Por ARACY P. S. BALBANI*
Brizola foi uma pedra imensa no sapato de golpistas e entreguistas, fossem eles brasileiros ou estrangeiros, civis ou militares, e estivessem sob os holofotes ou escondidos nas sombras
Não houve surpresa nenhuma com a divulgação de documentos do governo norte-americano comprovando que Leonel Brizola foi um dos políticos brasileiros mais espionados pela CIA durante a Guerra Fria.
Diz-me quem te espiona e te direi quem és.
O saudoso Leonel Brizola foi uma pedra imensa no sapato de golpistas e entreguistas, fossem eles brasileiros ou estrangeiros, civis ou militares, e estivessem sob os holofotes ou escondidos nas sombras dos arranjos de poder. Leonel Brizola será sempre lembrado por seu apreço à legalidade, à soberania nacional, à ciência e à educação pública de excelente qualidade. Também entrou para a história pelo estilo de governar arrojado e, claro, pelo destemor de enfrentar ninguém menos que os donos da Rede Globo.
Passados mais de 20 anos da morte de Leonel Brizola, o contexto geopolítico é de ameaça explícita à soberania brasileira. A cobiça estrangeira pela posse e exploração de nossas reservas de petróleo, água doce, minérios de importância estratégica e recursos biológicos parece mais feroz do que nunca.
Também preocupa muito a articulação minuciosa, no Brasil e no exterior, de vários atores poderosos capazes de emperrar o programa nuclear brasileiro. O Reator Multipropósito Brasileiro é sinônimo de soberania nacional na produção de radiosótopos com fins pacíficos. A produção do primeiro submarino de propulsão nuclear equipado com armamento convencional da Marinha do Brasil é decisiva para nossa defesa.
Porém, na mesma intensidade, ocorre uma proliferação de políticos golpistas e entreguistas eleitos pelo voto popular no País. O entreguismo dessas figuras vai muito além de usar boné com propaganda de candidato norte-americano, se orgulhar de fritar hambúrguer no Maine, bater continência à bandeira dos EUA ou conceder a Medalha do Mérito Legislativo da nossa Câmara do Deputados a Donald Trump.
As atitudes políticas antipatrióticas são desavergonhadas para desgastar o Governo Federal e o Supremo Tribunal Federal. São incansáveis para privatizar a Petrobras, os Correios e até as praias. Seu objetivo, abrir largas avenidas ao controle estrangeiro do território e do patrimônio nacionais, é celebrado com entusiasmo por vários comentaristas das nossas concessões públicas de rádio e TV e pelas vozes roucas do mercado financeiro.
Leonel Brizola muito provavelmente teria protestado com veemência contra a deportação de brasileiros algemados, acorrentados e humilhados por agentes do governo norte-americano. Mas nossos entreguistas mais toscos e populares, como era previsível, calaram-se diante desse absurdo.
Com a aproximação do julgamento de golpistas graúdos de 08/01/2023, vários deles enfiaram o rabo entre as pernas e picaram a mula para os EUA chorando pitangas ou, quem sabe, blueberries.
Numa sociedade que já elegeu políticos com inteligência, brilho próprio, patriotismo verdadeiro, moral e coragem, como o Brasil fez com Leonel Brizola, passar ao ato da reeleição de picaretas, notoriamente incompetentes e covardes, é um sinal de decadência da autoestima ou do discernimento de muita gente.
À parcela do eleitorado cuja opção é pela mediocridade e pela violência do pacote ultraconservador “pátria, família, gado, fuzil e fascismo” – não vamos incluir Deus nesse imbroglio –, sempre haverá o contraponto das ações pela humanização da política, pela democracia e soberania nacional.
É o caso do Movimento das Sementes da Esperança, lançado recentemente pela Deputada Federal Luiza Erundina (PSOL-SP) e integrado por outros grandes líderes populares, artistas e intelectuais.
O espírito suprapartidário digno, nacionalista e democrático de Leonel Brizola continua vivo entre muitos de nós. Ditadura nunca mais. Sem anistia!
Aracy P. S. Balbani é médica. Atua como especialista exclusivamente no SUS no interior paulista.
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