Ucrânia, antes e hoje

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Por OLEG YASINSKY*

O conflito entre a Ucrânia e a Rússia é, na verdade, uma guerra civil

Nos tempos soviéticos em que cresci, a Rússia e a Ucrânia eram um mesmo país, um povo, uma cultura, com suas diferentes nuanças. Se eu tivesse que resumir em um par de palavras, diria que era nossa infância feliz.

Minha própria infância foi na Ucrânia, na União Soviética, e como eu disse, não sentíamos que vivíamos em um país separado, assim como, tenho certeza, nem as crianças na Bielorrússia, Rússia, Armênia, Azerbaijão ou qualquer uma das outras repúblicas. Sentíamos que vivíamos em um grande país, onde, para nos comunicarmos, precisávamos de uma língua comum. E esse idioma era o russo.

No caso da Ucrânia, pelo menos em Kiev, onde cresci, quase todo mundo falava russo. E desde os primeiros anos de escola fomos obrigados a estudar literatura ucraniana e a língua ucraniana. Então éramos bilíngues. Isso era parte do respeito das instituições pela terra em que vivíamos. E não havia contradição, porque as culturas russa e ucraniana se complementam perfeitamente e compartilhavam território, memórias e sonhos.

Pensar em uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia seria uma coisa completamente louca, absolutamente impossível. Ainda estavam frescas as memórias da Segunda Guerra Mundial, que para o nosso povo foi a grande guerra pátria. E, nesta guerra, conseguimos vencer porque não diferenciávamos ucranianos de russos ou de judeus ou de cazaques. Além disso, era considerado de mau gosto enfatizar diferenças nacionais. Claro que cada povo tem suas particularidades, mas isso fazia parte da enorme riqueza de nosso país. De fato, a Ucrânia – que o regime de Kiev agora tenta apresentar como uniforme – também possui uma enorme diversidade étnica, cultural e linguística, dentro do seu próprio território.

Mas eu penso que, com os últimos anos da Perestroika, quando a imprensa se “democratizou” (entre aspas!), ou seja, quando surgiu a imprensa privada – que passou a servir a interesses privados, dos diferentes grupos políticos que iam surgindo, com enorme pressão e influência do Ocidente (e estou falando da era Gorbachev) – mesmo da televisão estatal, ou seja, para toda a União Soviética, começaram a nos contar uma outra história, começaram a nos falar sobre coisas que nunca poderíamos ter ouvido na televisão antes.

Foi um trabalho de mídia muito profissional e convincente, e era um estímulo novo e muito forte para o público. Estando finalmente livres da censura, ávidos por receber essas informações, deixamo-nos perpassar por todo esse discurso, sempre muito anticomunista. Porque ele não era crítico apenas a Stálin ou ao stalinismo, não criticava tão apenas os excessos ou os momentos sombrios da nossa história, mas sim o socialismo como sistema: era uma crítica frontal, cabal, com muita coisa que hoje chamaríamos de fake News –a gente ainda não falava tanto inglês –, e em tudo havia meias-verdades, verdades e puramente mentiras, tudo misturado, tudo revirado. E sem preparo especial, um cidadão comum – habituado até então a apenas um ponto de vista, o oficial – não tinha como se orientar em meio a toda essa avalanche de informações.

No caso da Ucrânia, ao discurso anticomunista adicionou-se o discurso antirrusso, o discurso nacionalista. Por exemplo, os antigos colaboradores nazistas da Ucrânia começaram a ser apresentados como heróis da luta pela “independência”. Passou-se a inculcar, sutil ou diretamente, a ideia de que o povo ucraniano é muito diferente do russo, “porque os russos são mais selvagens que nós, são asiáticos, e nós somos europeus, civilizados, os que têm as casas mais limpinhas; que os russos são todos uns bêbados, e que o povo ucraniano é muito trabalhador” etc etc…. É bastante absurdo isso, porque dentro do território da Ucrânia existem mais diferenças culturais internas do que entre os territórios ucranianos que fazem fronteira com a Rússia e o outro lado.[1]

Em outras palavras, eu penso taxativamente, e agora mais que em qualquer outro momento, que somos um único povo, com a mesma história, com a mesma memória histórica, educados com os mesmos livros, com os mesmos filmes… E por isso também me pergunto praticamente todos os dias: como tudo isso agora é possível?

