Por JOANA A. COUTINHO & JOHN KENNEDY FERREIRA
Breve análise sobre as eleições no Brasil e no Maranhão: vitória de Bolsonaro e derrota de Flávio Dino
“Cada realidade concreta, uma análise concreta“ (Lênin)
A intenção desse texto é compreender um pouco os cenários que são desenhados no Brasil pós eleição 2020.
Em seus escritos sobre a “História da Liga Comunista” (1885) Engels lembra que ele e Marx aderiram a Liga Comunista quando as tendências moralistas podiam ser derrotadas, critérios moralistas como ser ou não tabagista, ser ou não ser vegetariano, ser ou não favoráveis a comunidades de mulheres etc., foram substituídos pelo debate político do concreto e do real.
Não eram as concordâncias com questões subjetivas, mas o acordo sobre o programa e a política real e a ação concreta, data desse esforço a construção do famoso Manifesto Comunista e a constituição de um plano de ação político na Primavera dos Povos.
Chamamos atenção para o crescimento de um determinado discurso moralista e identitário (não raro liberal), que domina o cenário dos debates progressistas e de esquerda, onde um dos momentos mais dramático deu-se nos comentários de Djamila Ribeiro sobre Letícia Parks, no programa Roda Viva (09/11/2020) onde só faltou apontar para a criação de um exame de “pureza racial” para definir quem podia ou não falar em nomes dos homens negros e das mulheres negras, como também, ver o esforço de Sísifo de projetos de mandatos coletivos identitários, discutirem como explicar a importância de “ pronomes sem gênero” nas periferias das grandes cidades.
A questão da identidade, e aqui, pensamos em analisar aquela de ordem étnica (já que temos muitas – lugar de nascimento, gênero, time de futebol – dissociada da identidade de classe, não nos apresenta nada de muito inovador, quando pensamos em superação do capitalismo. Ou seja, a luta antirracista é urgente, qualquer pessoa com o mínimo de senso de humanidade, de bom senso, é contra o genocídio do povo negro, principalmente dos jovens e crianças que são mortos nas periferias ou ação direta e /ou indireta do braço armado (privado e) do Estado. Lembramos com horror e indignação das duas crianças mortas por balas perdidas (será?) enquanto brincavam na porta da casa; do menino Miguel, descartado pela patroa no elevador como se fosse um bicho. Do assassinato brutal de um cliente no supermercado Carrefour. A coincidência entre eles: a cor da pele. Todos esses fatos nos enchem de compaixão, raiva e indignação.
Não podemos ignorar em absoluto que o racismo impregnado na sociedade passa por uma “cultura racista”: há centenas de jargões, ditos populares etc, que colocam o negro numa situação particular de vivência que perpassa as relações de classes; mas não podemos dissociar o racismo, primeiro do capitalismo e segundo, da classe de pertencimento. A mesma equação para a questão de gênero. A importância do combate ao machismo, a misoginia é cada vez mais gritante. O Brasil teve no ano de 2019, 3.739 casos de homicídios dolosos de mulheres, destes 1.314 foram feminicídios, ou seja, o crime foi motivado pelo fato de serem mulheres. Vamos insistir no fato de que a luta focada na “identidade” é extremamente importante nesse cenário. No Brasil morre-se por ser mulher, gay e morre mais ainda se for negro. Mas cabe fazer a relação de raça e classe, gênero e classe se queremos entender essa estrutura social e mais ainda se queremos superá-la. Acreditamos ser um grande avanço, ter mulheres negras prefeitas e vereadoras (todo tipo de discriminação é condenável), mas dissociar da classe não resolve, ao contrário, aprofunda-se mais ainda o fosso.
