Uma intervenção militar defensiva

Imagem: Antonio Friedemann
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Por RIO MAESTRI*

ssia fora da Ucrânia! OTAN longe das fronteiras russas!

A restauração capitalista na China, a partir de 1978, e nos territórios da URSS e do “socialismo real”, desde 1989-91, foi derrota histórica dos trabalhadores. A hecatombe abriu era contrarrevolucionária que subsiste até hoje. Na nova ordem hegemônica, as perdas dos trabalhadores e da população através do mundo foram enormes. Vitorioso, o capital internacional, sob a direção do imperialismo ianque, vislumbrou diante de si um eterno “céu de brigadeiro”. A penetração rapaz nas antigas áreas de economia nacionalizada e planificada e a exacerbação da exploração através do mundo garantiriam-lhe uma centúria de bonança – o “Novo Século Americano”. Marchariam sobre os oprimidos, despreocupados com a sorte da humanidade.

O homem põe, deus dispõe. Sequer gozaram duas décadas de fartura canibalesca. Operações mundiais de imposição da nova ordem resultaram em imensos fracassos, consumindo riquezas inimagináveis – Iraque, Afeganistão, etc. E, sobretudo, na Rússia, a Era Yeltsin [1991-1999], em que a ex-URSS subsistia como quarto de despejo dos capitais internacionais, deu lugar à Era Putin, que reorganizou o espaço capitalista nacional, com aceitação-disciplina do capitalismo gangsteril vigente. Na nova reacomodação, desempenharam importante papel as grandes indústrias estatais petrolífera, armamentista, espacial.

Os ventos orientais foram ainda mais tóxicos. A China inseriu-se na divisão internacional do trabalho produzindo mercadorias de baixo valor agregado, com o suor de legiões de semi-escravos modernos, controlados por Partido Comunista renegado. A seguir, modernizou sua estrutura produtiva, apoiada em capitais nacionais, estatais e internacionais e no seu mercado e força de trabalho amazônicos. O dragão que despertara bafejando nuvens de fumacinha inocentes, passou a expelir labaredas através do mundo. Sob os olhos atônitos, sobretudo do capital ianque globalizado, “dono da bola e do campinho”, surgia o imperialismo chinês, exigindo espaço vital imprescindível para sua sobrevivência.

 

A fome pantagruélica da OTAN

Em 2008, o mundo capitalista conheceu a mais grave crise, desde a Grande Depressão, de 1929. Em estágio senil, a ordem capitalista mostra-se, há muito, incapaz de avançar as forças produtivas materiais, para manter sua taxa de lucro, a não ser produzindo destruição e barbarização social. Apesar da boa vontade de Putin com o Ocidente, para retomar o impulso de fôlego, o grande capital USA e europeu contava com a desorganização do Estado russo e retomada da balcanização iniciada quando da dissolução da URSS. Os imensos territórios russos e limítrofes tornariam-se uma semicolônia, em uma modernização do programa do capital monopólio alemão sob o nazismo.

O imperialismo estadunidense e europeu mantiveram permanente assédio à Rússia, servindo-se de todos os subterfúgios inimagináveis, com destaque inicial para o favorecimento do separatismo checheno. O eixo central da ofensiva foi a pressão militar, que contribuíra à explosão da URSS, em 1991. Apesar das promessas de bêbado, de 1990, de não expandir a OTAN um metro sequer para o Leste, empreendeu-se cavalgada a rédeas soltas, apertando sem dó o cerco militar das fronteiras russas. A OTAN engoliu, primeiro, os países-satélites da antiga URSS e, logo, suas repúblicas desgarradas. Em 1999, a República Tcheca e a Hungria; em 2004, a Bulgária, a Estônia, a Lituânia, a Letônia, a Romênia, a Eslováquia e a Eslovênia; em 2009, a Albânia e a Croácia; em 2017, Montenegro e em 2020, a Macedônia do Norte.

A Rússia de Putin iniciou a resposta a essa ofensiva enviando seus exércitos contra o expansionismo da Geórgia, em 2008. Porém, em salto de qualidade, os USA, com a concordância europeia, promoveram o golpe de estado na Ucrânia, em 2014, que entronizou governo filo-ocidental e russofóbico. Na vitória da “revolução colorida” da EuroMaidan colaboraram milícias neonazistas, herdeiras das hordas ucranianas que secundaram os carniceiros nazistas, na II Guerra Mundial.

 

2014: Odessa sob o terror neonazista

Em 2 de maio de 2014, na continuação do golpe imperialista, as milícias neonazistas queimaram vivos, na Casa dos Sindicatos de Odessa, 42 manifestantes e sindicalistas que se opunham ao golpe de Estado USA-OTAN. A mídia mundial noticiou aqueles e outros sucessos semelhantes como resultado de “confronto” entre pró e anti Euromaidan. Identificados, nenhum dos promotores do massacre foi preso e julgado, tendo progredido na nova ordem. Agora, as milícias neonazistas reivindicam reconhecimento como tropas oficiais.

