Lima Barreto: um traço que a legenda deturpou

Annika Elisabeth von Hausswolff, O Fotógrafo, 2015
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Por ALEXANDRE JULIETE ROSA*

Comentário sobre a vida do escritor carioca

A conturbada vida de Lima Barreto, suas desilusões íntimas e familiares, as frustações pessoais, a falta de amor, o enfado do trabalho burocrático e a tão sonhada glória literária que parecia não querer vir; a autodestruição no álcool, a perambulação pelas ruas da cidade como se fosse um infeliz morador de rua, sujo, maltrapilho, falando sozinho, dormindo nas sarjetas; as internações no hospício, a aposentadoria precoce por invalidez, o preconceito racial que tanto o fazia sofrer e o diminuía perante si próprio…

Talvez possa ter faltado um ou outro ingrediente, mas a receita para se contar a biografia de um homem malsinado estão aí. A partir desse script foi se construindo a imagem do escritor carioca, quer por suas biografias, quer pelas narrativas ficcionais que tiveram como inspiração sua vida atormentada; por último, mas não menos importante, pela crítica literária e os estudos acerca de sua obra. É preciso, nesse centenário de sua passagem, tentar recuperar um outro Lima Barreto, menos carregado de amarguras, o Lima piadista, ironista fino das rodas de boêmia, amigo da rapaziada, mais leve, menos triste, recuperar, enfim, um traço que a legenda deturpou.

1.

“Lima Barreto (traço que a legenda deturpou) tinha muita graça”, escreveu Antonio Noronha Santos, o mais próximo amigo do autor de Triste fim de Policarpo Quaresma. No entanto, quando vamos pesquisar a biografia de nosso grande escritor negro, um dos maiores de nossas letras, cadê a graça?

Hoje em dia, entendemos por legenda aquelas letrinhas que aparecem nos filmes ou seriados, normalmente com a tradução de uma língua para outra; ou a legenda de uma imagem, quadro ou fotografia, com informações sobre autoria, data e técnica utilizada; em épocas eleitorais ouve-se muito sobre legenda partidária… No “Prefácio” que escreveu para o livro de correspondências de Lima Barreto (Correspondência Ativa e Passiva – 1º Tomo, editora Brasiliense, 1956), Antonio Noronha Santos emprega a palavra “legenda” com um outro sentido.

Alguns dicionários etimológicos mostram que essa palavra tem origem latina e que significa, genericamente: “o que ou aquilo que deve ser lido”. Nos conventos medievais não havia desperdício de tempo, pois todo ele deveria ser dedicado à salvação da alma. No momento das refeições, por exemplo, para a continuidade da edificação moral dos monges, um deles se dedicava à leitura em voz alta, normalmente de algum texto voltado à vida de algum santo ou mártir. Essa leitura recebia o nome de legenda.

É a este sentido mais primevo do termo que iremos nos referir neste artigo: legenda – relato da vida ou do martírio de um santo. Vamos ver o que o próprio Noronha Santos diz a respeito: “Lima Barreto (traço que a legenda deturpou) tinha muita graça. Os remoques afloravam-lhe dos lábios, sem nenhuma preparação anterior, mas, ao contrário do que se poderia supor, não tinham aquele cunho de sátira social e política. Essas, vamos encontrá-las em sua obra. Lima Barreto não ligava a menor importância às suas epigramas. Mas não creio que a História da Literatura Brasileira de Sílvio Romero consiga jamais livrar-se da seta que o bandarilheiro, com aquele meio sorriso, muito seu, lhe pregou um dia no lombo monstruoso, quando, na sua frente, lamentavam a situação em que deixara a família o insigne sergipano”.

“– É, concorda Lima Barreto, nem a biblioteca podem vender. Está tudo cortado. Quem, com juízo equânime, houver percorrido os grossos volumes da famosa História, não saberá o que mais admirar, se a finura ou a segurança da crítica.[i] Era bem conhecida, na época, a ‘mania’ das longas citações que o crítico literário Sílvio Romero ia deixando ao longo seus textos e de seus livros. Podemos imaginar o impacto causado na roda de amigos após essa tirada de Lima Barreto”.

