Por VLADIMIR KORNILOV*
A esperada contraofensiva ucraniana frustra o Ocidente ao ser barrada pelo exército russo
Ao alimentar o regime de Kiev com uma assombrosa quantidade de armamento, o Ocidente pretendia garantir para si mesmo que o sucesso da sua empreitada militar na Ucrânia seria inevitável, buscando convencer seu público de que os combatentes ucranianos treinados no exterior com os mais recentes tanques e táticas da OTAN esmagariam em questão de horas os militares russos, supostamente desmoralizados. Agora já está claro que algo deu muito errado nesses cálculos.
Não custa recordar que, há apenas uma semana, o general aposentado David Petraeus, ex-chefe da CIA e agora uma das principais cabeças falantes na mídia ocidental a respeito do caso ucraniano, havia visitado Kiev, e saiu de lá dizendo que “tudo será resolvido dentro de 72-96 horas” após o início dos ataques ucranianos. Com indisfarçável deleite, ele desfiou os detalhes de como seriam os primeiros ataques ucranianos às posições avançadas da Rússia, como os sabotadores treinados no Ocidente funcionariam perfeitamente, como os sistemas de defesa aérea ocidentais sobrepujariam instantaneamente a força aérea russa e como a guerra eletrônica causaria estragos nos sistemas de comando e controle do exército russo.
E, assim, os analistas ocidentais divagaram sobre objetivos de longo alcance, a partir dessa incensada contraofensiva. Outra cabeça falante assídua, o general norte-americano aposentado Ben Hodges, repetia incansavelmente, dia após dia, que “a Ucrânia libertará a Crimeia até o final do verão de 2023”. Agora David Petraeus é forçado a admitir a impossibilidade desses planos, depositando esperanças de que a Ucrânia consiga, ao menos, uma interrupção do abastecimento logístico da Crimeia.
Os estrategistas on-line ocidentais, lutando em seus sofás contra a Rússia, ficaram estarrecidos já nas primeiras horas do início daquela contraofensiva, vendo as imagens de tanques ucranianos abatidos e se perguntando: por que foi necessário jogar uma dúzia de veículos blindados em um campo minado no que dizem ser um “ataque de teste”? David Petraeus havia pintado o quadro das primeiras 72 horas de combate como se fosse a imagem da perfeição: sapadores, tanques, defesa aérea, guerra eletrônica e… a Blitzkrieg da Ucrânia. E agora eles não entendem quem enviou os veículos blindados ocidentais para os campos minados…
O melhor reconhecimento do fracasso dos cálculos desses estrategistas aflitos é um artigo do raivoso russófobo Julian Repke, no jornal alemão Bild, com a manchete gritante: “Os russos estão lutando melhor do que o esperado”. Todos esses Hodges, Petraeus e Repke, que há muito tempo vêm convencendo o público ocidental de que o exército russo estaria em penosa condição moral, agora se veem surpresos com a firmeza com que os combatentes russos repelem um ataque inimigo após o outro. E Julian Repke é forçado a fazer a admissão mais difícil de todas: “Está ficando cada vez mais claro que provavelmente não haverá ‘vitória até o final do ano’. (…) Em vez disso, os esforços ofensivos da Ucrânia podem se arrastar por anos”. Menos ainda querer chegar à Crimeia “até o final do verão”.
Outros ideólogos da Blitzkrieg ucraniana chegam às mesmas tristes conclusões para o Ocidente. The Economist, que até recentemente previu “uma vitória decisiva para a Ucrânia, que mudará a Europa”, repetindo as histórias de Ben Hodges de que a Crimeia estava prestes a cair, também mudou dramaticamente a retórica. Sua última edição, dedicada à ofensiva ucraniana, tem uma capa com os dedos cruzados. O que mais haveria para ajudar a Ucrânia a vencer?
Enquanto isso, uma análise dos combates que começaram na frente de Zaporozhye leva a revista a conclusões semelhantes, bem longe da retórica vitoriosa que o Ocidente ostentava há apenas algumas semanas. Não apenas isso, The Economist começa a pintar um quadro assustador do fracasso total da Ucrânia e da vitória da Rússia. Mas, no final, “tranquiliza” seus leitores: o cenário mais provável é um conflito prolongado. No entanto, a revista também vê sérios riscos nele, que dizem respeito ao “cansaço do Ocidente” e à possível mudança na Casa Branca após as eleições de 2024.
As histórias sobre a “vitória cabal da Ucrânia” evidentemente minguaram. Agora, até os “falcões” do Ocidente estão falando da necessidade de obter pelo menos pequenos ganhos territoriais durante uma contraofensiva, para que a Ucrânia tenha melhores termos numa negociação com a Rússia do que aqueles que agora dispõe. Trata-se, de fato, de uma mudança dramática de metas e objetivos.
É muito revelador que o chanceler alemão Olaf Scholz repentinamente expresse o desejo de conversar com o presidente russo Vladimir Putin, ainda que admita que o conflito ucraniano está se prolongando.
Já é seguro dizer que a Blitzkrieg ucraniana que o Ocidente esperava foi frustrada pelos competentes esforços do exército russo. Os analistas ocidentais ficam horrorizados ao ver bilhões de dólares em ajuda ocidental queimando nos campos minados de Zaporozhye, enquanto desmoronam as ações das empresas do seu complexo militar-industrial. Junto com os tanques Leopard alemães, o objetivo há muito declarado pelo Ocidente de derrotar a Rússia no campo de batalha também parece estar queimando.
*Vladimir Kornilov é jornalista da agência RIA Novosti.
Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel.
Publicado originalmente na News Front.
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