O conflito entre a Ucrânia e a Rússia, então, é, na verdade, uma guerra civil. Porque se trata de um povo com a mesma memória, um povo de um só território, que durante centenas de anos percebeu este território como a terra de todos nós. Russos e ucranianos, etnicamente, somos, na prática, os mesmos. Não acredito se alguém disser que pode distinguir fisicamente um russo de um ucraniano. É um absurdo. É impossível.

É por isso que acredito que a Ucrânia foi escolhida pelo Ocidente como laboratório para desestabilizar a Rússia. Estou completamente convencido de que, se alguém pegar um pedaço da Rússia do tamanho da Ucrânia, e o isolar com uma cortina urdida pela mídia ocidental por coisa de oito anos, poderá idiotizar muita gente.

E sinto que, lamentavelmente, nossos povos, nossas gentes, ainda são por demais ingênuos, e que agora veem a história como um conto distorcido. Acho que nos faltou mais tino crítico para compreender a história. Mas também não nos esqueçamos de que, nos últimos 30 anos, tanto da história ucraniana como da russa, todos os países da ex-União Soviética foram expostos a esse bombardeio dos shows ocidentais, dos valores ocidentais. E o que esses meios de comunicação trataram de fazer foi reformatar a juventude, mudar nossos olhares, destruir nossas perspectivas.

Na Ucrânia essa política foi ainda mais agressiva; foi, de fato, uma coisa absoluta e completa, e é por isso que esses resultados foram alcançados. Eu diria que a Ucrânia, há oito ou nove anos, era outro país. E agora o povo ucraniano é vítima de uma manipulação midiática e ideológica muito profissional.

É muito difícil para mim falar de inevitabilidade das guerras, porque sempre acreditei que temos que lutar pela paz, pois a guerra é a pior coisa que pode acontecer aos nossos povos. Assim, sempre tendi a ser esperançoso, até o último minuto. No entanto, quando estive na Ucrânia por um bom tempo logo antes do conflito, tudo indicava que a guerra era absolutamente inevitável. A Ucrânia estava fazendo todo o possível para tornar essa guerra inevitável.

A ingenuidade do povo ucraniano e, em geral, do povo da antiga União Soviética ainda é muito grande. É uma espécie de infantilidade política, não sei definir… E as pessoas realmente não entendiam para onde iam. Além disso, não tinham outra fonte alternativa de informação, e há anos os novos programas de educação na Ucrânia vinham preparando as pessoas para serem bucha de canhão. Cheguei ao ponto de me reunir com jornalistas ucranianos formados sob o novo regime e fiquei muito surpreso de que, em um país que tinha sido um país culto da União Soviética, onde muitas coisas não entendíamos, mas sabíamos de muitas outras – éramos ingênuos, mas tínhamos muita informação sobre o mundo e a cultura mundial –, esses rapazes e moças (estou falando de pessoas que se dizem jornalistas, na faixa entre os 25 e 30 anos) não têm ideia de praticamente coisa alguma. É evidente que foram educados sob uma bestial construção ideológica, que se instalou com muita força, um grande poder, o que explica muitas coisas, tão absurdas, tão selvagens, que agora estão acontecendo na Ucrânia.

Em Kiev, que é uma das cidades mais belas da Europa, esse poder, nos últimos oito anos, transformou-a praticamente em um monte de lixo. Era possível já se ver o abandono total de tudo, da infraestrutura ucraniana… tudo herdado da União Soviética, porque não se construiu absolutamente nada depois, e era possível perceber que as pessoas que têm poder em Kiev não sentem absolutamente nada, não estão nem aí para nada; são capatazes para controlar um território ocupado.

