Por ANDREW KORYBKO
É improvável que a Rússia arriscasse mobilizar o Ocidente em torno de uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, realizando uma provocação deliberada contra a Polônia
1.
A Polônia alegou ter abatido vários drones russos na manhã de quarta-feira, 10 de setembro de 2025, que teriam invadido seu espaço aéreo durante os últimos ataques em larga escala contra a Ucrânia. Isso ocorreu em meio aos exercícios em andamento da Polônia, Lituânia e da OTAN, envolvendo 30.000 soldados poloneses, e pouco antes dos próximos exercícios Zapad 2025 entre a Rússia e a Bielorrússia.
Alguns, portanto, suspeitam que se trata de uma provocação deliberada da Rússia ou de uma missão de reconhecimento mal-sucedida, mas pode ter sido apenas devido a interferência da OTAN.
Recentemente argumentou-se que “pode haver mais na farsa Von Der Leyen-GPS-Rússia do que apenas ganhar pontos baratos no Infowar“, após a dramática alegação de que a Rússia supostamente bloqueou seu avião enquanto tentava pousar na Bulgária ter sido desmascarada pela própria Sofia e pela mídia ocidental. A teoria alternativa apresentada foi que essa falsa narrativa visava justificar o bloqueio agressivo de sinais em Kaliningrado, embora isso também pudesse ser direcionado à Bielorrússia, visto que ela sediará os próximos exercícios Zapad 2025.
Tal interferência poderia ter feito com que drones russos se desviassem da rota para a Polônia durante os últimos ataques em larga escala contra a Ucrânia. O bloqueio agressivo de sinais também poderia preceder a implementação de planos relatados para impor uma zona de exclusão aérea sobre pelo menos parte da Ucrânia, em conexão com as garantias de segurança do Ocidente para aquele país. Embora não seja tão infalível quanto patrulhas no espaço aéreo ucraniano e a autorização de Patriots baseados na OTAN para proteger seus céus, isso representaria um risco muito menor de escalada.
Além disso, se a OTAN previsse que seu bloqueio especulativo de sinais – possivelmente intensificado após a farsa Von der Leyen-GPS-Rússia, que pode ter sido programada para coincidir com os próximos exercícios Zapad 2025 – faria com que os drones russos se desviassem de sua rota, isso poderia ser parte de uma escalada pré-planejada. O objetivo poderia ser angariar apoio para a proposta de zona de exclusão aérea acima mencionada ou mesmo iniciar o processo gradual de implementação sob o pretexto de “defesa proativa” à luz deste incidente.
2.
Após mais de 3,5 anos desde o início da operação especial, presume-se que a Rússia já tenha simulado todos os desdobramentos realistas do cenário em que vários de seus drones cruzam para a Polônia, sendo assim provável que os formuladores de políticas estejam cientes de que isso poderia ser explorado para avançar com o plano de estabelecer uma zona de exclusão aérea. Essa percepção mencionada, portanto, reduz as chances de que isso tenha sido uma provocação deliberada ou uma missão de reconhecimento mal executada – ambas provavelmente teriam sido realizadas com mais intensidade para tornar a relação custo-benefício mais vantajosa.
Esta é uma lógica semelhante à que foi recentemente compartilhada nesta análise, argumentando que a Rússia provavelmente não atacou deliberadamente o prédio do Gabinete de Ministros em Kiev para evitar alimentar o plano de zona de exclusão aérea. Embora aquele incidente em particular possa ter sido causado aleatoriamente por destroços de drones, o mais recente poderia ter sido planejado em um grau muito maior se a interferência da OTAN fosse de fato responsável, como se conjectura. Resta saber, no entanto, se a Polônia participará de alguma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia como resultado disso.
O ex-presidente Andrzej Duda revelou recentemente que Volodymyr Zelensky tentou manipular a Polônia para uma guerra com a Rússia por causa do incidente de Przewodow, em novembro de 2022, no qual ele se recusou a acreditar, enquanto seu sucessor, Karol Nawrocki, prometeu, antes do segundo turno, não enviar tropas para a Ucrânia. Essa continuidade política, que se alinha com a insatisfação dos poloneses com os refugiados ucranianos e com este conflito vizinho, pode frustrar os planos da OTAN de manipular a Polônia para isso, mesmo que ela ainda concorde em intensificar o bloqueio de sinais.
*Andrew Korybko é mestre em Relações Internacionais pelo Instituto Estadual de Relações Internacionais de Moscou. Autor do livro Guerras híbridas: das revoluções coloridas aos golpes (Expressão Popular). [https://amzn.to/46lAD1d]
Tradução: Artur Scavone.
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