O amigo Noronha Santos se viu empolgado com a notícia de que uma editora paulista estaria interessada em publicar as obras completas de Lima Barreto, isso no ano de 1942. Seria a primeira tentativa de reabilitação do autor de Gonzaga de Sá, que faleceu a 01 de novembro de 1922. A editora O Livro de Bolso, com sede em São Paulo, anunciava a boa nova, juntamente com o crítico literário e biógrafo Elói Pontes, encarregado de prefaciar e organizar os volumes.

Tal notícia levou o grande amigo de Lima a planejar a publicação do “Anedotário de Lima Barreto”, cuja primeira leva saiu na edição de 09 de outubro de 1942 do jornal Diário da Manhã (Niterói) e na edição de 24 de outubro, do mesmo ano, no jornal Dom Casmurro.

Eis como Noronha Santos anuncia o intento: “Anuncia-se que será lançada em breve por uma casa editora paulista uma edição – a primeira – das obras completas de Lima Barreto. […] Vai prefaciá-la Elói Pontes [que é], sem dúvida, o “right man” para a reintrodução, que ao fim de vinte anos – Lima Barreto morreu em 22 – se torna imprescindível para a apreciação exata do homem e do escritor. À memória de Lima, que me dedicou seu primeiro livro, desejo colaborar com essa obra de justiça literária que se anuncia. É o que farei, ainda que muito modestamente, respingando na memória algumas “boutades” ou (por que não dizer algumas balas?) do genial mulato”.

Entre as muitas boutades (anedotas) de Lima Barreto, que Noronha Santos cultivava na memória, citemos uma: “Notando que jovens psiquiatras, antes de embarcarem no bonde da Praia Vermelha, que os levará ao seu destino, tomam seus últimos tragos, disse Lima Barreto: –Você notou? Eles dizem que o álcool povoa os hospícios. E apesar disso, todos bebem…”[ii]

Noronha Santos talvez esperasse que Elói Pontes (“right man” para a reintrodução) viesse a escrever uma biografia de Lima Barreto e, como grande amigo e confidente do criador de Isaías Caminha, decidiu veicular o arquivo que guardava, tanto em sua residência quanto em sua memória. O jornal A manhã, que mantinha um suplemento literário semanal chamado Autores e livros, dedicou duas edições a Lima Barreto, em 18 de abril e 25 de maio de 1943.

São documentos inestimáveis para a compreensão do legado memorialístico sobre o grande romancista carioca. Na edição de 25 de maio, Noronha Santos teve a sua disposição duas páginas inteiras do jornal, nas quais publicou os “Inéditos de Lima Barreto”, com trechos das cartas trocadas entre os dois amigos, e mais dois artigos – o primeiro deles já havia sido publicado no ano anterior, (o “Anedotário de Lima Barreto”), sobre o qual aludimos acima.

2.

O segundo artigo, denominado “Legenda”, merece um pouco mais de nossa atenção: “O que se está fazendo com Lima Barreto? Foi bom que o sr. Osório Borba se insurgisse há dias contra essa enxurrada de anedotas cretinas – e falsas! – que aos poucos vão desfigurando a verdadeira fisionomia do grande romancista mulato. Alude claramente o sr. Osório Borba a uma crônica de Luiz Edmundo, embora não lhe cite o nome. Não li essa crônica, nem sei onde foi publicada. Mas pelo Rio de Janeiro do meu tempo,[iii] já tinha percebido nele o mais grave de todos os efeitos para um memorialista: baralha tudo, falta-lhe a visão cronológica das épocas relembradas, em uma palavra, não tem memória!”

“Não se revestiria, contudo, de importância maior essa traição voluntária ou não, se não estivesse influenciando as novas gerações, que não conheceram Lima Barreto. Estão dando dele, através de tais informações, malévolas ou levianas, uma representação mentirosa. Uma consequência dessa influência maligna, temo-la na História da Literatura Brasileira, do sr. Nelson Werneck Sodré. Trata-se indubitavelmente de um livro de boa fé. Afirma o sr. Werneck Sodré que em Lima Barreto temos um grande romancista”.