Senti-me em um país do Terceiro Mundo, como quando se chega a uma capital, uma cidade pobre de um país latino-americano onde as pessoas mal conseguem sobreviver, e onde todos os meios de comunicação são fortemente controlados por grupos econômicos que mandam em tudo. Para mim foi um impacto psicológico muito forte.

Eu penso que foram dois pontos de inflexão na escalada bélica. O primeiro, mais óbvio, mais evidente, foi o golpe de Estado, aquilo que o Ocidente apresentou ao mundo como “a revolução da dignidade” ou a “revolução de Maidan”, com toda a cobertura midiática requerida. Mas, ainda assim, foi um golpe. Quando os fantoches do Ocidente chegam ao poder, com o apoio das forças efetivamente fascistas da Ucrânia – que eram minoria, mas muito bem organizadas e muito ativas –, podemos ver essa aliança perfeita entre um governo neoliberal e os grupos neonazistas que fazem o trabalho de campo, intimidando a oposição, controlando as praças e as ruas, para que não haja voz de protesto. Quem vive na América Latina conhece perfeitamente a origem do paramilitarismo dentro dos governos neoliberais do continente. E, nesse sentido, creio que a Ucrânia não inventou nada de novo, só repetiu o mesmo esquema.

O segundo ponto de inflexão foi o fechamento dos meios de comunicação, aqueles que davam voz à oposição, o que se consumou entre 2020 e 2021, uma vez que, claramente, quando se está se preparando para uma guerra, é preciso aplicar uma censura de guerra. A partir daí qualquer perspectiva ou voz crítica, por mais fraca, branda ou conciliatória que fosse, passou a ser interpretada como propaganda russa, como ação de agentes de Vladimir Putin. Sem mais explicações e violando a Constituição ucraniana, fecharam-se primeiro os canais de televisão aberta, depois a imprensa escrita, e depois aplicou-se uma censura muito forte à internet. Os ucranianos ficaram então isolados das informações do mundo, sob a pressão da propaganda oficial do governo.

Nesse momento, muitos de nós na Ucrânia reconhecemos que a decisão já tinha sido tomada, e que o país seria sacrificado nessa guerra encomendada ao governo de Kiev pelo seu dono. O ambiente tornou-se irrespirável: já não podíamos mais opinar ou discutir. Entraram em vigor leis de mídia que proibiam falar bem da União Soviética, mesmo que a Ucrânia exista (ou tenha existido, não sei que tempo verbal usar) graças à União Soviética. Até os trabalhadores da televisão riam, a situação era por demais absurda. Mas o público, milhões de pessoas que assistiam a esses programas, não entendiam a ironia da situação. E para a juventude ucraniana, essa foi a única realidade que aprenderam.

Eu vejo na Ucrânia a cópia da América Latina dos anos 1970 e 1980, da época das ditaduras mesmo, ou das pseudodemocracias posteriores. Praticamente tudo foi copiado. Se traduzíssemos alguns discursos de Pinochet para o ucraniano, acho que não haveria nenhuma diferença. Na verdade, muitas vezes cheguei a pensar que alguém está empenhado em traduzir para o ucraniano todos esses discursos, todos esses argumentos, porque são todos muito parecidos.

Se falamos de uma ditadura com as aparências de uma democracia formal, não há melhor exemplo que o da Colômbia – antes de Gustavo Petro, para ser mais preciso. A Colômbia, assim como a Ucrânia, é um país bastante rico, com uma localização geopolítica insuperável, chave na sua região, com uma enorme riqueza natural, um povo trabalhador, um país de riqueza agrícola. A Ucrânia era o celeiro da Europa. E da Colômbia também sabemos a importância do seu meio rural. Vemos em ambos os casos os conflitos em torno da lavoura, esse controle a partir de fora: controle militar, econômico, político, midiático… uma situação em que até um jardineiro da embaixada dos Estados Unidos tem mais poder do que o presidente da República…

Essa coisa tão caricata, tão evidente, que tão bem conhecemos na América Latina, na Ucrânia foi copiada absolutamente ao pé da letra. E como os ucranianos não são latino-americanos, não têm esse trauma histórico. E como os Estados Unidos são uma coisa distante, foi muito fácil enganar a juventude ucraniana e contar outra história sobre os Estados Unidos. Portanto, a situação acaba sendo muito semelhante.

