Como vai o planeta?

Imagem: Syed Qaarif Andrabi
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Por FERNANDA FIGUEIREDO*

Antigamente falava-se de proteção ao meio ambiente para futuras gerações, parecia algo distante do nosso presente. Porém, a atual geração já vive sob os efeitos da destruição

Com as mudanças climáticas, a Terra tem sofrido alterações drásticas. Ainda, vamos ouvir falar muito de uma sigla — o IPCC. É o painel intergovernamental sobre mudanças climáticas, que reúne cientistas e países. Cada vez mais, vamos ouvir falar dessas alterações climáticas, aquecimento global, emissões de gases de efeito estufa e o Acordo de Paris, de onde pode sair alguma salvação.

O Acordo de Paris é um compromisso firmado entre 195 países, em 2015, durante a COP 21 (21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), para reduzir emissão de gases do efeito estufa. Entrou em vigor em 2016, e a principal meta é manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2º C.

É quase certo que, o presidente Lula deverá comparecer à 28ª Conferencia das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Cop 28), que acontecerá de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. O governo levará um plano de ações sustentáveis que prevê a recuperação e conversão de pastagens degradadas. Haja vista, que a pecuária e a agricultura são vilões na emissão de gases de efeito estufa.

O Brasil se esforça para cumprir meta do Acordo de Paris, de recuperar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas até 2030. O presidente Lula mostra otimismo afirmando que o Brasil chegará a 2030 com desmatamento zero na Amazônia. Até lá, teremos à Cop 30, que o Brasil vai sediar, em Belém, em 2025. Será uma prévia para esses esforços concentrados e revisão de meta. Além disso, teremos a Cúpula do G-20 no Rio de Janeiro.

Há uma pergunta no ar. E o planeta está chegando ao fim? Com certeza, ficará mais insuportável. Com tantas mudanças, temos que ver algo de positivo nisso tudo. Quem sabe: “O sertão vai virar mar…” como na música. Talvez, num sonho lunático, à aurora boreal se deslocar do eixo polar e cobrir o planeta. Com certeza, um “gran finale…” À aurora boreal é ligada ao eixo magnético da Terra e cercada de mitologias.

De fato, está tudo muito alterado, não conseguimos mais distinguir às quatro estações.

Segundo o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, órgão da União Europeia – o ano de 2023 – será o mais quente da história em 125 mil anos. Na mesma linha, a revista The Lancet alerta para grave perigo da humanidade, com aumento de mortes de idosos devido ao calor extremo. Um número que pode aumentar nas próximas décadas, algo em ate torno de 370% até 2050, segundo cientistas.

No Brasil, as enchentes estão mais frequentes, inundando cidades de vários estados como Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Maranhão entre outras, deixando muitos sem casa e pior, com muitas vítimas, infelizmente.

E, ainda, ondas de calor atingiram grande parte do Brasil. Temperaturas altas, com sensação térmica de 59,3 graus. Ocorreu um tsunami meteorológico em Santa Catarina. E do mar veio um ciclone arrastando banhistas na praia de Copacabana. Na Amazônia, os rios secaram de forma quase sincronizada. E Manaus foi encoberta por densa fumaça. O Rio Grande do Sul sofre com extremos climáticos. É o planeta respondendo que não vai bem.

Por isso, os olhos dos poderosos, estão voltados para a maior floresta tropical do mundo. À Amazônia é central no equilíbrio, na manutenção do clima do planeta.

Segundo o INPE, a área desmatada na Amazônia é de 9.001 km², período de agosto de 2022 a julho de 2023. Esse resultado concentra cinco meses do governo anterior e sete do governo atual. Houve uma queda de 22,3% do total de área desmatada no atual governo. Os números são do Relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia legal por satélite – Prodes – sistema do próprio INPE.