Mas o anedotário que aludimos acima produziu o seu efeito. O Lima Barreto do sr. Werneck Sodré é, sem tirar nem pôr, um vagabundo, uma criatura desprezada e até certo ponto desprezível. Citemos os trechos essenciais dessa fantasmagoria, chocante para todos quantos privaram com Lima Barreto, e não o conhecem somente por pilhérias chulas de botequim: ““Lima Barreto representa, na nossa vida literária, o filho desprezado – o pária. De origem humilde, pobre e desconhecido… ele não conheceria em vida a fama e a fortuna. Talvez nem mesmo tenha sonhado com elas… Seria sempre o isolado, o esquecido, o desprezado… Não teve amigos proeminentes, não teve leitores numerosos, não teve imprensa que o louvasse… Quando morreu, sepultaram-no no cemitério suburbano de Inhaúma, perto do qual residira. Pobre diabo da literatura, mendigo das letras, pária da imprensa… A sociedade anônima das letras não o aceitam… Os que escreviam no seu tempo fingiram ignorá-lo. É necessário entretanto… que se saiba que o Brasil produziu um grande romancista. Um pobre diabo de nome vulgar: Afonso de Lima Barreto”.

E assim se forma uma legenda! Notamos preliminarmente que os dois únicos fatos materiais mencionados pelo sr. Werneck Sodré estão errados. Lima Barreto não tinha nome vulgar, muito ao contrário. Chamava-se Afonso Henriques de Lima Barreto, o que deu motivo a que um veterano ao assistir ao ato de sua inscrição na Escola Politécnica, fizesse essa observação injuriosa: Vejam só! Um mulato ter a audácia de usar o nome de um Rei de Portugal! Também não foi enterrado no cemitério de Inhaúma, mas no de São João Batista e teve um acompanhamento extraordinário à Walt Whitman, onde se confundiam admiradores e amigos seus de todas as classes sociais. Valem esses reparos apenas para mostrar como é falha a documentação do crítico”.[iv]

A citação é longa (como as de Silvio Romero…), mas demonstra muito bem os caminhos tortuosos por onde vai percorrendo a construção histórica de uma personalidade. Por aí podemos perceber a “fama” que tomava conta do escritor, esquecido pelos editores, mas sempre lembrado nos jornais, às vezes como o grande gênio que foi, outras tantas como beberrão, marginal, ressentido, amargurado, louco, entre tantos outros adjetivos negativos.

Tudo isso tem lá sua dose de verdade. Basta lermos o Diário Íntimo ou O diário do hospício. Um texto como “Elogio da morte” já seria suficiente para erguer toda uma biografia de um ser humano atormentado. Assim, a “legenda” deturpada e as confissões e desabafos dos escritos íntimos conformaram o traço melancólico e sofrido do escritor. A maioria das tiradas espirituosas de Lima Barreto, que povoavam o imaginário de seus amigos e dos companheiros das rodas de boêmia, se perdeu.

É ainda Noronha Santos quem nos diz: “A legenda, por sua vez, foi enxertando pilhérias milenárias, caricaturas do não conformismo do escritor rebelado contra os usos e regras do bem viver, e foi isto talvez que terá levado Assis Barbosa, biografo escrupuloso, a fazer tábua rasa de todo o anedotário, que contribuiria, entretanto, para a inteira contribuição desse espírito de tão sugestivas facetas”.

A “tábua rasa” de Assis Barbosa muito provavelmente teve como objetivo não exatamente querer extirpar da legenda o anedotário do autor. Talvez o grande biógrafo tenha se empenhado em mostrar um outro Lima Barreto, sem a pecha deletéria que ia se avolumando em torno de sua figura. Em A vida de Lima Barreto fica muito patente a vontade de Assis Barbosa de colocar outros referenciais acerca da personalidade do escritor carioca. Parece que a figura de Lima Barreto, “aquela da boemia, das anedotas de café ou de botequim, vulgarizada pelo mau gosto de alguns de seus contemporâneos”[v], essa legenda do escritor borracho, não agradava seu grande biografo.

Tanto isso é verdade que Assis Barbosa cita o artigo do jornalista Osório Borba, publicado no jornal Diário de Notícias, em 15 de abril de 1943, mencionado também por Noronha Santos: “Não está evidentemente muito fora do gênero história pitoresca a utilização de anedotas, que podem às vezes não corresponder à estrita verdade histórica, mas servem para caracterizar uma figura, uma época, um quadro de costumes. O que, porém, não me parece nada simpático é a insistência com que se fala, e quase exclusivamente, de Lima Barreto, como herói de casas de bêbados. Parece que, afinal, o nosso segundo grande romancista deste século e um dos maiores do Brasil em todos os tempos, é uma figura que tem aspectos a estudar além da desgraça, do vício que o dominou nos últimos anos de sua existência. Não digo que uma falsa noção a respeito de sua memória oculte, em sua biografia, a vida desregrada que ele teve. Mas o certo é que tudo quanto se tem escrito sobre o magnífico romancista da cidade, o honesto e bravo intérprete dos sentimentos e angústias de seu povo, limita-se quase a anedotas de gosto discutível, como essa do “pra quê tanto pão?”, cuja última versão acima aludida, por sinal, atribui-se ao simplíssimo Lima Barreto”.

