Crises capitalistas em alta frequência

Imagem: Jeffry Surianto
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BRUNO MACHADO*

Mudanças bruscas nos rumos da política capitalista só ocorrem em momentos de crise social e econômica

Os ciclos econômicos da economia capitalista preveem períodos de êxtase e épocas de falências, dessa forma, não deveria ser surpresa que crises econômicas ocorram recorrentemente no capitalismo global. O que não é normal dentro desses ciclos econômicos é a frequência cada vez maior das crises geradas pelo setor financeiro do capitalismo, descoladas da produção e distribuição de produtos. Nesse início do século XXI, crises geradas pela financeirização da economia têm sido cada vez mais frequentes e têm causado uma instabilidade generalizada no capitalismo mundial.

Uma das principais causas do aumento da frequência das crises financeiras no capitalismo atual é o avanço da inovação financeira no mercado financeiro, buscando maiores retornos no curto prazo. Outra causa, é o aumento do peso do mercado financeiro na economia global. A reordenação das grandes empresas visando maior distribuição de dividendos causa uma menor taxa de investimento na produção e reduz a produtividade do trabalho potencial da economia. Com uma produtividade que não cresce constantemente em um ritmo moderado, o capitalismo se vê em repetidas crises de baixo crescimento.

A imprevisibilidade e o peso do mercado financeiro sobre a economia reduzam investimento e levam a queda do crescimento econômico. Além disso, as altas artificiais das commodities, via especulação nos preços dos derivativos, e altas dos aluguéis, devido as bolhas imobiliárias causadas também pelo mercado financeiro, geram uma inflação financeira, descolada da demanda agregado da economia e do câmbio.

Para compensar o freio causado pela financeirização na produção, as economias centrais ampliam sua busca por territórios a serem explorados, seja via exploração de novos campos de recursos naturais, seja pela conquista de novos mercados consumidores locais. Já na periferia do sistema, a financeirização exige uma maior superexploracao do trabalho para manter um nível crescente de aumento dos retornos sobre os investimentos das empresas capitalistas.

O avanço do imperialismo no centro e da superexploracao do trabalho na periferia causa, tendencialmente, maiores tensões diplomáticas entre os países centrais, aumentando a frequência de disputas econômicas e, em última instância, até militares. Na periferia, a crise social causada pela crise econômica constante leva a uma radicalização política, que dentro da ideologia dominante do capitalismo, acaba levando a ascensão de governos neofascistas nesses países periféricos, principalmente na América Latina e na Ásia.

Dessa maneira, a inovação financeira e o aumento do peso do mercado financeiro na economia real conduzem a um estado global de mais conflitos entre os países centrais e de governos mais exploratórios e violentos nas periferias. Somente a retomada da lógica da economia produtiva sobre a economia financista e o avanço da consciência de classe entre os trabalhadores poderá frear essa elevação de frequência de crises financeiras, ocorrência de guerras e ascensão de governos neofascistas.

A tarefa de imediato da esquerda é combater a sanha do mercado financeiro, contrapondo os modelos de desenvolvimento industrial produtivo e o modelo neoliberal financista. É evidente que tal contradição não existe nas elites nacionais, o que joga nos partidos de massa de esquerda a tarefa de fazer tal enfrentamento. Entretanto, tais mudanças bruscas nos rumos da política capitalista só ocorrem em momentos de crise social e econômica. E de acordo com a atual ideologia política predominante no Brasil, a probabilidade de um governo de esquerda radical chegar ao poder é muito menor do que a eleição de outro governo neofascista.

*Bruno Machado é engenheiro.


O site A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
Clique aqui e veja como

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Tarso Genro Rubens Pinto Lyra Vladimir Safatle Elias Jabbour Michel Goulart da Silva Chico Whitaker Celso Frederico Thomas Piketty Claudio Katz Bento Prado Jr. Michael Roberts Valerio Arcary Paulo Martins Caio Bugiato Alexandre de Freitas Barbosa Fernando Nogueira da Costa Gilberto Maringoni Ricardo Antunes Fábio Konder Comparato José Machado Moita Neto Leonardo Avritzer Mariarosaria Fabris João Carlos Loebens Rafael R. Ioris Jorge Luiz Souto Maior Marjorie C. Marona Tadeu Valadares Eleutério F. S. Prado José Costa Júnior Renato Dagnino Leonardo Boff Érico Andrade José Raimundo Trindade Lucas Fiaschetti Estevez Jean Marc Von Der Weid Maria Rita Kehl Luciano Nascimento Marilena Chauí José Geraldo Couto Andrés del Río Dênis de Moraes Leda Maria Paulani Yuri Martins-Fontes Francisco Pereira de Farias Ari Marcelo Solon Bruno Machado Paulo Nogueira Batista Jr Carlos Tautz Armando Boito Sergio Amadeu da Silveira Luiz Roberto Alves Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Chico Alencar Eugênio Trivinho Flávio R. Kothe Ronald León Núñez Berenice Bento Ricardo Abramovay Francisco Fernandes Ladeira Daniel Brazil Luiz Bernardo Pericás André Singer Atilio A. Boron João Lanari Bo Antônio Sales Rios Neto Vinício Carrilho Martinez João Adolfo Hansen Walnice Nogueira Galvão Antonino Infranca Manuel Domingos Neto José Dirceu Henri Acselrad Paulo Capel Narvai José Luís Fiori Paulo Sérgio Pinheiro Luiz Eduardo Soares Heraldo Campos Daniel Afonso da Silva João Carlos Salles Boaventura de Sousa Santos Eduardo Borges Gerson Almeida Rodrigo de Faria Airton Paschoa Annateresa Fabris Anselm Jappe Marcelo Guimarães Lima Bruno Fabricio Alcebino da Silva Matheus Silveira de Souza Marilia Pacheco Fiorillo Carla Teixeira João Paulo Ayub Fonseca Valerio Arcary Otaviano Helene Andrew Korybko Manchetômetro Fernão Pessoa Ramos Jorge Branco Gilberto Lopes João Sette Whitaker Ferreira Everaldo de Oliveira Andrade Alysson Leandro Mascaro Luiz Werneck Vianna Flávio Aguiar Michael Löwy Henry Burnett Celso Favaretto Igor Felippe Santos Remy José Fontana Benicio Viero Schmidt Eliziário Andrade Lorenzo Vitral Marcos Silva Luiz Marques Ladislau Dowbor Juarez Guimarães Ronaldo Tadeu de Souza Liszt Vieira Kátia Gerab Baggio Denilson Cordeiro Priscila Figueiredo Eleonora Albano Slavoj Žižek Luis Felipe Miguel Eugênio Bucci Leonardo Sacramento Paulo Fernandes Silveira Luís Fernando Vitagliano Salem Nasser João Feres Júnior André Márcio Neves Soares Afrânio Catani Tales Ab'Sáber Daniel Costa Alexandre de Lima Castro Tranjan Samuel Kilsztajn Mário Maestri Luiz Carlos Bresser-Pereira Alexandre Aragão de Albuquerque Jean Pierre Chauvin Ricardo Fabbrini Marcus Ianoni Antonio Martins Bernardo Ricupero Francisco de Oliveira Barros Júnior Lincoln Secco Sandra Bitencourt Marcelo Módolo Luiz Renato Martins Osvaldo Coggiola Ronald Rocha Marcos Aurélio da Silva Julian Rodrigues Gabriel Cohn Dennis Oliveira Milton Pinheiro Ricardo Musse José Micaelson Lacerda Morais Plínio de Arruda Sampaio Jr. Vanderlei Tenório

NOVAS PUBLICAÇÕES