Francisco Capuano Scarlato

Imagem: Kaique Rocha
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Por FLAVIO AGUIAR & JOSÉ CLÓVIS DE M. LIMA*

A cidade de São Paulo homenageia o professor da USP

A Câmara Municipal da cidade de São Paulo homenageia o professor Francisco Capuano Scarlato hoje, 8 de dezembro, no auditório Milton Santos, no prédio da História e Geografia, na Cidade Universitária da USP. Na cerimônia, às 14 horas, lhe será entregue a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão. A cerimônia pode ser vista no canal Youtube da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Francisco Capuano Scarlato nasceu no bairro do Bixiga, em 1939. Apaixonado pela cidade de São Paulo, dedicou-se ao estudo da metrópole. Formou-se em geografia (1968) e história (1973), com mestrado e doutorado pelo programa de geografia humana da FFLCH-USP, com a tese O real imaginário no bairro do Bixiga: autofagia e renovação urbana, defendida em 1988. Foi assessor do Ministério da educação e da prefeitura da cidade de São Paulo, além de organismos de fomento à pesquisa acadêmica.

Entre seus temas favoritos estão a geografia urbana e regional, e cidades como patrimônio cultural. Atualmente é professor sênior do Departamento de Geografia da FFLCH, com atuação na pós-graduação.

As atividades acadêmicas de Francisco Capuano Scarlato têm dimensão nacional e internacional. Orientou dezenas de mestrandos e doutorandos e possui uma vasta bibliografia publicada. Além disto esteve sempre presente nas lutas por uma universidade pública, democrática, laica e comprometida com as melhores causas do povo brasileiro.

O reconhecimento pela Câmara Municipal de São Paulo do conjunto de seu trabalho evidencia a importância das pesquisas científicas e nas áreas de humanidades realizadas na Universidade de São Paulo, possibilitando um melhor entendimento da realidade e auxiliando na construção de alternativas para uma sociedade mais democrática, mais justa e menos desigual.

Uma de suas atividades preferidas é passear pela Avenida Paulista, evocando a sua história e o “silêncio que havia”, conforme depoimento ao Museu da Pessoa, quando tinha 70 anos, em 2009. Lembra que, quando criança, só ouvia a língua italiana no bairro.

Para ele “a avenida Paulista foi sempre um divisor de águas de duas São Paulo: a antiga, que se estendia do Bixiga até o Centro, e a nova, que descia pelas ladeiras até os Jardins, em direção ao Vale dos Pinheiros. E ela sempre teve, a Avenida Paulista, um marco simbólico de ter sido representativa, vamos assim dizer, do poder, da nobreza”.

Prossegue ele no depoimento: “da nobreza e do poder econômico. Começou como sede da aristocracia, com os grandes casarões, que depois são derrubados para se instalarem os bancos”. Reconhece que durante os anos 1950, “o Centro antigo se esclerosou”, graças ao “novo dinamismos de uma cidade que se industrializava, se transformava, na verdade, na cidade do café, a cidade da indústria, tendo que procurar um novo centro, que comportasse as funções financeiras”.

Francisco Capuano Scarlato destaca ter estudado “a metamorfose que o automóvel trouxe para a cidade de São Paulo” num processo que terminou por devorar o bairro do Bixiga, “absorvido por esse dinamismo de modernização, e o italianismo e a italianidade do Bixiga foi pro ar”…

Evocamos agora um episódio singular na carreira de Francisco Capuano Scarlato. Ao final de 2005 o professor Flavio Aguiar recebeu na USP um grupo de estudantes universitários alemães, organizando para eles uma série de atividades. Entre elas, propiciou-lhes um passeio pelo Centro de São Paulo, liderado pelo professor Scarlato. A andança começou pela Avenida Paulista, prosseguiu pela Bela Vista/Bixiga, chegando ao Centrão.

Depois de passar pelo Viaduto do Chá, o grupo entrou pela rua São Bento, detendo-se na frente do edifício Martinelli, considerado o primeiro arranha-céu do Brasil, com seus hoje modestos 28 andares e 106 metros de altura. Francisco Capuano Scarlato discorria sobre o histórico edifício quando, em meio à multidão que ocupava a rua, ouviu-se o grito de alerta: “olha o rapa” anunciando a chegada dos fiscais da prefeitura que costumam apreender as mercadorias dos vendedores ambulantes sem licença. Um bando deles recolheu as cobertas e lençóis onde expunham suas mercadorias e juntou-se ao grupo de estudantes, como se dele fizessem parte.

Imperturbável, Francisco Capuano Scarlato prosseguiu sua peroração, passando a dirigir-se também aos novos discípulos incorporados, como se ali estivessem desde sempre. E o que aconteceu? Depois que o “rapa” passou, os recém-chegados, muito interessados, continuaram a prestar atenção na aula a céu aberto sobre o centro da cidade, suspendendo, momentaneamente, sua atividade comercial…

Não se tratava, evidentemente, de uma apologia ao comércio ilegal, mas sim de um gesto de solidariedade a quem precisava de ajuda.

Bem, como os estudantes alemães não estavam entendendo nada do que se passava, Francisco Capuano Scarlato, depois que os “novatos” se retiraram, teve a oportunidade de dar mais uma explicação sobre certas características das nossas metrópoles latino-americanas… O amigo Scarlato.

*Flávio Aguiar, jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).

*José Clóvis de M. Lima, funcionário técnico-administrativo da diretoria da FFLCH, é graduado em filosofia pela USP.

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