Estado, as instituições, os direitos trabalhistas.

Dispositivos de dispositivos, duas são as confissões biopolíticas sionistas do holding total estadunidense, no contemporâneo: o dispositivo confessional woke ou identitário e o dispositivo do operariado niilista, a confessar, na prática, seu ódio ao mundo, instrumentalizado para destruir tudo que pode servir à classe trabalhadora: direito à saúde, à educação, à moradia, à aposentadoria, à dignidade.

O primeiro dispositivo é o do esquerdismo globalista, usado de modo publicitário para fabricar uma aparência liberal (ou neoliberal) de democracia, a partir da transformação dos direitos civis em bolhas não relacionáveis aos direitos sociais e econômicos e sobretudo à classe trabalhadora; o segundo dispositivo é o de guerra total contra a realidade existente. O primeiro afirma a identidade própria como terra prometida. O segundo quer colocar fogo no mundo para instaurar o retorno ao Antigo Testamento sionista.

 Ambos, como negação da realidade, são antes de tudo dispositivos biopolíticos de guerra total do ultraimperialismo norte-americano contra a emergência do mundo multipolar, contra a China, contra a Rússia, contra o Brics +, contra a Organização para Cooperação de Xangai, contra o Sul Global, contra a Maioria Global, contra a dignidade humana e dos seres; contra o empoderamento da classe trabalhadora mundial, o único que realmente importa, sob forma política do socialismo, do comunismo.

Nesse contexto, qualquer conversa consequente, assim como qualquer militância, pesquisa; ou qualquer legítimo e necessário desejo de um mundo de justiças sociais, étnicas de gênero, devem começar pela negação do imperialismo e sobretudo do ultraimperialismo estadunidense, afirmando o porvir, sem retornos a terras prometidas; afirmando o Sul Global, a multipolaridade, o socialismo. Do contrário, é ou será um dispositivo confessional a serviço do ódio racista ao mundo.

*Luis Eustáquio Soares é professor titular do Departamento de Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Autor, entre outros livros, de A sociedade do controle integrado (Edufes). [https://amzn.to/3YO7Gcn]

Referências


Fieldhouse, Davi. Economia e imperio. La expansión de Europa (1830-1914). México: Siglo XXI Ediciones:1990.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: Vontade de Saber. Tradução de Maria Theresa da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 1999.

HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. Trad. Reinaldo Mestrinel. Coleção Os Economistas. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

HOBSON, John. Imperialism: a study. Ney York: James Pott& Company, 2002.

KAUTSKY, Karl. “Ultraimperialismo”. (1914). Arquivo Marxista na Internet, [s.l.], 2014. Disponível em: https://www.marxists.org/ portugues/kautsky/1914/09/11-1.htm.

LA BOÉTIE, E de. Discours de la servitude volontaire. Chronologie, introduction, bibliographie et notes par. Paris: Payot, 1976.

LENIN, Vladimir Ilytch. Imperialismo, etapa superior do capitalismo. Campinas: Unicamp, 2011.

LUXEMBURGO, ROSA. A acumulação do capital: estudo sobre a interpretação econômica do imperialismo. Tradução de Moniz Bandeira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.

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