Vamos analisar aqui, os dados da última eleição para prefeitos e vereadores. Quando cruzamos gênero e raça (para uma análise mais completa, é necessário ter outros dados como escolaridade e renda), vemos que a questão é mais complexa. Ou seja, as mulheres sejam brancas, pardas e pretas (auto declaração) estão em partidos de direita, de extrema direita ou de centro. O que é uma contradição em si mesma. Ou seja, as mulheres estão, na maioria, em Partidos Políticos que votam contra seus interesses. E a questão da raça? É a mesma leitura. Cabe aqui, uma pequena explicação que estamos considerando a autodeclaração. Na autodeclaração corre-se o risco de que a pessoa se declara parda, por exemplo, para que o partido cumpra a cota politicamente correta de ter candidatos negros (as) nos seus quadros. A questão da “identidade” se faz urgente e extremamente necessária, como uma pauta da esquerda. Quando dissociada da perspectiva da classe reproduz-se mais do mesmo. Avanços? Incontestavelmente ter mulheres trans, homens trans, negros e negras no parlamento com pauta especificas não é para se desprezar. A questão, no entanto, que nos coloca é o quanto contribui para a organização e avanço das lutas dos trabalhadores.
O panorama das eleições de 2020, é um alerta importante para a discussão que nos colocamos. Em comparação com a eleições de 2016 os eleitos homens foram 86,5% e mulheres 13,5%. Em 2020, aumentou um pouco, 84% e 16% respectivamente. A política partidária continua sendo um universo masculino. As mulheres são maioria na sociedade brasileira (51,8%) e maioria como eleitoras 52,5%. Importante ressaltar que 17% dos municípios brasileiros, ou seja, cerca de 900 cidades, não escolheram nenhuma mulher nem para cargo executivo, tampouco para o legislativo. E 1185 cidades, elegeram apenas uma mulher. Quando o elemento raça/etnia vem à tona, a coisa fica ainda mais gritante: Dos 57.608 vereadores eleitos no país, apenas 6,16% se declararam negros (3.569) e 22,363 pardos, a novidade são os indígenas que totalizaram 182 autodeclaração.
No Maranhão, temos a seguinte composição: Foram eleitas 43 prefeitas Dessas, 23 se declararam pardas, nenhuma negra. Das 471 vereadoras, 257 se declararam pardas e 33 pretas. Vamos usar o conceito de negro para designar pardos e pretos. O que nos chama a atenção são as inserções partidárias. Colocamos somente os partidos com maior número. Os outros tem uma a três representantes:
número. Os outros tem uma a três representantes:
O Partido Republicano criou o Movimento Mulheres Republicanas com a finalidade de aumentar a participação feminina na política. Tem nos seus quadros, uma mulher negra, letrada. “Sim, mulher, aqui no Republicanos você tem vez e voz!”. No seu sucinto programa, começa com uma epígrafe da Margarete Thatcher ““Não sou uma política de consensos, e sim de convicções”. No campo étnico, reivindica uma “democracia racial” que todos sabemos inexistentes: “Não temos divisões nem disputas étnicas e falamos uma única língua”. Veja que esse partido abocanha uma boa parte das representações no legislativo municipal, no Maranhão. A relação se repete em vários Estados.
A novidade de homens e mulheres trans na política é louvável, necessário, mas se fizermos aqui um esforço para pensarmos a identidade isolada do pertencimento a classe (que é parte dessa identidade), vamos encontrar o Thammy Miranda que se elege pelo PL, que defende um “liberalismo econômico”. Cursos de formação política pelo Instituto Fundação Álvaro Valle, uma mulher negra, médica, fala sobre o assédio no local do trabalho. O Congresso em foco, fez um levantamento que expõe o adesismo dos partidos ao governo Bolsonaro. O PSC, DEM, estão com 92% de “governismo”. Entre os transgêneros, vamos destacar Titia Chiba, eleita vereadora pelo PSB em Pompeu-MG, numa clara referência a “defesa dos trabalhadores”. Os mandatos coletivos em São Paulo, Quilombo Periférico (PSOL), e o Dialogue (Podemos) em Araçatuba. As ameaças de morte, o racismo que fica nítido no caso da jovem prefeita eleita em Bauru, Suéllen Rosim, cuja manifestação a associa a pobreza: tem “cara de favelada”, deve ser denunciado, repudiado; e corrobora o que estamos tratando de colocar nesse pequeno texto. A questão das identidades deve ser pensada e tratada associada à classe e não fora dela.
