Contra o Senhor da morte

Marcelo Guimarães Lima - Uirapuru, cantor da floresta, lápis sobre papel, 21x29cm, 2021
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Por MARCELO GUIMARÃES LIMA*

Os pássaros na floresta cantam: Fora Bolsonaro!!!

Os pássaros das florestas brasileiras clamam pelo FORA BOLSONARO!!!! As criaturas vivas em geral, humanos e não-humanos, no Brasil e alhures igualmente, também clamam pelas suas vidas e proclamam contra o Senhor da Morte e seus aliados, aqui e lá fora. Aqueles que lucram, simbólica e/ ou materialmente com a atual situação, estes não clamam.  Alguns, jornalistas, políticos, juízes, entre outras categorias, fingem isenção. Outros seguem e auxiliam o Senhor da Morte no seu autoproclamado papel de restauração do nefando regime de 1964, regime da censura, tortura, assassinato e da exploração sem freios das classes trabalhadoras, atualizado aos tempos neoliberais do século XXI.

Enquanto escrevo, inicia-se a CPI do fatídico desastre da pandemia, desastre comandado pelo (im)popular “Bozo”, e secundado por figuras incríveis, entre elas o auxiliar que confessa ter tomado vacina às escondidas pois esta foi a orientação do chefe, homem crescido mas que acata ordens sem atentar pelo ridículo e trágico da sua posição e não mede as consequência. E não apenas as consequências públicas de sua postura, mas, o que seria de se esperar de gente absolutamente centrada em si e incapaz de empatia, aquelas consequências para a sua própria individualidade, sua subjetividade, sua condição de pessoa, seu senso de propriedade e de autovalor.

Uma coisa é certa daqueles que cercam e auxiliam o presidente “acidental”: são todos feitos da mesma matéria moral e intelectual. O sr. Paulo Guedes, um economista, um milionário, em suma, um especulador e auxiliar de especuladores, proclama em reunião oficial que os chineses inventaram o vírus da Covid 19, e afirma, peremptoriamente, com admiração e vivo apreço, a superioridade dos Estados Unidos como produtores de vacinas na atualidade. Que digo? O hoje ministro deixa entender claramente que a grande nação do norte, a terra do Tio Sam, é o paraíso encarnado na terra, o modelo, o guia magistral dos povos e principalmente dos semibárbaros como nós, pobres e desorientados brasileiros.

O sr. Paulo Guedes é economista e ministro: de onde tirou ele a informação da “nacionalidade chinesa” do vírus da Covid 19?  Quais pesquisas fez o hoje ministro para tal afirmação de grande importância e sobretudo numa reunião pública de trabalho? Note-se que o ministro não fala de uma hipótese, uma probabilidade, mas de um “fato” pura e simples.

Reza a educação científica que conclusões devem ser embasadas por dados e raciocínios que passam pelo crivo da racionalidade e confiabilidade empírica e metodológica própria da atitude científica, dos procedimentos metódicos de verificabilidade (aquilo que pode e deve ser verificado) próprios da ciência. Mas talvez a economia não seja uma ciência propriamente dita, “j´en sais rien” digo eu, utilizando-me da precisa formulação da língua francesa que quer dizer: sobre tal assunto polêmico eu me calo devidamente. E neste caso, escusado estaria o sr. Paulo Guedes.

O desprezo pelo Brasil e pelos brasileiros, patente nos ditos e iniciativas do Capitão das Profundas, é a atmosfera que respira a classe dominante brasileira.  Que digo? O desprezo pelos brasileiros é o perfume inebriante (vale aqui a figura “brega”) sem o qual não poderia viver a classe dominante brasileira.

Como poderia ser diferente num país onde, por exemplo, se produz alimentos em grande escala e o povo volta a passar fome no atual regime golpista? A exploração multissecular das massas no Brasil apenas confirma para os grupos dominantes a condição sub-humana ou infra-humana dos que produzem em bem e serviços a riqueza material do país.

Como os pássaros das florestas brasileiras, queremos o fim do estado de exceção do bolsonarismo e seu cortejo diário de horrores, de absurdos lógicos, de aberrações de conduta, de contrassensos naturalizados, de crueldade ativa e mentiras sistemáticas e sistematizadas.

Arriscamos aqui a hipótese que o chamado neofascismo brasileiro não pode ser pensando como “pré-social”, segundo a caracterização de Vladimir Safatle, mas como “pós-social”. A engenharia em larga escala da desorientação, pensada entre outros por Bernard Stiegler, ganha os contornos específicos da atualidade no seu enraizamento nas novas tecnologias da comunicação que se acoplam à precarização da existência, a vivência do desvalor pessoal, própria do neoliberalismo.

Ainda que de fato a iniciativa não diga respeito à melhoria imediata da vida para a maioria, como bem observou, entre outros, o jornalista, historiador e líder político Rui Costa Pimenta, a CPI poderá auxiliar as mudanças mais que urgentes no cenário político nacional. Ela se dá no interior do regime golpista instalado em 2016 que elevou, por meios escandalosamente ilegais, o sr. Jair Bolsonaro de político medíocre, marginal e folclórico, ao posto de presidente da nação. O que, por si só, dá ideia precisa da “seriedade” com a qual a classe dominante enxerga o país e sua estrutura política.  Em tal contexto não se pode esperar muito deste processo.

De qualquer modo, é sempre bom lembrar que a realidade é dinâmica, que o real é aquilo que nos resiste e ultrapassa, o que vale igualmente e principalmente agora para os atuais donos do poder e seus superiores.

Sobre a CPI, diz o chavão repetido por vários políticos nestes tempos, sabemos sempre como começa, mas não sabemos como acaba.

Como acabará Bolsonaro, perguntamos?  Como acabará o regime golpista? Os golpistas em geral? Na história, por exemplo, alguns grandes líderes fascistas terminaram linchados em praça pública ou suicidados. Mas eram outros tempos.

*Marcelo Guimarães Lima é artista plástico, pesquisador, escritor e professor.

 

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