Em destaque – III

Imagem: ColeraAlegria
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Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

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Tivemos um fim de semana cheio de eventos pirotécnicos, com inversão de papéis e situações que chamam a atenção para o que há de mais grave. No caso, os ataques ao Supremo Tribunal Federal pelo grupo paramilitar autodenominado “300 do Brasil”.

As autoridades reagiram, prenderam os principais responsáveis e desmontaram o acampamento que havia no Congresso Nacional. Como nota inquietante, fica a suspeita de que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) não atuou a contento a ponto de evitar aquilo que causou depois da demissão do subcomandante da Força pelo governador Ibaneis Rocha. Outro detalhe relevante nessas manifestações é que os foguetes e tiros de festim que foram atirados na direção do Supremo Tribunal Federal podem no futuro ser substituídos por armas mais consequentes, e é bom que todos estejam conscientes disso.

Tudo indica que a líder dos “300” orienta suas performances em função de uma luta por protagonismo dentro das forças bolsonaristas. Convém lembrar que na última eleição muitos líderes de eventos corriqueiros, como as passeatas a partir de 2014, pessoas que não tinham o menor passado político ou profissional, acabaram sendo eleitos massivamente para o Congresso Nacional. A mesma coisa pode estar acontecendo em relação a este movimento.

Do ponto de vista do que é substantivo, o importante é o andamento da inquisição sobre as fontes e os financiadores da indústria de fake news no Congresso, no STF e, sobretudo, no TSE, com a possível ameaça ao mandato da chapa Bolsonaro-Mourão. As condições jurídicas estão dadas, as condições políticas não, e irão depender de muitos fatores. A minha previsão é que nada de decisivo acontecerá e que teremos de levar isso moderadamente até o fim do mandato do atual presidente.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub reforçou sua militância antirrepublicana. Ele veio a público, sem qualquer proteção contra o coronavírus, para falar mal do STF e dizer que não irá desistir da Medida Provisória (MP) que tirava a escolha dos eleitores dos marcos constitucionais. Antes, o presidente do Senado havia devolvido a MP que propunha a criação de reitores temporários num gesto inusitado, num ato que dificilmente acontece. Weintraub afirmou que não vai desistir deste propósito, pondo em xeque a ação do Senado Federal e da própria Presidência da República que acatou a retirada da Medida Provisória.

Foi divulgada nesta semana, na segunda-feira 15 de junho, uma pesquisa realizada por um consórcio universitário que reúne algumas das grandes universidades brasileiras e algumas universidades do exterior [1]. O destaque é o dado que mostra uma diminuição da simpatia a um golpe ou intervenção militar no Brasil. É a primeira vez, em três anos, que essa uma tendência se verifica.

Ainda no fim de semana, Mansueto Almeida, secretário-executivo do Tesouro Nacional, anunciou sua saída do governo. Ele explicou sua decisão mencionando não questões atinentes ao tesouro nacional, como seria de se esperar, mas as dificuldades de implantação de políticas coordenadas contra o coronavírus. Denota assim seu descontentamento com a falta de coordenação e a ausência de planejamento do governo federal no que tange ao combate à pandemia, o que afeta sobremaneira as relações fiscais e federativas entre União, Estado e Municípios no Brasil. A saída de Mansueto, apesar de sua rápida substituição por Bruno Funchal, significa um desfalque importante na equipe de Paulo Guedes.

Por fim, o órgão do Ministério da Saúde dos Estados Unidos encarregado do controle da alimentação e dos medicamentos, o Food and Drug Administration (FDA), repudiou o uso da cloroquina como remédio indicado no combate ao Covid-19, até mesmo em situações de emergências. A decisão do FDA saiu ironicamente logo depois que os Estados Unidos doaram dois bilhões de doses para o Brasil.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

Artigo estabelecido a partir de participação na série Empower Comenta.

Notas

[1] Confira o artigo de Carlos Ranulfo Melo em A Terra é Redonda (https://aterraeredonda.com.br/a-avaliacao-do-governo/).

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