A questão identitária em seu viés moralista e liberal, longe de ampliar a ações das esquerdas contribui para que encolha a “guetos” e renega a segundo plano questões prementes como o retorno da fome, a miserabilização da sociedade brasileira (que atinge, ironicamente, em sua maioria os negros e negras); o fechamento e falência de mais 35% das empresas brasileiras e o consequente desemprego que entre aberto e por desalento ultrapassa o número de 76 milhões de brasileiros (num universo de trabalho de 105 milhões). A perda de poder aquisitivo e o aparecimento de trabalho super explorado com condições que lembram a escravidão, além do antediluviano trabalho uberizado, o sucateamento e venda de empresas brasileiras, a privatização como única pauta nacional, que se desdobra nos municípios no sistema de creches, transportes, saneamento apontando para a privatização de cidades inteiras. Tudo isso ao lado de um discurso proto-fascista e obscurantista que ataca a cultura, ciência e a educação e que deixa as classes sociais populares sem acesso às respostas em áreas como saúde e previdência social, tudo isso dentro de um momento de pandemia!
A ausência de uma pauta política nacional e local denota três possíveis vieses que são necessários ser pensados: a) a falta de uma resposta orquestrada, centrada em políticas desenvolvimentistas e neo desenvolvimentistas, capazes de responder as pautas ultraliberais como ficou patente inclusive nos setores de esquerda e progressista utilizando o mesmo cabedal teórico dos liberais e neoliberais; b) a ausência de organização, diálogo e representação dos estratos populares e classes trabalhadoras, fazendo com que o discurso seja voltado apenas a setores de classes médias e aos setores do proletariado remediado (como funcionários públicos); c) falta de modelos organizativos modernizados capazes de abarcar as novas mobilizações que vê se dando desde 2013, com jovens trabalhadores de aplicativos, de call center, de terceirizados , sem teto, catadores de material reciclados, torcidas uniformizadas, caminhoneiros, motoboys, ferroviários, mineiros, feministas, gays, negros, indígenas e outros setores. Tudo isso empurra as esquerdas e os setores progressistas num discurso envelhecido sem universalidade necessária para enfrentar a conjuntura em especial, a ameaça proto-fascista.
Dessa forma as representações de esquerdas e progressistas vêm conhecendo uma perda de espaços que têm sido preenchidos pela extrema direita, pela direita tradicional e outros setores conservadores. Os números de representações no executivo e na vereança nas cidades apontam para isso:
Representação Esquerda e Centro – Esquerda nas Eleições Municipais 2012-2020:
A ausência de uma análise conjuntural que aborde as ações imperialistas de um lado e o desenvolvimento das forças produtivas de outro reduz a análise a um relativismo e a pensamentos rápidos com baixa densidade teórica e sem análise do concreto (como políticas públicas) e portanto, gerador de práticas e de discursos moralistas sectários onde não raro o principal alvo são os possíveis aliados.
Diversas eleições passaram por situação assim, o exemplo mais dramático foi sem sombra de dúvidas o Rio de Janeiro, onde a ausência de entendimento entre as candidaturas do PT, PDT, REDE e PSOL (Totalizando mais de 28% dos votos) colocaram no segundo turno, como opção de escolha da população, o atual prefeito bolsonarista de extrema direita (21,90%) e a candidatura de um liberal da direita popular (com 37,1%). A mesma situação negativa se apresentou noutras capitais como Palmas e Campo Grande ou em várias cidades importantes como Campinas. Sem contar as inúmeras capitais e municípios importantes onde a esquerda e centro esquerda se dividiram em brigas fratricidas, onde o principal adversário foram os próprios aliados como ficou registrado em Recife e Fortaleza e outros lugares.
Nota-se uma pequena mudança de conjuntura em curso: discursos de volta da Ditadura; do AI5, contra a educação; a ciência etc., perderam a força que tinham entre 2014 a 2019. Isso não significa que o governo Bolsonaro e suas práticas protofascistas como a proteção de fazendeiros que usam trabalho escravo; as queimadas na Amazônia e pantanal— e a impunidade dos envolvidos—, como seus cortes de verbas nas áreas públicas, privatização e perda de direitos sociais e trabalhistas estejam sendo derrotados. Longe disso, significa que articula-se uma mudança de conjuntura onde o discurso antipolítica que elegeu Zema, Witzel e principalmente Bolsonaro perdeu parte do apelo. Como démarche, milhares de pastores e pastoras e seu discurso moralista e seiscentista e, também, militares e seu discurso justiceiro não tiveram sucesso em sua sanha.
