Os apoiadores de Bolsonaro

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Por ANDRÉ SINGER*

Análise e comentário das pesquisas de opinião acerca da popularidade do presidente.

A última pesquisa do instituto Datafolha, realizada no dia 27 de abril, mostrou um quadro novo, uma perda do apoio ao presidente Bolsonaro nos segmentos de renda mais alta. Mais precisamente no setor de renda acima de 10 salários mínimos e, em parte, também no setor com renda familiar mensal entre 5 e 10 salários mínimos.

Esses dados confirmam o que se podia antever já em meados de março, quando começaram os panelaços contra o presidente. A partir daquele momento o presidente começou a participar de manifestações que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião a pandemia já havia chegado ao Brasil e a orientação do Ministério da Saúde recomendava evitar aglomerações. O presidente participou de três manifestações desse tipo em Brasília.

Além de adotar uma atitude de desrespeito às orientações do comando do Ministério da Saúde (antes das trocas de ministros), indicações que seguem as recomendações da Organização Mundial da Saúde, o presidente incentivou manifestações de caráter antidemocrático.

Depois disso, esta perda de apoio entre os seguimentos de renda mais alta se acentuou com a renúncia do ministro da Justiça Sérgio Moro que saiu do cargo denunciando pressões do presidente para interferir politicamente na Polícia Federal. Esses segmentos, importantes para a eleição do presidente Bolsonaro em 2018 começaram nitidamente a se afastar dele.

Muitos apontaram para uma transferência da base de apoio, com a possível adesão de segmentos populares ao presidente Bolsonaro. De fato, essa pesquisa do Datafolha, realizada no dia 27 de abril, registrou um pequeno aumento de apoio a ele entre os mais pobres. Isso quando se compara com a pesquisa da véspera do primeiro turno de 2018. Trata-se de um aumento de cinco pontos percentuais, muito próximo da margem de erro, se é que não está dentro da margem de erro, porque agora as pesquisas são telefônicas.

Essa mudança de metodologia – imposta pela pandemia – diminuiu a confiabilidade dessa comparação, que precisa então ser relativizada. É útil fazê-la, mas quando a diferença numérica é pequena como neste caso – sobretudo em relação aos eleitores com renda familiar mensal de até dois salários mínimos – a comparação não é conclusiva.

Por enquanto o que temos é a hipótese, que pode se confirmar ou não, de que o auxílio de R$600 para os setores que estão sendo afetados gravemente pela diminuição da intensidade das atividades econômicas pode ter gerado esse aumento de apoio ao presidente Bolsonaro.

A indagação que fica em suspenso – e deve ser objeto de análise mais adiante – é sobre o que irá acontecer quando esse auxílio for interrompido, já que ele foi previsto para durar apenas três meses.

O que cabe assinalar neste momento é a presença de uma pequena oscilação nos números de apoio ao presidente na faixa de menor renda. A parcela da população com maior renda constitui ainda o setor em que o apoio ao presidente Bolsonro é mais forte. Seu apoio é de 40% entre os entrevistados com renda familiar mensal com mais de dez salários mínimos. Ele obtém também um apoio considerável entre eleitores com renda familiar mensal de dois a cinco salários mínimos. É importante acompanhar esse conjunto de dados nas próximas pesquisas.

*André Singer é professor titular do Departamento de Ciência Política da USP. Autor, entre outros livros, de Os sentidos do lulismo (Companhia das Letras).

Artigo estabelecido a partir de entrevista concedida a Gustavo Xavier na rádio USP.

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