Por RUBEN BAUER NAVEIRA*
O complexo xadrez geopolítico atual com suas múltiplas guerras, desdolarização e as eleições nos EUA
Israel
Já há semanas Israel vem emitindo sinais de que irá desfechar uma grande ofensiva contra o Líbano, para destruir o Hezbollah. Isso seria altamente temerário, posto que o Hezbollah: passou as últimas duas décadas construindo uma rede de túneis e bunkers subterrâneos por todo o sul do Líbano; adquiriu vasta experiência de combate ao lutar por anos na guerra civil da Síria, e; acumulou um estoque estimado em cerca de 150 mil mísseis e foguetes apontados para Israel.
Para tornar tudo mais surreal, Israel vem anunciando abertamente que atacará o Líbano, ou seja, abrindo mão deliberadamente de qualquer elemento-surpresa, o qual seria absolutamente essencial para se atacar um inimigo fortemente entrincheirado. Os líderes israelenses vêm demonstrando imensa presunção (overconfidence) ao abordarem seus planos, algo que soa muito estranho.
A que conclusão a que se poderia chegar? A resposta é daquelas tão aterradoras que soa inverossímil: Israel estaria se preparando para empregar armas nucleares táticas contra o Líbano. Cabe lembrar que Israel não possui mais qualquer “freio” ético ou moral para suas ações, haja visto o que tem feito em Gaza (seguem vídeos de sábado, 22/06 – conteúdo sensível):
Ataques “da Ucrânia” a território russo
As aspas aqui são devidas a não haver nenhum ataque “da Ucrânia” a território russo, somente ataques por parte da OTAN. A cada ataque, são satélites americanos que fornecem as coordenadas do alvo, as quais são programadas por instrutores (sic) da OTAN em armas igualmente ocidentais. A Ucrânia sequer fica tomando conhecimento dos alvos (para reduzir o risco de espionagem pelos russos, e porque não é necessário mesmo), ela apenas empresta a “cara”, para poder levar toda a culpa: é ucraniano somente o piloto que decola e solta o míssil em um ponto pré-determinado, ou o agente infiltrado em território russo que solta o drone.
Como o território russo é gigantesco, é absolutamente impossível as defesas antiaéreas do país cobri-lo integralmente, assim elas protegem apenas aqueles ativos mais importantes. Desta forma os ataques continuarão, e em muitos casos serão bem-sucedidos, especialmente contra a população civil, para procurar convencê-la de que Vladimir Putin é incompetente para protegê-la. Ontem mesmo (domingo 23 de junho, pela manhã), a OTAN…, ops, Ucrânia lançou uma bomba de fragmentação sobre uma multidão de banhistas em uma praia na Crimeia, matando cinco pessoas inclusive duas crianças e ferindo mais de uma centena, muitos gravemente.
Os americanos adorariam provocar uma guerra entre a Europa e a Rússia, fazendo dos europeus o seu novo proxy-bucha-de-canhão após o extermínio em combate da população masculina adulta da Ucrânia (afora aqueles que conseguiram escapar do país). Porém, algumas coisas os americanos não querem, de jeito nenhum: participar diretamente dessa guerra; que soldados americanos sejam atingidos (somente na base aérea de Rammstein na Alemanha há cerca de 40 mil deles), e; levar os russos a empregar armas nucleares táticas. Ou seja, eles querem mais uma guerra localizada, não a Terceira Guerra Mundial (nuclear) – vai gostar de andar na corda bamba assim lá na Ucrânia. Então, os americanos necessitam “dosar” os ataques da OT…, diacho, Ucrânia em território russo, de modo a não chegar ao ponto de obrigar os russos a uma retaliação que venha a cruzar algumas daquelas linhas vermelhas. E, ao mesmo tempo em que eles vêm dosando, eles esticam a corda para testar os limites da Rússia…
Os russos, por sua vez, até aqui não têm retaliado diretamente esses ataques, e muito provavelmente continuarão sem retaliá-los (a menos que a OTAN “pegue pesado” demais, por exemplo, atingindo alguma instalação nuclear, civil ou militar, dos russos). Afinal, a Rússia está vencendo a guerra na Ucrânia, assim ela não precisa morder a isca da escalada jogada pela OTAN. Isso não significa que os russos não estejam retaliando, eles estão, só que de forma indireta (por exemplo, fornecendo armamento de ponta aos inimigos do Ocidente, vide a recente visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte; é de se ver também como o Kremlin reagirá à anunciada invasão por Israel do Líbano).