Abriu-se a partir de julho de 2019 uma oposição liberal que foi a maior responsável por barrar diversos dos retrocessos em pauta no congresso e no Supremo, destacando-se a nomeação do chefe da PF, a verbas para o FUNDEB, violência contra mulheres, investigação das Fake News, rachadinha etc. Com isso a opinião pública teve um pequeno deslocamento ao centro, mas a vitória eleitoral e o crescimento do bolsonarismo pode ser visto nos números das eleições de 2020.
Eleitores do bolsonarismo
A base de apoio de Bolsonaro cresceu de 6.580.533 a 12.919.704: 96,33%.
Prefeituras do bolsonarismo
Vereadores do bolsonarismo
O voto de centro (direita -fisiológica) teve uma expansão, levando-se em conta que desde o acordo Roberto Jeferson e Bolsonaro, temos uma aliança desse segmento com o governo proto fascista:
Eleitores do Centrão
Prefeituras do Centrão
Vereadores do Centrão
Apesar da contundente ação opositora liberal, comandada pela propaganda diuturna e ativa do principal canal de TV e importantes jornais como o Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, tiveram um efeito pequeno em termos eleitorais:
Eleitores da Direita Neoliberal
Prefeituras da Direita Neoliberal
Vereadores da Direita Neoliberal
Ao considerar uma aproximação entre o bolsonarismo e o Centrão, é possível ver, já no primeiro turno, que o governo Bolsonaro e o pensamento de extrema direita saíram com maior capilaridade e que a pauta moralista, anticultura, anticiência, obscurantista, terá penetração e formulação militante e nas políticas públicas em cidades de diferentes portes e capitais, ou seja, estarão fortalecidos.
Podemos estar diante de um paradoxo: a derrota de candidatos indicados por Bolsonaro, mas a vitória de sua pauta retrógrada.
Segundo turno: Esperança e decepção
Após várias trapalhadas que marcaram fortemente o primeiro turno, parece que o ambiente político entre esquerda e centro esquerda, melhoraram, houve um clima mais empático, militou para isso a reaproximação entre Ciro Gomes e Lula, a postura fraterna do PT em várias capitais, inclusive com as destacadas figuras de Jilmar Tatto e Raul Ponte que se envolveram de corpo e alma no apoio a Boulos e Manu: mostraram compromisso militante. Registra-se também, o esforço do PSOL e PC do B em ampliar o diálogo junto a outros setores partidários e da sociedade. O fato é que houve uma ação militante comum em várias capitais e cidades importantes criando especialmente junto a setores jovens ambiente de renovação e esperança, foi comum ver adesivos dos candidatos de esquerda em motoboy ou carroceiros isso mobilizou a esperança de derrotar o bolsonarismo e de construir projetos de governos mais amplos, além de ter nacionalizado nomes de uma nova geração de esquerda como o de Guilherme Boulos do PSOL, Marília Arraes do PT , João Campos do PSB e de Manuela D’Ávilla do PCdoB.
A eleição no segundo turno em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Fortaleza, Belém e Vitória tiveram a importância de potencializar a construção de uma frente verdadeira e constituir um campo amplo da esquerda, centro esquerda e democrático com uma pauta em defesa da democracia, da soberania, dos direitos dos trabalhadores e do povo e contra o obscurantismo.
No entanto, se no primeiro turno as eleições teve uma pauta regionalizada, centrada em questões locais, o segundo turno foi marcado pela nacionalização do pleito com a entrada de todos as grandes figuras da política nacional, e com isso o antipetismo, antisocialíssimo, anticomunismo, anti trabalhador e povo veio novamente à tona, mostrando que apesar do recuo da conjuntura, não há ainda uma mudança a ponto da esquerda e centro esquerda vencer por suas próprias pernas as forças conservadoras e de extrema direita, como bem ficou mostrado na pesquisa Exame-Ideia de 4 de Dezembro onde Bolsonaro apresenta-se em primeiro lugar na sucessão presidencial.
