Plano contra o terror

Imagem: Wendy Wei
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por MANUEL DOMINGOS NETO*

Mostrar o vigor da força popular festejando o tempo bom que haveremos de construir

A posse de Lula deve ser alegremente festejada como um passo espetacular da cidadania na longa luta contra a truculência obscurantista. Cabe uma festa que anime o povo em sua árdua e longa caminhada.

Falta pouco para a posse e os temores que a rondam não se esvaem. Hoje, não há democrata avisado que não tema pela vida de Lula. Como sossegar quando fanáticos raivosos se dão ao terror acoitados por servidores públicos encarregadas de contê-los? Entre os fanáticos, haverá certamente quem queira usar os arsenais privados reunidos com o estímulo de um governo que declarou guerra aos defensores de reformas sociais.

A discussão sobre a conveniência de Lula desfilar em carro aberto no dia da posse revela falta de garantia na contenção de terroristas da extrema direita. Mostra que os servidores encarregados de preservar a lei e ordem não são confiáveis.

Alexandre de Moraes, defensor da democracia, tenta enquadrar criminosos civis. Suas determinações seriam cumpridas se envolvessem militares da ativa e da reserva envolvidos na delinquência política? Quem algemaria generais que não se importam em manchar a farda pregando golpes? Mais que nunca as corporações armadas exibem sua autonomia aloprada.

Lula ainda não mostrou pretensão de exercer o comando supremo das Forças Armadas. Não mencionou suas diretrizes para a Defesa Nacional, condição fundamental para comandar. Mostra capacidade ímpar na costura de alianças eleitorais. Sabe liderar cidadãos. Não aprendeu a enquadrar fileiras. Dá sinais de contemporização com prevaricadores fardados.

Ao orientar o futuro ministro da Defesa a dialogar com chefes militares, Lula os reconhece como atores políticos. Nosso presidente não pode se tornar refém da caserna. Ensinamento atemporal reza que se o poder político não comanda o militar, por ele será comandado.

O que nos cabe fazer? Mostremos o vigor da força popular festejando o tempo bom que haveremos de construir! Exorcizemos a truculência cantando, dançando, pulando de alegria pela posse de Lula! Não para inflar seu ego, mas para oferecer-lhe respaldo necessário para assumir plenamente a chefia-de-Estado. É preciso quebrar a rotina da tutela castrense que falseia a vida republicana.

Multidões devem ocupar praças e ruas em todos os recantos celebrando a brasilidade e a democracia. Gente multicolorida, em efusão, resgatará a bandeira do Brasil vilipendiada pelos inimigos do desenvolvimento e da justiça social.

A festa precisa ser grande o suficiente para imobilizar tanto as corporações politizadas quanto o lobo solitário mais tresloucado. (Uma festa sem foguetório, recomenda minha filha Natália: cabe amedrontar celerados, não animais domésticos.)

A presença de delegações estrangeiras ajudará a consagrar a democracia. Que venham chefes-de-Estado do mundo todo, aliviados pela ausência do delinquente grosseirão que será afastado da presidência de um dos países mais importantes do mundo.

Que testemunhem o valor da alma brasileira.

Os diplomatas e Janja devem caprichar nas rosas para a madame Macron, estupidamente agredida pelo capitão desqualificado.

Festas são fundamentais. A humanidade se reconhece em festas. Festejando, comunidades se identificam e são identificadas. Festejo é congraçamento, confraternização, entrosamento, consagração de valores, afirmação de crenças e, sobretudo, aposta em futuro risonho. Festa é unguento infalível. Acaba com dores lancinantes.

Poderosos sempre organizaram espetáculos para engabelar o povo. Mas, em festas, o povo teima em mostrar disposição própria. Festejos podem animar os brasileiros a isolar o terror. Precisamos de uma festa como nunca se viu na história deste país.

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC, ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq.

O site A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores. Ajude-nos a manter esta ideia.
Clique aqui e veja como

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Um estudo do caso Ailton Krenak1974__Identidade ignorada 21/07/2024 Por MARIA SILVIA CINTRA MARTINS: Prefiro sonhar com Krenak o parentesco com a natureza e com as pedras do que embarcar na naturalização do genocídio
  • Clarice Lispector no cinemacultura a paixão segundo g.h. 22/07/2024 Por LUCIANA MOLINA: Comentário sobre três adaptações cinematográficas da obra de Clarice Lispector
  • O princípio de autodestruiçãoLeonardo Boff 25/07/2024 Por LEONARDO BOFF: Qual ciência é boa para a transformação mundial?
  • Filosofia da práxis como poiésiscultura lenora de barros 24/07/2024 Por GENILDO FERREIRA DA SILVA & JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUZA: Fazer filosofia é, para o Poética, fazer filosofia contemporânea, crítica e temática
  • Que horas são no relógio de guerra da OTAN?José Luís Fiori 17/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada
  • Apagão digitalSergio Amadeu da Silveira 22/07/2024 Por SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA: A catástrofe algorítmica e a nuvem do “apagão”
  • A disputa de Taiwan e a inovação tecnológica na ChinaChina Flag 20/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: A China já é hoje a líder mundial em 37 das 44 tecnologias consideradas mais importantes para o desenvolvimento econômico e militar do futuro
  • A produção ensaística de Ailton Krenakcultura gotas transp 11/07/2024 Por FILIPE DE FREITAS GONÇALVES: Ao radicalizar sua crítica ao capitalismo, Krenak esquece de que o que está levando o mundo a seu fim é o sistema econômico e social em que vivemos e não nossa separação da natureza
  • A radicalidade da vida estéticacultura 04 20/07/2024 Por AMANDA DE ALMEIDA ROMÃO: O sentido da vida para Contardo Calligaris
  • A questão agrária no Brasil — segundo Octávio IanniJose-Raimundo-Trindade2 19/07/2024 Por JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE: As contribuições de Ianni podem auxiliar a reformular o debate agrário brasileiro, sendo que as obras do autor nos apontam os eixos para se repensar a estrutura fundiária brasileira

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES