Manaus é Brasil

Imagem: Paulinho Fluxuz_
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por FRANCISCO FOOT HARDMAN*

Abaixo o governo da morte!

Quanto mais querem esperar para agir a “elite pensante”, os “contrapesos” de nossa democracia falida?

E novamente de Manaus chegam as notícias mais trágicas. A capital mais populosa de nossa Amazônia, que vem sendo destruída aceleradamente pelos celerados do Planalto, agora, de novo, passados poucos meses, torna-se o epicentro da tragédia nacional. Não vale contar os mortos, que viram estatística vazia diante do desgoverno Bolsonaro, que não é só “bagunça” como bem referiu-se a ele a jornalista Helena Chagas; é governo empenhado, sim, na destruição da vida em todas as suas manifestações – economia, meio ambiente, educação, relações internacionais, arte e cultura e, mais do que nunca, saúde pública.

Quanto mais provas desejará o Congresso Nacional do colapso de um presidente que ri da morte de seus cidadãos e passa ao largo de todas as responsabilidades que sua função obriga? Que é preciso ainda para se ver que este governo da morte tem abandonado o povo sofredor em condições penosas que poderiam, todas, ser evitadas?

Deputado Maia e Senador Alcolumbre: sem desculpas! Para além de seus interesses político-pessoais mais mesquinhos, estamos aqui diante de um massacre anunciado de há muito e se desenrolando neste instante a céu aberto sob olhos plácidos de políticos cegos, surdos e mudos para a asfixia literal dos pacientes mortos aos montes em Manaus, pranteados por familiares, vizinhos ou amigos, esquecidos da Pátria que os negou.

Quanto mais o STF e o TSE, como instâncias máximas do judiciário, irão esperar para agir? Querem continuar perversamente a assistir a comédia macabra da Anvisa? Que, sem pudor, agenda uma reunião colegiada para o domingo, 17/01, a ser transmitida no Youtube, para deliberar – oh, questão complexa! – sobre a aprovação em caráter emergencial de vacinações que já deveriam ter começado há um bom tempo? De um anti-ministro da Saúde que só desorganiza para desorganizar?

Burocratas da morte, a história vos julgará! O julgamento moral e político, porém, é imediato.

Porque antes, aqui e agora, é necessário que a nação fraturada, que o povo pobre lançado à sorte, deem um basta definitivo a essa alcateia de insanos. Em meio às multidões de doentes assassinados por incúria e sadismo do governo central, é preciso gritar a urgência do afastamento desse presidente do mal.

Entre tantos omissos e “normalizadores do caos”, não se pode ignorar o manancial de hipocrisia que vaza das intervenções recentes mais infelizes de FHC, quando, do alto de sua empáfia costumeira (sempre turbinada pela grande mídia embevecida com um dos últimos representantes da ideologia paulista), falou e escreveu contra o impeachment de Bolsonaro e a favor de “tolerância” para com o presidente. FHC: raras vezes viu-se tamanho declínio político travestido de bazófia e artimanhas retóricas. Aquele que poderia, com efeito, ter alguma voz ativa na esbórnia geral, escolheu o triste caminho de se converter de Príncipe retirado em Valete de Capitão.

Já os que acreditavam no ministro “Posto Ipiranga”, viram de quantas inoperâncias tem sido capaz. Ou ainda querem ver mais?

Não é possível tolerar tantos delírios funestos, a que se soma agora o inepto chefe do INEP tentando justificar o injustificável, isto é, a decisão igualmente criminosa de realizar a qualquer custo as provas do ENEM, quando seu adiamento por prazo indeterminado é a única decisão que cabe a quem deve zelar pela vida de nossa juventude. O Brasil não suporta mais tanta incúria. E nossos jovens estudantes não podem ser lançados assim, nesta hora, a mais uma aventura nefasta por culpa do MEC.

Alguém, em sã consciência, aposta que daqui até 2022 será melhor? Com o robô-papagaio de Trump instalado em Brasília, ameaçando, em vídeos perversos, mais uma vez, à custa de invectivas sem provas, nosso processo eleitoral? Preparando o clima e o bote? Quantos atentados à democracia e quantos cadáveres serão necessários para que deixemos de tolerar o intolerável? Alguém, com um pingo de lucidez, ainda acredita em respeito ao direito e à democracia da parte de uma família amiga de milicianos?

A consciência democrática que nos resta, em todos os movimentos sociais hoje recuados, em todos os partidos políticos de oposição hoje recolhidos, em todas as instituições colapsadas, deve buscar os meios mais viáveis de se unificar aqui e agora para o único chamamento que ganha sentido à luz da história e da vida brasileira atualmente roubada: Abaixo este governo da morte!

Por isso, nosso apelo aos jornalistas livres e independentes, aos cientistas brasileiros e aos heróis da linha de frente da saúde, que são orgulho de nossa inteligência e de nossa melhor solidariedade humana, aos professores de todos os graus, aos advogados do bem público, aos estudantes secundaristas e universitários, aos juristas do Estado de Direito, aos prefeitos e governadores indignados com este estado de coisas, assim como aos movimentos sociais de todas as regiões e gêneros, negros, indígenas, camponeses, trabalhadores sem-teto e populações ameaçadas por barragens, sindicatos de todas as categorias espoliadas: juntemos nossa voz à nossa ação!