O fenômeno do paramilitarismo dos grupos neonazistas na Ucrânia também parece absolutamente copiado, porque assim como foi muito eficiente na Colômbia, também foi muito eficiente na Ucrânia. Não só para intimidar a oposição política, mas para algo ainda mais importante: agir dentro do Exército ucraniano – como o grupo Azov e outros mais – como se fossem comissários para intimidar os militares, combatendo qualquer dúvida, qualquer dissidência, para evitar qualquer possibilidade de rebelião dentro da Ucrânia; algo que, para o povo ucraniano, seria certamente a melhor solução diante dessa tragédia.[2]

Além disso, na Ucrânia, os paramilitares estão explicitamente usando a simbologia nazista, os nomes dos batalhões nazistas… Eles não escondem suas simpatias. E uma das últimas notícias, infelizmente muito previsível, é de que em Kiev o monumento ao general do Exército Soviético, Nikolai Vatutin, que libertou Kiev dos nazistas, foi demolido, e agora eles estão insinuando profanar a sepultura que estava sob o monumento. É uma consequência lógica do tipo de poder que agora governa o território ucraniano. Eu nem gosto de chamar essa coisa de “Ucrânia”. A Ucrânia para mim é outro país.

O inimigo de nossos povos, ou de nosso povo russo-ucraniano, para ser mais preciso, é o inimigo de todos os povos do mundo inteiro. Mais uma vez, ele quer se apoderar de nossos recursos e territórios. E não se trata apenas da Ucrânia, mas do território pós-soviético, dos nossos países, repúblicas, onde, apesar da imprensa, apesar de tudo, a memória histórica ainda sobrevive. A humanidade teve essa experiência de uma sociedade não capitalista. E que ela não apenas sobreviveu, mas que também conseguiu derrotar o pior inimigo da humanidade, que naquela época era o fascismo alemão. Então é um território muito simbólico, muito importante.

E para acabar com essa memória e se apropriar de nossos recursos, obviamente, é preciso inimizar nossos povos. É para isso que a mídia trabalha. E mais uma vez se faz uso do fascismo, porque, como ferramenta ideológica, é a mais segura para esse grande capital transnacional, que agora está reordenando o planeta.

A diferença é que, desta vez, as elites ocidentais estão mais unidas do que antes, ou melhor, mais controladas pelo governo dos Estados Unidos, e desta vez controlam a arma mais poderosa do nosso tempo: não só a mídia, mas também as redes sociais, que estão se tornando mais importantes que a primeira, pois vemos que os jovens, ou mesmo adultos, passam mais tempo nas redes sociais do que assistindo televisão. Controlando essas mídias, a opinião pública pode ser formatada, coisas que não existem podem ser contadas, verdades podem ser escondidas… tudo o que estão fazendo, e com tanta eficiência.

Assim, acredito que não se trata de uma guerra apenas contra a Rússia. É uma guerra contra todos. O principal alvo de Washington é a China, mas antes de enfrentar a China, é preciso debilitar e dividir a Rússia.

O que estamos tratando de aprender com o presente é não fazer grandes planos para o futuro, porque a realidade é sempre muito complexa. Acho que estamos diante de uma realidade muito difícil. Mas esse é um conflito que muito em breve pode vir a ser resolvido. O sistema acumulou muitas contradições.

A Europa, por sua vez, já é o quintal dos Estados Unidos graças à OTAN e à União Europeia. Lembro-me que, quando ainda vivíamos na União Soviética, já prestes a se dividir em Rússia, Ucrânia ou outros países menores, diziam-nos que a União Europeia seria uma construção que funcionaria como contrapeso aos Estados Unidos, e que ela fortaleceria a independência europeia. E nós realmente gostávamos dessa ideia. Agora estamos vendo que aconteceu exatamente o contrário: que a Europa é o quintal dos Estados Unidos, composta por repúblicas de bananas. É até engraçado ver que Honduras, hoje, com seu atual governo, tem uma política externa muito mais digna, muito mais independente do que países como França ou Alemanha, que para nós eram exemplos da independência europeia.