A decepção veio com os resultados: das cindo capitais que a esquerda disputou, só obteve êxito em Belém com o PSOL. Igualmente, através do PT, disputou o segundo turno em treze cidades importantes, venceu em quatro cidades.
Já a Centro esquerda teve uma melhora no seu desempenho disputou 5 eleições em capitais: Venceu em 4 disputas. Esteve no segundo turno em oito cidades importantes venceu em Petrópolis com o PSB e Serra com o PDT.
Os liberais diminuíram de tamanho, mas venceram em 3 das mais importantes capitais do país e em importantes cidades. Sucesso também fez o Centrão que cresceu em várias cidades e capitais. Os partidos bolsonaristas cresceram muito, praticamente dobraram de tamanho, mas só venceram em São Luís, onde o prefeito eleito não pode ser caracterizado como bolsonarista e sim como uma pessoa mais perto da direita liberal. Mas como sabemos a direita liberal flerta quando lhe convém com o fascismo.
Enfim, houve uma mudança de humor político, mas não uma mudança conjuntural significativa.
Breve análise sobre o primeiro turno no Maranhão e São Luís
As eleições no Maranhão e em sua capital teve como pano de fundo importante a avaliação do Governador Flávio Dino, do PCdoB. Independente das críticas passiveis de serem direcionadas a Dino, ele tem se notabilizado por representar uma ampla aliança que abarca setores da esquerda (PC do B, PT), por partidos de centro Esquerda (PSB, PDT) e inclui nessa aliança setores conservadores da sociedade maranhense (PSDB, DEM) e outras siglas que transitam na base do próprio bolsonarismo (Republicanos, PSL, Avante, Solidariedade etc).Sua aprovação nas eleições de 2018 foi de 59,29%. Conseguiu, mesmo com essa frente amplíssima realizar um governo de oposição ao extremismo de direita do presidente Bolsonaro e desempenhou um papel racional no meio de uma tempestade de obscurantismo colocando-se ao lado das manifestações populares contra o corte de verbas nas universidades e na grande batalha do enfrentamento ao Covid 19, ganhou com essa medida notoriedade nacional e internacional. O resultado foi a ira de Bolsonaro e de sua grei. O “pior dos paraíbas” se credenciou assim à disputa da sucessão nacional e foi com essa ofensiva interna que Flávio Dino se propôs a disputa.
Nas 10 principais cidades do Estado o desempenho não foi o esperado: 1) Imperatriz, segunda cidade do Estado, o vencedor foi do DEM; 2) São José do Ribamar deu PL; 3) em Timon, Dinair Veloso, do PSB, saiu vitoriosa; 4) Caxias, Fabio Gentil dos Republicanos (venceu com facilidade o pleito); 5) Codó, Dr José Francisco do PSD (ganhou numa disputa acirrada); 6) Paço do Lumiar, Paula do PCdoB foi vencedora; 7)Açailândia, deu Republicanos com Aluisio; 8) Bacabal, Edvan Brandão do PDT; 9) Balsas, reelegeu Dr Erik do PDT. Em São Luis, tivemos disputa acirrada no segundo turno entre o Podemos (mais alinhado ao bolsonarismo) e Republicanos (que seu candidato não é orgânico do partido, bom frisar que faz parte da base do Bolsonaro). Ou seja, das dez maiores, somente quatro terá caminho aberto a aliados e nas seis demais são possíveis opositores nesses dois anos finais de governo.
Nas pequenas cidades o cenário não é muito promissor, para o campo progressista: São Pedro dos Crentes todos os vereadores eleitos são do mesmo partido, PSL (sigla pela qual elegeu-se Bolsonaro); outras cidades como Centro do Guilherme, Gov. Newton Belo, Iguape do Meio, Lagoa do Mato e outras, praticamente todos os vereadores foram eleitos pela direita e por bases bolsonaristas. Nessas cidades é possível imaginar a edição de políticas públicas como: “escola sem partido”, desprezo ao combate a COVID19; terceirizações e privatizações; pautas moralistas no geral, como destacadas por alguns ministros como abstinência sexual, ações contra a homoafetividade, aos direitos das mulheres, negros e indígenas e reforço da família patriarcal, tudo isso ao lado de uma redução de gastos públicos e consequentemente aumento do desemprego e da marginalização social e etc.