3.

O artigo de Osório Borba traz uma das anedotas que teria circulado pela boca de Lima Barreto. A crônica infeliz, que Noronha Santos atribuiu ao memorialista Luiz Edmundo, conta que um tal Lima Cavalcante (“João Barafunda”) [vi] e Lima Barreto bebiam no famoso Bar Adolf, que funcionava na rua da Assembleia (atual República do Peru) e que, depois de 1927, passou a funcionar no Largo da Carioca. A certa altura, os dois amigos se viram na necessidade de comer alguma coisa. Lima Cavalcante se dirige a Lima Barreto e diz: “– Barreto, precisamos comer alguma coisa. – Precisamos, Cavalcanti. Mas, e o dinheiro? Quase não temos mais e ainda é preciso beber pela noite toda!” Lima Cavalcante, então, saca uma nota de 2$000 (dois mil réis) e propõe a solução: Podemos emprenhar 1$900 (mil e novecentos réis) na cachaça e um tostão de pão (um tostão era uma moeda no valor de $100, ou seja, cem réis). No que Lima Barreto teria reagido: – Mas, pra quê tanto pão?”

Outra versão da anedota apareceu na forma de um depoimento concedido pelo médico Reginaldo Fernandes ao escritor Hélcio Pereira da Silva, um dos biógrafos de Lima Barreto, que escreveu Lima Barreto: escritor maldito. Vamos ao trecho: “– Quando ainda moço, fui médico do hospício. Corria lá dentro uma estória que não me esqueço. Estivera internado com o romancista um tal de João Barafunda. Pois bem. Uma noite, Lima Barreto deu a esse camarada dez tostões para que ele comprasse qualquer coisa de comer. No hospício todos contavam essa estória. Pouco depois, João Barafunda volta com nove tostões de cachaça e um tostão de pão. Surpreso, Lima Barreto indaga: ‘Pra que tanto pão?’”.[vii]

O único fato inegável dessa história toda é que os dois escritores, Lima Barreto e “João Barafunda”, engataram uma amizade verdadeira e eram tidos como unha e carne nas rodas de boemia do Rio de Janeiro. Sobre a segunda versão, a do hospício, também me parece muito pouco provável que tal encontro entre os dois escritores tenha ocorrido naquele ambiente, pois, conforme demonstrou Félix Lima Júnior, a internação de João Barafunda ocorreu no ano de 1923, data em que Lima Barreto já havia falecido.

4.

O certo é que nos primeiros anos daquela década de 1940 o nome de Lima Barreto voltava a aparecer na imprensa e não faltaram nos jornais algumas histórias envolvendo o grande romancista. Outra celeuma que surgiu em torno da memória do escritor aconteceu após José Lins do Rêgo publicar, na edição de 21/04/1943 do jornal A manhã, um artigo saudando a possibilidade de reedição das obras completas de Lima Barreto. Reconhecendo o criador do Policarpo Quaresma como um dos maiores escritores que já tivemos, José Lins também traçou algumas características de Lima Barreto e a seu modo de vida, dizendo, entre outras coisas, que o escritor “vivia nas tascas bebendo cachaça, sujo, como um mendigo”.

Na semana seguinte, também em sua coluna do jornal A manhã, José Lins volta ao assunto, agora para comentar uma carta que recebera do arquiteto José Mariano Filho, que conheceu e conviveu com Lima Barreto durante muito tempo. Vejamos um trecho: “José Mariano Filho me escreveu uma carta que abaixo transcrevo para contestar as minhas notas publicadas aqui na A Manhã, na quarta-feira passada, sobre o grande Lima Barreto. José Mariano, que foi amigo do romancista, sentiu-se com algumas expressões que usei com referência a fatos, que julga que não são expressão da verdade. Registro a mágoa de José Mariano, e como ‘limista’ que sou fico de inteiro acordo com o que afirma sobre a importância do romancista. Não vejo, porém, motivo para esconder a vida de Lima Barreto do público. Se ele viveu na desgraça, culpa era mais do mundo em que ele vivia e que desejaria que fosse outro”.

