Por MANFRED BACK*
O déficit de acertos de previsões econômicas dos economistas Focus é maior que a dívida pública federal, porém, não são responsibilizados pelos erros e eventuais perdas dos clientes
“Subindo e descendo suas curvas de indiferença até desaparecerem em suas próprias abscissas”
(Ted Wheelwright).
“A mudança geracional que permite que novos paradigmas surjam nas ciências não ocorre na economia. O fator final que permite que a economia escape da mudança revolucionária de que ela desesperadamente precisa é bastante irônico: mitos na economia sobrevivem porque, apesar do domínio de nossa política por ideias econômicas, você não precisa de teoria econômica ou economistas para ter uma economia. A economia existe independentemente de economistas, e provavelmente funcionaria muito melhor se os economistas simplesmente não existissem” (Steve Keen).
Os economistas Focus, que posam de cientistas e arautos da aritimética decimal, são deficitários de acertos de previsões, no desvio padrão, acertam muito pouco. Mas porque são tão ouvidos, reconhecidos e respeitados? Se nem os traders, e chefes de tesourarias os escutam, e muito menos os seguem. Só você prezado incauto, ludibriado pelo canto da sereia de equações lineares, travestidas de certezas “científicas”. Já parou para pensar, por que todos eles falam a mesma coisa? E o pior, você e a mídia acreditam!
“Para usar a frase de Nicholas Taleb, os economistas não têm nenhuma ‘pele no jogo’: eles não sofrem nenhuma consequência séria quando seus conselhos estão terrivelmente errados, e há uma miríade de fatores complicadores que eles podem apontar para explicar qualquer falha. Ironicamente, o fato de os economistas não serem estritamente necessários é algo que lhes dá grande poder. Eles são os feiticeiros do capitalismo, mantendo os líderes da nossa sociedade em seu cativeiro enquanto leem as entranhas de seus modelos de equilíbrio geral estocástico dinâmico, enquanto ao mesmo tempo não têm ideia de como essa sociedade realmente funciona”. (Steve Keen)
O fetiche pelo equilíbrio da escola neoclássica só se tornou mais extremo com o tempo.
“Se tudo isso causa dores de cabeça para aqueles nostálgicos pelas antigas parábolas da escrita neoclássica, devemos nos lembrar de que os acadêmicos não nascem para viver uma existência fácil. Devemos respeitar e avaliar os fatos da vida”. (Paul Samuelson 1966)
“A macroeconomia nasceu como um campo distinto na década de 1940, como parte da resposta intelectual à Grande Depressão. O termo então se referia ao corpo de conhecimento e expertise que esperávamos que prevenisse a recorrência daquele desastre econômico. Minha tese nesta palestra é que a macroeconomia neste sentido original teve sucesso: seu problema central de prevenção da depressão foi resolvido, para todos os propósitos práticos, e de fato foi resolvido por muitas décadas”. (Robert Lucas 2003)
Em 2008 foram incapazes de prever a maior crise financeira depois da grande depressão econômica dos anos 1930, parece que esse arsenal alardeado por Robert Lucas não cumpriu sua promessa! Os modelos de “equilíbrio geral estocástico dinâmico” ainda são os cavalos de batalha da economia neoclássica e dos economistas da pesquisa Focus!
“Os estudantes de hoje ainda são obrigados a aprender esses modelos misteriosos e enganosos, como se a crise que eles não conseguiram prever não tivesse ocorrido”. (Steve Keen)
“Teóricos macroeconômicos descartam meros fatos fingindo uma ignorância obtuse sobre afirmações simples como ‘política monetária rígida pode causar recessão’. Seus modelos atribuem flutuações em variáveis agregadas a forças causais imaginárias que não são influenciadas pela ação que qualquer pessoa toma.” (Paul Romer, prêmio Nobel de economia em 2018).
Fazendo uma analogia os flautistas dos modelos, nossos músicos de uma nota só, os economistas Focus cantam numa única voz, agora é dominância fiscal! E você acredita! Eu pergunto: quando eles acertam alguma previsão?
“Uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus oponentes e fazendo-os ver a luz, mas sim porque seus oponentes eventualmente morrem, e uma nova geração cresce familiarizada com ela”. (Max Planck 1949)
“… a visão neoclássica subjacente do capitalismo é altamente sedutora. É uma meritocracia na qual o que você ganha é o que você merece, onde a harmonia impera por causa do equilíbrio e que é livre de coerção: não há necessidade de controle governamental quando o mercado funciona ‘perfeitamente’. Portanto, mesmo que alguns estudantes se afastem da economia neoclássica por causa de uma de suas falhas, ‘verdadeiros crentes’ suficientes podem ser encontrados no corpo estudantil para substituir os ‘verdadeiros crentes’ existentes quando eles se aposentarem”. (Steve Keen)
O déficit de acertos de previsões econômicas dos economistas Focus é maior que a dívida pública federal, porém, não são responsibilizados pelos erros e eventuais perdas dos clientes que seguem cegamente esses oráculos de falsas profecias. Ao contrário, são recompensados com bônus pelas instituições financeiras, além de muitas vezes serem convidados para cargos no Banco Central, Ministério da Fazenda ou Secretaria da Receita Federal.
Soa meio hipócrita, os defensores da meritocracia serem abençoados pelo vil metal e cargos pelos seus erros, faça o que digo, mas não faça o que eu faço! Prêmio não de risco, mas pela incompetência, mas não morrem, quem vai gritar aos quatro cantos do mundo a ode do equilíbrio e da meritocracia como prece diária. Falsos profetas nunca morrem, incautos crentes!
“Em contraste, a engenharia não existe independentemente de engenheiros: você precisa de engenheiros para criar as maravilhas tecnológicas que o resto de nós toma como certas, e quando algo dá errado com as coisas que os engenheiros criam, os engenheiros enfrentam consequências reais: uma ponte em colapso denuncia os engenheiros que não levaram em conta seus harmônicos, um avião caindo implica os engenheiros (ou seus gerentes) que aprovaram um projeto defeituoso”. (Steve Keen)
O tal Focus está mais para Hocus Pocus!
Parafraseando Steve Keen, os economistas Focus não usam matemática: eles abusam dela. “Magicmatics”.
A dominância não é fiscal, é de uma doutrina Doutrina não trabalha com verdades, mas com dogmas e crenças. Doutrina não procura a verdade, mas justificar os dogmas. Doutrina não aceita a incerteza, a infabilidade humana, o não saber o amanhã. Doutrina não tem espaço para humildade, o desconhecer! Comecemos já um plano de ajuste para combater o déficit causado à vida das pessoas e da economia dos cavaleiros do apocalypse: os economistas Focus! E que venha o ajuste de seus erros!
“Os tolos perambulam na escuridão” (Eclesiastes 2:14)
*Manfred Back é graduado em economia pela PUC –SP e mestre em administração pública pela FGV-SP.
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