Chama-nos atenção a vitória da direita com sensacional crescimento do partido Republicanos: teve maior número de votos para prefeitos no computo geral, 491.970 votos, no Maranhão. Conseguiu eleger o terceiro maior número de prefeitos passando de 7 para 24 municípios e sua bancada de vereadores saltou de 111 para 204 vereadores. O crescimento dos partidos alinhados à direita, — mesmo com as ponderações sobre a heterodoxia ideológica dos políticos brasileiros no interior do país e do Maranhão — respondem a ação política de Bolsonaro e pode significar também facilitação para apropriação irregular de terras locais, destruição de florestas, aumento de ações violentas contra aldeias indígenas e quilombos, ribeirinhos etc. Além de criar capilaridade para a disputa estadual e nacional em 2022.
Votos em candidatos do bolsonarismo a prefeito 2020 ***
Prefeituras do bolsonarismo eleitas em 2016 e 2020** (levantamento sujeito a correções)
Vareadores do bolsonarismo eleitos 2016 e 2020
Por sua vez a esquerda que em sua maioria compõe a principal base de apoio a Flávio Dino (exceto a maioria do PSOL, vinculada as ideias lavajatista), teve um desempenho frágil e sofreu uma perda significativa nos governos: diminuído mais que a metade e também nas câmaras de vereadores.
Votos em candidatos da esquerda a prefeito 2020
Prefeituras de esquerda 1º turno 2016 e 2020
A esquerda diminuiu de 53 prefeitos para 23.
Vereadores de esquerda eleitos em 2016 e 2020**
Eleição em São Luís
São Luís é um capítulo à parte. O candidato do PCdoB amargou um quarto lugar na disputa e o segundo turno foi entre um candidato da direita liberal (Eduardo Braide) e um candidato de centro direita, Duarte Junior. Flávio Dino posicionou-se favorável ao seu ex-secretário (e candidato dos REPUBLICANOS). Os dois cenários que foram colocados na principal cidade do estado previam, primeiro a vitória de Duarte; nesse caso manter-se-iam as iniciativas de políticas públicas desenhadas pelo frágil governo Edivaldo Holanda (PDT) e representaria a continuidade das políticas municipais de Flávio Dino com outra roupagem e com diferente intensidade e com um bloco de alianças que poderia caminhar para ruptura conforme o cenário político nacional.
No cenário vitorioso de Eduardo Braide (PODEMOS) traz à baila as políticas de direita e uma pauta privatizante que onerará ainda mais os mais precarizados. Soma-se a isso a mobilização que foi realizada envolvendo todos os grupos e partidos políticos do Estado em apoio a Braide, inclusive com fissuras nos partidos de esquerda com setores minoritários do PT e do PCdoB se posicionando a favor do candidato da direita.
Destacamos que essa mobilização envolveu o Capital Financeiro Monopolista e o mercado de commodities, especialmente através do agronegócio. O crescimento do agronegócio tem alcançado nos últimos 5 anos uma velocidade de 5% ao ano com ampliação de mercado especialmente com a China e outras nações, aumentando de um lado a concentração de renda e poderes e elevando a tensão sobre áreas quilombolas, indígenas, ribeirinhas e demais populações tradicionais e agricultura familiar. Essa tensão encontra em Flávio Dino um dificultador, já que sua ideia política é a pactuação das partes buscando a acomodação entre os setores. Essa visão política já foi derrotada em nível nacional com o Golpe de Estado 2016, mas parece resistir no Maranhão com a ação de Flávio Dino.