“Mas vamos ouvir o que José Mariano me mandou dizer sobre o seu amigo morto: “Meu caro José Lins. Quero trazer-te meus parabéns pelo artigo, mas não posso fazê-lo sem um justo reparo. Dizes a certa altura do teu artigo: ‘O integrante Lima Barreto, o que vivia nas tascas bebendo cachaça, sujo como um mendigo, nos comunica com os seus vícios, etc.’. A impressão que trazes de Lima Barreto é inteiramente falsa, e seria obra de pura perversidade, se eu não tivesse a certeza de que a ouviste de terceiros. Lima Barreto fizera o curso de humanidades e pensou em tornar-se engenheiro. Circunstâncias que não quero rememorar, porque me foram referidas na intimidade por ele próprio, fizeram-no renunciar ao nobre propósito de exercer a profissão de engenheiro. Sempre o vi nas melhores casas da cidade, Castelões, Café Paris, Colombo e outras, bebendo como outros bebiam. Também não se pode dizer que Lima Barreto se apresentasse em público sujo como um mendigo. Ele tinha horror à vida fútil, e, consequentemente, aos homens que se vestiam com apuro. Quando nos fizemos íntimos, ele me disse: ‘Durante anos te detestei por causa de tua cartola, e só te perdoei porque nunca chegaste a usar polainas. E gritou: Sabes a sorte que espera um homem que usa polainas? O povo diz baixinho: é diplomata…’ Descuidado no modo de trajar, não se pode dizer que o grande artista fosse sujo ou maltrapilho. No fundo, com a sua indefectível roupa azul comprada feita, na rua Larga, ele se supunha maior do que os moços bonitos que infestavam a porta da Livraria Garnier”.[viii]

A intervenção de José Mariano Filho mostra bem a disposição daqueles que conviveram com Lima Barreto de não deixar a memória sobre o escritor se cristalizar na imagem do bêbado que vivia sujo e bebericando pela cidade. É verdade que por várias vezes o próprio Lima escreveu que andara bêbado em demasia, sujo, perambulando pela cidade e às vezes dormindo na sarjeta, literalmente. Mas não observamos em nenhum desses escritos a menor intenção do escritor em se vangloriar por suas bebedeiras, muito ao contrário. São textos sofridos, de quem sentia muita vergonha por ter passado dos limites e se comportado tão mal. A bebida foi uma doença na vida de Lima Barreto.[ix]

5.

Foi por essa época, na segunda metade da década de 1940, que Francisco de Assis Barbosa começou a pesquisar e a participar dos primeiros trabalhos editoriais voltados para o resgate da obra do grande romancista negro. Graças a seu empenho e devoção tivemos a publicação de A vida de Lima Barreto (1952) e depois as Obras completas de Lima Barreto, publicadas pela editora Brasiliense, em 1956. Em virtude desse grande trabalho, o nome e a obra de Lima Barreto saíram de um limbo de quase três décadas.

Na esteira dos trabalhos de Assis Barbosa vieram outras biografias,[x] “semi-biografias”,[xi] além da existência de livros de ficção inspirados na vida do escritor,[xii] peças de teatro,[xiii] contos[xiv] e um recente longa-metragem.[xv] E a observação de Noronha Santos pode ser estendida para essa grande e variada produção, na qual aparece muito pouco daquele Lima Barreto divertido, bom camarada, trocista, o Lima que fazia a alegria dos amigos com seus comentários hilariantes e sua presença sempre marcante, aquele “espírito de tão sugestivas facetas”.

Talvez possa ter um certo exagero, mas com um fundo de verdade, a apresentação de Lima Barreto que encontramos num jornal de 1916, quando do lançamento, em livro, do Triste fim de Policarpo Quaresma: “Sabendo que, dentro de dias, Lima Barreto publicaria um livro, fomos procurá-lo. No Rio de Janeiro, não há quem o não conheça. Ele vive em todos os bairros, arrabaldes, subúrbios, e é visto em toda parte. Pergunte-se a qualquer pessoa: “Tu viste o Lima?” Ela responderá imediatamente: “Vi-o, em Campo Grande, hoje, pela manhã, jogando bilhar.” Pouco vive em casa, que só o tem para dormir, de forma que é motivo de curiosidade de toda a gente saber onde, quando ele escreve e lê. Ninguém lhe contesta a leitura, e é suposição de todos que ele a faz nos bondes, nas barcas, nos trens… A rua é o seu elemento. Todos os seus livros, contos, pequenos escritos ressumam esse seu amor pela rua. Procuramo-lo… Andamos de botequim em botequim, de confeitaria em confeitaria, e fomos encontrá-lo em uma brasserie da rua Sete de Setembro”.[xvi]