Desdolarização
No último dia 09 de junho expirou um acordo de 50 anos entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita para venda do petróleo saudita exclusivamente em dólares. Não há, e nem vai haver, confirmação oficial desta não-renovação por parte dos sauditas, assim a coisa passa como se não tivesse acontecido. Porém foi abalado um dos pilares da hegemonia do dólar no mundo.
De todo modo, o restante do mundo (fora Rússia e China) ainda não consegue desdolarizar as suas economias, porque lhes falta um sistema de pagamentos análogo ao SWIFT e, principalmente, porque ainda não existe uma moeda (que terá necessariamente que ser supranacional) alternativa ao dólar que se imponha como novo padrão de referência mundial.
China e Rússia vêm trabalhando muito duro nisso, e a ideia é que tanto o novo sistema de pagamentos quanto a nova moeda venham a ser adotados no âmbito dos BRICS – e as novas adesões de países ao grupo certamente trarão como critério a vontade política pelos novos países de embarcarem nessa empreitada (a propósito, não foi apenas a Argentina que declinou de sua adesão aos BRICS, a Arábia Saudita até o momento não confirmou o seu ingresso que deveria ter ocorrido a 01 de janeiro, deixando-o “em suspenso” – o jogo é bruto).
Será o sucesso dessa nova moeda que representará o prego final no caixão do dólar, e assim China e Rússia se cercarão de todos os cuidados (além de procurarem o melhor timing) para lançá-la.
Eleições nos EUA
Ainda é muito cedo para prever que “Donald Trump vai ganhar”, em especial porque o deep state (que banca Joe Biden) nunca larga o osso facilmente. Os americanos até já cunharam uma expressão, “october surprise”, para se referir a algum evento bombástico que acontece muito próximo da data das eleições (que são em novembro), como uma tentativa de última hora de virar o jogo junto ao eleitorado.
Até o momento, os rumores mais fortes para essa “surprise” falam de uma renúncia de Joe Biden ao cargo de presidente às vésperas da convenção nacional do partido democrata (em setembro, o que consistiria em uma “september surprise” rs). Kamala Harris seguraria a presidência até janeiro, um(a) outro(a) candidato(a) mais competitivo(a) seria ungido(a) na convenção (se for a própria Kamala só se os democratas estiverem muito desesperados), e Biden levaria sozinho para a aposentadoria (ou para o túmulo, se o deep state optar por algo mais dramático) as culpas americanas pela Ucrânia e por Gaza. A conferir.
De todo modo, o primeiro debate televisionado Joe Biden X Donald Trump será quinta-feira agora, dia 27/06, na CNN, e será decisivo para revelar a capacidade (ou incapacidade) de Biden vir a enfrentar Trump nas urnas. Será a prova de fogo para os planos para essa “surprise”.
Houthis
Os Houthis do Iêmen vão poder pedir música no Fantástico, por terem divulgado (semana passada) o terceiro vídeo de alto impacto de suas ações, o do graneleiro grego de bandeira liberiana Tutor, atingido por drones submarinos não-tripulados (e que acabou afundando):
(i) O graneleiro britânico de bandeira de Belize Rubymar:
(ii) O sexto drone de cem milhões de dólares global hawk abatido (você não precisa saber árabe para entender tudinho o que eles falam rs):
(iii) O Tutor:
Há poucos dias (e na esteira do anúncio pelos russos de que passariam a fornecer armamento de ponta aos inimigos do Ocidente, como os Houthis), o comando da Marinha americana anunciou que já está retirando o porta-aviões USS Dwight D. Einsenhower do Golfo de Áden e do Mar Vermelho, alegadamente para… rodízio programado de embarcações – então tá.
*Ruben Bauer Naveira é ativista político. Autor do livro Uma Nova Utopia para o Brasil: Três guias para sairmos do caos (disponível em http://www.brasilutopia.com.br/).
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