O recado das urnas foi claro, o agronegócio não quer negociar, quer superar as amarras que encontra para o seu livre desenvolvimento, e agiu nessas eleições com uma “variação tática” de Mao Tse Tung às avessas: cercou as cidades pela ação dos negócios no campo e agora cerca o Estado com todo o seu poderio buscando tomar o governo em 2022. As chances de reverter esse quadro são pequenas, e exige uma leitura da conjuntura como um todo, exige compreender o tamanho da violência burguesa represada que será transbordada sobre os desfavorecidos, exige pensar novas táticas e uma política de alianças ampla que vá além das próprias fronteiras, exige pensar uma nova agenda política e um novo modelo de desenvolvimento.
A derrota de Flávio Dino, colocando-o numa situação difícil em vistas da sucessão estadual e perdendo força no debate da sucessão nacional e consagrando uma vitória por tabela da pauta proto-fascista de Bolsonaro no Maranhão.
Considerações finais
Em 1938, no ocaso de uma crise profunda que tinha deixado o Chile num intervalo entre uma ditadura e a democracia, com forte crescimento da agenda fascista, houve a campanha presidencial com as tradicionais candidaturas das oligarquias. As esquerdas, na formada Frente de Unidade Popular Chilena, tinham como seu principal representante e querido junto aos setores populares o Marechal Marmaduke Grove que no início da década tinha promovido um levante militar e tomado o poder durante 2 semanas fundando a República Socialista Chilena. Grove era visto como a candidatura natural do Partido Socialista Chileno (PSC) e das esquerdas, porém sua rejeição junto aos setores médios era muito forte, assim levou o Partido Comunista do Chile (PCCh) e o Partido Radical (PR) a apresentarem uma candidatura de esquerda moderada de Pedro Aguirre Cerda, que venceu as eleições por menos de 0,5% e dessa forma desmobilizou a agenda e as políticas fascistas e possibilitou a construção de uma agenda desenvolvimentista social, o mesmo atualmente fez o peronismo na Argentina com a escolha de Alberto Fernández ao invés da preferida das esquerdas, Cristina Kirchner.
Nesse segundo turno tivemos duas eleições simbólicas que nos remete ao aprendizado histórico: a primeira em Vitória (ES) reunindo as candidaturas de esquerda do petista e duas vezes prefeito, José Coser e do candidato da extrema direita, o Delegado Pasolini. Coser defendeu uma pauta visando os interesses do funcionalismo, das liberdades individuais e sociais, dos direitos humanos, dos interesses públicos na cidade e foi derrotado pela pauta de segurança pública, de defesa da família, dos valores morais, da privatização dos próprios etc. Todas as forças sociais políticas conservadoras se juntaram em torno da candidatura de Pasolini e este levou com 17% de preferência dos eleitores, venceu em 47 dos 51 bairros de Vitória. No segundo exemplo tivemos a candidatura de José Sarto PDT e de Capitão Wagner do PROS. O pedetista apresentou uma agenda centrada numa aliança ampla que mobilizasse um processo de desenvolvimento a Fortaleza focada em parceria com setores privados centrada no turismo, pauta de centro esquerda cearense. Já Wagner, apresentou uma pauta típica bolsonarista focada na política de segurança e privatizações. Sarto saiu vitorioso por menos de 3%. Ou seja, se não houver uma pauta aberta entre as esquerdas, centro esquerdas e também com setores democráticos e progressistas, buscando criar uma agenda mínima de compromisso, um programa mínimo as chances de afastar a agenda proto fascista em voga, serão pequenas.
Por último, os setores de esquerdas do Maranhão (e do Brasil ) que pregaram o voto nulo em nome do combate ao autoritarismo “de esquerda” de Flávio Dino, seu personalismo e etc, desprezaram a realidade e estão ajudando a empurrar com sua miopia as populações mais vulneráveis a uma agenda local violenta como a que estamos vivendo no Brasil no pós 2016.
*Joana A. Coutinho é professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA.
*John Kennedy Ferreira é professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMA.
Referências
ENGELS, F . “Para História da Liga Comunista”, disponível em https://www.marxists.org/portugues/marx/1885/10/08.htm 1885,
Roda Viva, https://www.youtube.com/watch?v=jn1AtnzTql8 de 09-11-2020
Notas
** Dados estatísticos revisados pelo Prof. Ulisses Nascimento-UFMA.
* Levantamento sujeito a correções