Andarilho por vocação, Lima Barreto fazia amigos por onde passava. Era um anedotista, fiel ao espírito do tempo, que os jornais e revistas reproduziam abundantemente. Difícil saber a fidedignidade autoral de todo aquele anedotário atribuído ao criador de Clara dos Anjos e que encontramos espalhado na imprensa, mas isso não diminui o traço de sua personalidade ao qual estamos nos dedicando. Muitas boutades apareceram quando o escritor ainda era vivo. Citemos duas, das dezenas que existem nas edições da revista humorística D. Quixote, criada e dirigida por Bastos Tigre, grande amigo de Lima Barreto: “No Garnier “– Sabes? – observa um poeta cabotino; … apareceu um livro em que é citado meu nome! – Já sei qual é – afirmou Lima Barreto. E, terrível:  É o catálogo telefônico.”[xvii]

“Tendo a Recebedoria proibido a venda de “bebidas a torno”, pediu a Gazeta de Notícias a um funcionário que lhe dissesse o que significa essa expressão. E ele explicou: “Bebida a torno” é uma denominação dada à maneira de se vender qualquer bebida extraída do barril para o copo. – Há, portanto, um remédio – comentava o Lima Barreto. E ensinava: – É o freguês mamar diretamente no barril!”[xviii]

Mesmo após sua morte, o nome de Lima Barreto continuou aparecendo em muitas reminiscências. No carrancudo Jornal do Brasil encontramos até uma espécie de ‘gíria’ lançada pelo escritor: “Lima Barreto, com aquele feitio que era o seu característico, sempre boêmio, mal das roupas, com um ar de revoltado permanente, tinha mesmo nos momentos de crise mais aguda, uma frase alegre, uma alusão ferina. Bom, de uma bondade que tocava as raias da humildade, o Lima – belo talento, tão lamentavelmente desperdiçado – não sabia negar. Havia mesmo uma roda que sabia o dia certo do pagamento da folha dos aposentados do Ministério da Guerra, o que equivale a dizer ‘o momento em que se estava habilitado’… Foi numa dessas ocasiões que, escoado o seu dinheiro, Lima Barreto se viu na contingência de recorrer a um amigo. – Quanto queres? – Uma “serrinha”. – Que vem a ser isso? – Ora, uma prata. E, desde então, num largo círculo, as pratas não eram mais chamadas de outro modo. Agora, que o magnífico espírito se apagou, nos vem à lembrança esse episódio, ante a cada vez maior ausência de trocos, de que os miúdos e as pratas – as “serrinhas” – eram o expoente”.[xix]

Não menos curiosa é a história contada por Armando Gonzaga, jornalista e crítico de teatro, já na década de 1940: “Episódios de que fui testemunha ou de que fui protagonista há muitos. Mas como recordá-los, senão pelo salteado? E é por isso que salto para a calma verdadeiramente impressionante de Lima Barreto, o genial romancista, diante da situação mais aflitiva de que se viu presa a nossa amada cidade. Foi durante a gripe espanhola, calamidade que quase abateu, em dias, a população carioca. Alguns jornais suspenderam a publicação, por falta de pessoal. Na redação de A Notícia, ficamos reduzidos a três pessoas: Narareth Menezes, o Napoleão e eu. Dávamos apenas uma folha com o noticiário da catástrofe. A diretoria da ABI [Associação Brasileira de imprensa] conservou-se em sessão permanente, por ter sido encarregada pelo governo de distribuir socorros à população. Fazíamos parte da diretoria, além de João Melo, Dario de Mendonça, Irineu Veloso, Noronha Santos e eu. Só a ABI perdeu naquele flagelo vinte e tantos sócios. Foi nessa altura que Lima Barreto entrou na associação e um tanto curioso, mas absolutamente calmo, perguntou a Noronha Santos e a mim: – Que é que está havendo por aí, que tem morrido tanta gente? De tudo isso eu não tenho qualquer documento. Tenho apenas a lembrança”.[xx]

6.