Em todo esse show da “independência” ucraniana nos últimos anos, usou-se o slogan “a Ucrânia é Europa”, como se isso fosse necessário. A Ucrânia é, de fato, o centro geográfico da Europa. A ironia é que, nesta situação, com a Europa transformada em instrumento ou em refém do governo norte-americano, contra a Rússia ou a China, percebo que a Ucrânia não é a Europa. Em vez disso, agora, a Europa é que é a Ucrânia. Em outras palavras, transformaram a Europa naquilo em que, logo antes, tinham transformado a Ucrânia. Para qualquer olhar atento e sem preconceitos, a Europa está sendo muito evidentemente sacrificada, pois os Estados Unidos estão preparando um confronto armado, com elevada probabilidade nuclear, em território europeu, na esperança de salvar sua própria economia, salvar seus interesses e salvar seu domínio mundial.

Acredito que estamos enfrentando, na Ucrânia, um risco real de uso de armas nucleares; armas que a OTAN pode usar – a OTAN são os Estados Unidos – para acusar a Rússia. Os Estados Unidos já fizeram isso várias vezes. Eles aplicam esse método em praticamente todas as suas guerras: operações de falsa bandeira para acusar outros países de seus crimes militares. Pouco importa, não é? Porque a memória humana é curta. E a memória da mídia é ainda mais curta.

Nesta situação de risco, a resposta definitiva não deve partir dos governos, mas dos povos. Dos povos da Europa, do povo russo e também do povo ucraniano, porque, apesar de tudo, ainda há pessoas que entendem o que está acontecendo. Por outro lado, acredito que esse momento histórico de crise total é também uma grande oportunidade para crescer. Porque, do mesmo modo como no nível pessoal, não se pode crescer sem atravessar uma crise. Também essa atual crise, perigosa e sangrenta, de tão elevado custo humano, é uma possibilidade de dar mais um passo rumo ao humanismo, para que entendamos que, dentro do modelo neoliberal, dentro do “paraíso capitalista”, que não é muito mais que propaganda, não temos qualquer futuro.

Nem eu nem ninguém no mundo sabemos os detalhes ou a forma que os acontecimentos vão tomar, mas acredito que o que está acontecendo agora pode ser uma grande lição para todos nós. Para que a juventude russa volte a aprender que existem outros valores, para que voltemos os olhos para a memória histórica dos nossos povos, para que tenhamos mais contato entre nós mesmos.

Acredito que a humanidade, a Rússia e todas as forças que são realmente contra a morte e contra a guerra não têm outra escolha senão derrotar a OTAN e o grande inimigo da humanidade, que não é outro que não os Estados Unidos.

*Oleg Yasinsky é jornalista, radicado no Chile.

Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel.

Originalmente publicado como entrevista para RT Noticias.

Notas do tradutor


[1] Talvez sem o saber, o autor do depoimento replica o mesmo tipo de constatação empírica que fizeram os geneticistas Richard Lewontin e Richard Levins sobre as “raças”, na década de 70 do século XX: há usualmente mais variação genética entre os membros de uma suposta “raça” do que entre membros de uma e de outra “raça” (fenotipicamente supostas).

[2] Na primeira fase da operação militar russa na Ucrânia, quando a primeira formação do exército ucraniano ainda não havia sido destruída e a Rússia buscava, com uma operação relâmpago de alto impacto, conduzir a Ucrânia à mesa de negociações ― o que foi definitivamente interrompido em 9 de abril de 2022, com a visita do então primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a Kiev –, o governo russo exortou ostensivamente os militares ucranianos a assumirem o controle do governo do país e a isolarem os grupos neonazistas. Como todas as expectativas russas em torno daquele primeiro momento da operação militar, essa também se viu frustrada, lançando o conflito em uma escala prolongada de tempo, que o Ocidente acreditava lhe ser mais conveniente. A partir de então, as frustrações passariam a pesar sobre os planos do Ocidente.

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