Graças ao bom ar que ainda respiramos, e que nos fazem lembrar com tanta tristeza dos mortos de Manaus sem balão de oxigênio e das tantas milhares de mortes que ainda vão ocorrer pelo atraso deliberado do início da vacinação, podemos fazer de nossa vontade, de nossos corações irmanados e de nossa ação conjunta o elo de esperança para o fim desses dias sinistros: Abaixo este governo da morte!

Manaus é aqui. Manaus é agora. Manaus é Brasil. Nosso país deve apenas e tão-somente retomar a trilha da solidariedade. E remover este governo da destruição, com seus pesadelos e monstros, como lixo pior de nossa história.

*Francisco Foot Hardman, doutor em filosofia pela USP, é professor titular no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp.

Outros artigos de

AUTORES

TEMAS

MAIS AUTORES

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Armando Boito Henry Burnett Chico Alencar José Micaelson Lacerda Morais Fernão Pessoa Ramos André Singer Tadeu Valadares Manuel Domingos Neto Henri Acselrad Claudio Katz André Márcio Neves Soares Marjorie C. Marona Paulo Nogueira Batista Jr Everaldo de Oliveira Andrade Lucas Fiaschetti Estevez Annateresa Fabris Osvaldo Coggiola Eduardo Borges Marcus Ianoni Alysson Leandro Mascaro Flávio R. Kothe Liszt Vieira Paulo Capel Narvai Samuel Kilsztajn João Carlos Salles Paulo Martins Priscila Figueiredo Thomas Piketty Jorge Luiz Souto Maior José Geraldo Couto Marcos Aurélio da Silva Rodrigo de Faria Boaventura de Sousa Santos Anderson Alves Esteves Gilberto Maringoni Caio Bugiato Bento Prado Jr. José Luís Fiori Ronaldo Tadeu de Souza Antonio Martins Igor Felippe Santos Francisco de Oliveira Barros Júnior Leda Maria Paulani Dênis de Moraes Maria Rita Kehl Marcelo Módolo Celso Frederico Fábio Konder Comparato Eugênio Trivinho Plínio de Arruda Sampaio Jr. Bruno Fabricio Alcebino da Silva Ricardo Abramovay João Feres Júnior Luciano Nascimento Fernando Nogueira da Costa Elias Jabbour Ricardo Musse Tales Ab'Sáber Rubens Pinto Lyra Anselm Jappe Michael Roberts Otaviano Helene Daniel Afonso da Silva Berenice Bento Airton Paschoa Leonardo Boff Luiz Carlos Bresser-Pereira Antonino Infranca Walnice Nogueira Galvão Eleonora Albano Remy José Fontana Mariarosaria Fabris Valerio Arcary Daniel Brazil Ricardo Fabbrini João Adolfo Hansen Eliziário Andrade Luiz Werneck Vianna João Carlos Loebens Marilia Pacheco Fiorillo Julian Rodrigues Ronald León Núñez Sergio Amadeu da Silveira Alexandre de Lima Castro Tranjan Marilena Chauí Jean Pierre Chauvin Vanderlei Tenório Alexandre de Freitas Barbosa Carlos Tautz Marcos Silva Matheus Silveira de Souza Leonardo Avritzer Kátia Gerab Baggio Marcelo Guimarães Lima Gabriel Cohn Benicio Viero Schmidt Heraldo Campos João Sette Whitaker Ferreira Vinício Carrilho Martinez Tarso Genro Antônio Sales Rios Neto Francisco Pereira de Farias Atilio A. Boron João Lanari Bo Eugênio Bucci Ari Marcelo Solon Luís Fernando Vitagliano José Dirceu Luiz Roberto Alves Ladislau Dowbor Roberto Bueno José Costa Júnior Afrânio Catani Flávio Aguiar Celso Favaretto Michael Löwy Daniel Costa Gilberto Lopes Paulo Sérgio Pinheiro Jorge Branco Eleutério F. S. Prado Roberto Noritomi Érico Andrade Luiz Renato Martins Slavoj Žižek Sandra Bitencourt Luiz Bernardo Pericás Paulo Fernandes Silveira Renato Dagnino Francisco Fernandes Ladeira Mário Maestri Juarez Guimarães Lincoln Secco José Machado Moita Neto Chico Whitaker Jean Marc Von Der Weid Yuri Martins-Fontes Bruno Machado João Paulo Ayub Fonseca Alexandre Aragão de Albuquerque Valerio Arcary Ronald Rocha Carla Teixeira Vladimir Safatle Lorenzo Vitral Dennis Oliveira Salem Nasser Denilson Cordeiro Leonardo Sacramento Gerson Almeida Luis Felipe Miguel Andrew Korybko José Raimundo Trindade Rafael R. Ioris Manchetômetro Bernardo Ricupero Ricardo Antunes Milton Pinheiro Luiz Eduardo Soares Luiz Marques

NOVAS PUBLICAÇÕES

Pesquisa detalhada