Finalizo esse inventário com uma história publicada pela revista Careta, onde Lima Barreto escreveu a grande maioria de suas crônicas. Mais de trinta anos haviam se passado desde a morte do escritor e ele continuava suscitando memórias das mais extravagantes: “Muito moço pertencera Gonzaga [Armando Gonzaga, crítico de teatro e jornalista] ao grupo de intelectuais de que faziam parte Lima Barreto, Raul Braga, Coelho Cavalcanti, etc. Fora principalmente amigo íntimo de Lima Barreto. Certo dia, para não acompanhar Lima Barreto ao bar, pois esse já estava bem entrado na bebida, Gonzaga arrastou-o para o Cine Palais. Exibia-se lá um filme sentimental, com um artista popular naquele tempo, 1921. Lima Barreto concordou em ir, mas à saída estava indignado. – Mas você não gostou, Lima? – Não. O filme é de uma brutalidade sem nome. Tem cenas desnecessárias e até mesmo repugnantes. Então, no momento em que o leão devora aquela mulher… Francamente, é demais! Lima Barreto começara a ver o filme e a certa altura dormira e sonhara talvez com a cena que agora o revoltava. Não havia, na fita, leão devorador de mulheres!”

De outra feita, viera Lima Barreto de Todos os Santos e se abancara num botequim perto da avenida Central, com alguns amigos. Como lhe doíam os pés, pediu a um destes, o Bandeira de Gouveia, que, com um bilhete-recibo, fosse cobrar 50 mil-réis de artigos seus, em O Paiz. O amigo queixou-se de que estava com um pé num chinelo e com o sapato furado: não poderia ir, assim, ao centro da cidade! Lima cortou o nó górdio: tirou seus próprios sapatos, que o outro logo calçou, e ali ficou, só de meias, à espera da volta do emissário. À meia noite este ainda não havia voltado. O botequineiro pôs a todos na rua e Lima Barreto ainda ali estaria à espera do dinheiro e dos sapatos, se não houvesse tomado o partido de voltar de meias para casa.

Dias depois, estava ele numa roda, quando passa o outro: “– Olá, Lima! – Olá, Bandeira! Não havia rancor na rua voz. Os amigos, porém, indignaram-se: – Pois você ainda fala com um tratante desses, depois do proceder indigno que teve para com você? E o Lima, indulgente, talvez irônico: – Ora essa! Pois acham vocês que devo perder um amigo por causa de uns níqueis e de um par de sapatos?”[xxi]

Quer sejam estórias, quer sejam fatos e causos realmente ocorridos, quando pesquisamos a vida de Lima Barreto a partir do ponto de vista de seus amigos e daqueles que com ele conviveram, encontramos outra emanação de sua personalidade, diferente, diria até contrária, àquela carregada de dissabores e amarguras. À persona literária dos romances de acento autobiográfico ou dos textos da intimidade, podemos aproximar essa persona pública, irradiante de companheirismo, alegre, piadista, sociável.

A imagem que se cristalizou no estigma do desregrado, louco, maltrapilho, melancólico, bebum, ressentido etc., isso lá nas décadas de 1920, 30, 40…, carrega consigo uma carga enorme de racismo, que também veio embutido nas análises, interpretações, juízos e vereditos que a obra de Lima Barreto recebeu até pelo menos a década de 1970.

O grande mérito de Francisco de Assis Barbosa foi o de ter se revoltado contra a caricatura grotesca que se forjou nas décadas seguintes à passagem de Lima. No entanto, o grande biógrafo acabou deixando um pouco na sombra o anedotista, o bandarilheiro dos chistes de improviso, o camarada que fazia a alegria das rodas de boemia e das redações dos jornais. É preciso insistir nesse ponto para que a imagem de nosso querido Lima Barreto não continue a ser fomentada unicamente por adjetivações que o cristalizem na figura do triste visionário, do escritor maldito, desregrado, melancólico etc., etc., etc.

*Alexandre Juliete Rosa é mestre em literatura pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Notas


[i] Antonio Noronha Santos. “Prefácio”. Correspondência ativa e passiva. 1º tomoObras completas de Lima Barreto – Vol. XVI. São Paulo. Editora Brasiliense, 1956, p. 11 – 12.