Segundo o Greenpeace “Apesar da boa notícia, a redução ainda é insuficiente para que o Brasil cumpra a meta de NDC (Contribuição Nacionalmente determinada) assumida junto a Organização das Nações Unidas (ONU), de reduzir em 48% de suas emissões até 2025 e 53% até 2030, valores comparados aos níveis de 2005”.

Todavia, o IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia afirma que “À área desmatada nos primeiros dez meses de 2023 chegou a 3.806 km². O desmatamento cai 6% de janeiro a outubro, mas ainda é o 6º maior em 16 anos. O ritmo de desmatamento segue em queda”.

O assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988, teve repercussão mundial. Chico Mendes é o símbolo da preservação da Amazônia. Defendia os seringais. E todo ecossistema da região de forma sustentável. Pela defesa da Amazônia outros líderes ambientalistas foram brutalmente assassinados. Tivemos a felicidade de conviver com Chico Mendes, no Rio de Janeiro. E dessa parceria de luta foi possível publicar artigos sobre esse convívio. No “I Encontro dos povos da Floresta”, em Altamira, pudemos presenciar a índia Tuíra com seu facão defender seu povo e a floresta amazônica, o cacique Raoni e o cantor Sting. São vozes que ecoam no mundo.

Na época que participávamos do Comitê de Defesa da Amazônia (CDA), época da ditadura militar, o foco era lutar contra os projetos faraônicos na Amazônia, implantados pelas multinacionais. Na atual conjuntura, o olhar sob a Amazônia é outro. É de salvação do planeta, na defesa dos povos originários, de todos os povos da floresta, guardiães desse patrimônio natural. Sem esquecer, principalmente, os yanomamis, vítimas do garimpo ilegal.

Os EUA sofreram com a nevasca do século, com registro de 78 graus c negativos em 3/2/2023, causando uma tragédia, com corpos encontrados dentro dos veículos, debaixo de toda àquela neve. O Canadá também sofreu essa massa de frio vindo de regiões polares. São efeitos diretos das mudanças climáticas.

Outro fenômeno causado pelo aquecimento global é o derretimento das calotas polares, que aumenta o nível das águas dos oceanos. O degelo é sempre observado pelos cientistas, por se tratar de um alerta importante.

Você já foi a Maldivas? Não. Então, vá. Segundo dados do IPCC há um alerta para essa região. O paraíso corre o risco de desaparecer em 2050. O governo iniciou a construção de uma cidade flutuante com previsão de ficar pronta até 2027, e tentar sobrevivência dos seus moradores.

Segundo o IPCC, sendo muito pessimista o nível do mar pode subir cerca de 2 metros 2100, chegar a 5metros em 2150, num cenário de 2º C. No cenário catastrófico de 3º C outras cidades no mundo seriam atingidas, podendo submergir parcialmente ou totalmente.

Em razão da gravidade das transformações que o planeta passa, Tuvalu é uma nação do Oceano Pacífico que se prepara para desaparecer com elevação do mar. Já existe um acordo com a Austrália para receber esses refugiados climáticos. O aumento médio da temperatura do planeta superior a 1,5º C será um alerta vermelho para sobrevivência de muitos lugares.

Com mais frequência, temos observado o aumento dos terremotos. Um de grande impacto ocorreu na Turquia, no Equador e em outros países, como a Síria e no Marrocos. Os cientistas já associam essas ocorrências às mudanças climáticas, que podem potencializar o movimento das placas tectônicas. Esses tremores agitam águas oceânicas, são os tsunamis ondas gigantes. Vejam como está tudo ligado.

Antigamente, falávamos de ecologia, de proteção ao meio ambiente para futuras gerações, parecia algo distante do nosso presente. Sempre afirmando em deixar um planeta melhor no futuro. Que futuro? Nossa própria geração sofre os efeitos da destruição. Da falta de cuidado com a nossa mãe Terra (Gaia). Salvemo-nos todos!

*Fernanda Figueiredo é ativista em defesa do meio-ambiente.


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