Por ALEXANDRE ARAGÃO DE ALBUQUERQUE*
Depois das duas decisões históricas do STF, o mundo voltou-se a querer escutar o Presidente Lula
Em abril do ano passado, numa homília do dia 28, o Papa Francisco advertia, ao meditar sobre a condenação de Jesus de Nazaré, para o fato do linchamento público previamente estabelecido pela difusão de notícias e contextos falsos. Diz o Papa: “Ainda hoje vemos em alguns países, quando se quer fazer um Golpe de Estado e eliminar algum político para que não concorra às eleições, faz-se isto: falsas notícias, calúnias, depois confia-se a um juiz daqueles que gostam de criar jurisprudência com este positivismo situacionista que está em moda, e condena-se o político. É um linchamento social”.
O Papa concluiu sua homília exortando os fiéis cristãos católicos para não agirem dessa forma equivocada e iníqua, pedindo a Deus “que os ajude a serem justos em seus julgamentos, jamais começar e nem seguir condenações maciças provocadas pelas calúnias midiáticas”. Certamente aqueles fiéis mais conscientes têm a grande oportunidade de neste Tempo Pascal de operarem seu profundo arrependimento por haver apoiado as injustiças cometidas devido a calúnias midiáticas nessa última quadra política brasileira desde 2016, convertendo-se em sua forma de pensar e agir. Este chamado a conversão contempla também todos os mornos que confortavelmente ficaram em cima do muro.
Com as sentenças do ministro Edson Fachin (STF), no dia 08 de março passado, decidindo, mesmo com um atraso de cinco anos, que a 13ª Vara Federal de Curitiba era incompetente para julgar os processos do Presidente Lula, assomada pela resolução da 5ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) ao decretar a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro (codinome Russo) em sua atuação parcial e partidarizada, agindo como acusador e coordenador das ações fraudulentas de procuradores, concluiu-se uma fase do ciclo de lutas pela retomada da democracia no Brasil. Afinal, quando a Justiça é afetada em sua essência pela ação nefasta de um juiz gatuno e trombadinha, produzindo, em conluio com os meios de comunicação hegemônicos, como resultado de uma perseguição midiática, a prisão política do maior líder brasileiro, afastando-o sumariamente das eleições, a democracia é fortemente vilipendiada.
Depois das duas decisões históricas do STF, o mundo voltou-se a querer escutar o Presidente Lula. Primeiramente a Rede Internacional CNN, na quinta-feira, 18/03, promoveu uma conversa mediada pela âncora internacional, a jornalista Christiane Amanpour. Com uma competente análise da conjunta nacional, Lula destacou que “Bolsonaro, ao invés de comandar o país, prefere acordar às quatro horas da manhã e contar suas mentiras pelo celular nas redes sociais, produzindo fake news como nunca vimos na história do Brasil”.
No dia seguinte, 19, foi a vez do jornal francês “Le Monde”, comandado pelos jornalistas Nicolas Bourcier e Bruno Meyerfeld. Lula lembrou que a primeira viagem após sua libertação foi a Roma, numa audiência com o Papa Francisco, para conversarem sobre uma campanha mundial para combater as desigualdades no mundo. “Não é possível ver pessoas acumulando milhões de dólares, quando no mundo há centenas de milhões de pessoas que dormem sem ter o suficiente para comer. E durante a pandemia, o desemprego e a fome aumentaram. Isto não é tolerável”, afirmou o ex-presidente.
Coube a revista alemã “Der Spiegel”, no dia 26 de março, publicar a sua entrevista com o Presidente Lula. Do corpo da entrevista destacam-se duas particularidades. Em primeiro lugar a conversa de Lula mantida com Angela Merkel solicitando que a chanceler alemã apoie a proposta de quebra de patentes das vacinas, liberando a produção pelos países. Em segundo lugar, denunciou a nível mundial, “o maior genocídio da história do Brasil”. Disse textualmente: “Durante um ano Bolsonaro não levou o vírus a sério, disseminando mentiras. Durante um ano, ele atacou todos os que discordavam dele. Se ele realmente estivesse preocupado com o povo, teria dado o exemplo, colocado uma máscara imediatamente e não teria provocado aglomerações”.
Ontem, 02 de abril, foi a vez da Rádio e Televisão de Portugal (RTP), sob o comando do jornalista José Rodrigues, escutar a voz de Luiz Inácio Lula da Silva. Sem meias palavras, com a autoridade de haver governado o Brasil por dois mandatos (2003-2006; 2007-2010), esclareceu para a opinião pública mundial que “temos um presidente Bolsonaro que não cuidou do povo brasileiro, desrespeitou a ciência e os médicos. A única verdade é que Bolsonaro não pode continuar governando o Brasil”, afirmou taxativamente o Presidente Lula. E completou: “Estou interessado que todo brasileiro tome vacina; que todo brasileiro tenha um auxílio emergencial de pelo menos R$600,00 (seiscentos reais) para se manter; que os pequenos e micro-empresários também recebam um auxílio emergencial, até terminar a covid-19; e interessado em implementar uma política de geração de empregos”.
Também ontem, o influente jornal “The Washington Post”, em seu editorial intitulado “Brazil’s Bolsonaro failed to stop covid-19. Now he may be targeting democracy” (O Brasil de Bolsonaro não conseguiu impedir a covid-19. Agora ele pode estar querendo atacar a democracia), afirmou que “em vez de lutar contra o coronavírus, Bolsonaro parece estar preparando as bases para outro desastre: um golpe político contra os legisladores e eleitores que podem removê-lo do cargo. O claro plano de Bolsonaro é ter tantos homens armados do seu lado o quanto for possível no caso de um impeachment ou um resultado adverso na eleição de 2022”.
Assim, a segunda fase desse ciclo de lutas pela democracia se dá pelo restabelecimento imediato da normalidade política vilipendiada em uma eleição fraudulenta na qual não só o ex-juiz trombadinha, por meio de sua sentença persecutória, impediu a participação do Presidente Lula no pleito, como também o twitter do general Villas Bôas, ameaçando o STF em abril de 2018 no julgamento do Habeas Corpus impetrado agindo abertamente contra a democracia.
O resultado desse golpe expressa-se na condição pária em que o Brasil foi colocado pelo grupo no poder; com dezenas de milhões de desempregados; com a gasolina chegando a R$6,00; o gás de cozinha custando R$90,00; com o retorno ao Mapa da Fome; com o desmantelamento da Petrobrás e do arranjo econômico da engenharia pesada; com quase 350 mil mortos de covid-19, no maior genocídio de nossa história.
*Alexandre Aragão de Albuquerque é mestre em Políticas Públicas e Sociedade pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).