[ii] Antonio Noronha Santos. Anedotário de Lima Barreto. Dom Casmurro, 24 de outubro de 1942, p. 5

[iii] Referência ao livro de memórias O Rio de Janeiro de meu tempo, de Luiz Edmundo.

[iv] Antonio Noronha Santos. Dois artigos sobre Lima Barreto. AUTORES E LIVROS – Suplemento Literário de A Manhã. Rio de Janeiro, 23 de maio de 1943.

[v] Francisco de Assis Barbosa. A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Autêntica, 2017, p. 370.

[vi] O único estudo completo que temos sobre a vida de João Barafunda foi escrito pelo historiador alagoano Félix Lima Junior. Sabemos, através dessa obra, que “João Francisco Coelho Cavalcanti nasceu em São Luís do Quitunde, Alagoas, em 1874, e faleceu no Rio de Janeiro, no Hospício Nacional de Alienados, em 1938. Foi juiz de Direito no estado do Rio Grande do Sul. Romancista, orador, jornalista, poeta e panfletário, conhecido por seu pseudônimo João Barafunda”. (Felix Lima Junior. João Barafunda. Alagoas: Edição do próprio autor, 1976, p. 24.)

[vii] Hélcio Pereira da Silva. Lima Barreto: escritor maldito. Rio de Janeiro. Editora Civilização Brasileira, 1981, p. 94.

[viii] José Lins do Rego. Ainda sobre Lima Barreto. A Manhã, 23 de abril de 1943, p. 4.

[ix] Lima Barreto. “A minha bebedeira e a milha loucura”. In: Diário do Hospício / Cemitério dos Vivos (Organização e notas de Augusto Massi e Murilo M. de Moura). São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 48 – 53.

[x] Moisés Gicovate. Lima Barreto: uma vida atormentada. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1952; Hélcio Pereira da Silva. Lima Barreto: escritor maldito. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981; Régis de Moraes. Lima Barreto. São Paulo: Brasiliense, 1983; Lilia Schwarcz. Lima Barreto: triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

[xi] João Antônio. Calvário e porres do pingente Afonso Henriques de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977; Antônio Arnoni Prado. Lima Barreto: uma autobiografia literária. São Paulo: EDUSP, 2012.

[xii] Enéas Ferraz. História de João Crispim. Rio de Janeiro: Livraria Schettino, 1922; Luciana Hidalgo. O Passeador. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2011.

[xiii] Hélcio Pereira da Silva. Lima Barreto: Maldito de Todos os Santos. Rio de Janeiro: Editora Divulgadora Nacional, 1881; Luís Alberto de Abreu. Lima Barreto ao terceiro dia. São Paulo: Caliban Editorial, 1996; Luiz Marfuz (Dramaturgia), Fernanda Júlia (Direção), Hilton Cobra (atuação) – Cia dos Comuns. Tragam-me a cabeça de Lima Barreto, 2017. Link para assistir ao monólogo: https://www.youtube.com/watch?v=aK_awgCnrUE

[xiv] Nei Lopes. “O Oráculo”. In: Nas águas desta baía há muito tempo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2017, pp. 171 – 185.

[xv] Luiz Antonio Pilar (Direção). Lima Barreto ao terceiro dia. Inspirado na obra de Luís Alberto de Abreu. 2019. 1h44 min. Estreou no circuito nacional em novembro de 2022.

[xvi] O novo livro de Lima Barreto. A Época, 18 de fevereiro de 1916, p. 01. Link para acessar a matéria:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=720100&Pesq=Lima%20Barreto&pagfis=10456

[xvii] D. Quixote, 06 de março de 1921.

[xviii] D. Quixote, 17 de agosto de 1921.

[xix] Uma serrinha… Jornal do Brasil, 26 de novembro de 1922, p. 06. Link para acessar a matéria:

https://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_04&pasta=ano%20192&pesq=%22Lima%20Barreto%22&pagfis=18630

[xx] Memórias de Armando Gonzaga. A Noite, 3 de dezembro de 1918. Link:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=348970_04&pesq=%22Lima%20Barreto%22&pasta=ano%20194&hf=memoria.bn.br&pagfis=55826

[xxi] Coisas do Lima. Careta, 21 de março de 1953, p. 05. Link:

https://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=083712&Pesq=%22Coelho%20Cavalcanti%22&pagfis=96568

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