Em pronta resposta, em 2014, o governo Putin reincorporou a Crimeia à Rússia. Em 1954, ela fora deslocada administrativamente para a Ucrânia, república da URSS. Na época, medida sem maiores consequências para a população local – 58% de etnia russa e 24% são ucranianos, em 2001. Foi Nikita Kruschev, dirigente stalinista com raízes políticas na Ucrânia, que promoveu reorganização administrativa. Ao mesmo tempo, movimento autonomista em Donbas, região operária e industrializada, de população sobretudo russófona, proclamou sua autonomia, originando às repúblicas de Donetsk  e Luhansk, decisão reafirmada, ali e na Crimeia, por plebiscito. Aquelas regiões, com memórias terríveis da ocupação nazista, temiam a nova ordem russofóbica, com tropas auxiliares neonazistas.

Com a resposta ao golpe pró-imperialista da Ucrânia, os céus desabaram sobre a Rússia, com “sanções” de todo tipo, para enfraquecer aquela nação, sensível às cotações do petróleo e do gás. As justificativas foram fantasiosas: intervenção nas eleições ianques; envenenamento de dissidente russo; ataques de hackers moscovitas, etc. As sanções causaram prejuízos enormes à Rússia. Em 2015, também em resposta à ofensiva imperialista, junto com o Irã, o apoio militar russo reverteu a situação pré-colapso da Síria, antiga aliada da URSS e da Rússia. Aquela nação fora ferida por campanha genocida, com meio milhão de mortos, impulsionada pelo conglomerado imperialista ocidental. Massacre festejado pela mídia mundial e não poucas organizações ditas de esquerda.

 

O bicho papão é a China

Mas foi a China imperialista que se tornara o bicho papão do imperialismo ianque, ao lhe disputar a primazia mundial econômica, industrial, financeira e tecnológica. Após inúmeros avisos de Putin, o assédio crescente à Rússia levou-lhe a voltar-se ao Oriente, estabelecendo relações econômicas e diplomáticas com a China que não cessam de crescer. O poder atômico e militar da Rússia e a potência econômica e financeira da China delineavam cenário em que os USA enfrentariam e eventualmente venceriam um confronto localizado com a Rússia ou com a China, separadas, mas não associadas.

Donald Trump ensaiou aproximação à Rússia, para dissociá-la da China, mas recuou sob o ataque do deep state. Com Biden, exacerbou-se a ofensiva anti-Rússia. Ela fora anunciada pela democrata Hillary Clinton, quando candidata à presidência, tendo, como justificativa, a intervenção de Putin na Síria. A Rússia é o ventre mole da aliança Moscou-Pequim. Têm economia relativamente frágil – 40% do PIB da Alemanha, igual ao do Brasil –; exportações centradas no petróleo, nos grãos, nas armas. Os USA mobilizam mais facilmente os súbditos europeus contra a Rússia, inimigo eterno morando ao lado, ao contrário da China, perdida no longínquo Oriente e fonte de bons negócios. A derrota-desorganização da Rússia é a antessala da ofensiva anti-chinesa, em condições significativamente melhores. Antecedida ou precedida do realinhamento forçado de Cuba, Irã, Síria, República Popular da Coreia.

Em 4 de fevereiro, na China, na abertura das Olimpíadas de Inverno, sob o boicote dos USA e aliados, Xi Jinping e Vladimir Putin acordaram certamente o apoio chinês contra as duríssimas retorsões que se seguiriam à invasão da Ucrânia. Sucessos que a China acompanha interessada, já que promete recuperar pelas armas a província desgarrada, caso declare sua independência. Taiwan, desde 1949 sob a proteção ianque, funciona como imenso porta-avião hostil plantado diante da costa chinesa.

A declaração conclusiva do encontro propunha a oposição a qualquer espraiar da OTAN e a reafirmação do direito da China a Taiwan. Os dois países vêm estreitado os laços militares, sem jamais assinarem tratado explícito de mútua defesa. A declaração afirma que prosseguirão, “sem descanso”, a coordenação estratégica de suas forças e se anteporão, em associação, às “ingerências externas e às ameaças à segurança regional”.

 

Ucrânia: prato forte

Com Joe Biden, a ofensiva anti-russa radicalizou-se. Em 23 de junho de 2021, o destróier inglês “HMS Defender” avançou sobre as águas territoriais russas, no mar Negro, em clara provocação. O prato forte da ofensiva imperialista seguiu sendo a incorporação crescente, de fato, da Ucrânia à OTAN, à espera da adesão formal. Avançou-se a padronização dos armamentos do país com os da OTAN, que passou a treinar tropas ucranianas. Integrou-se o sistema de controle militar ucraniano ao da Organização e planejaram-se manobras militares conjuntas, para 2022. Falou-se na construção de armas atômicas pela Ucrânia, com as condições para tal.

A constituição de um governo fantoche pró-imperialista e russofóbico, em 2014, prosseguiu com a eleição manipulada de presidente pré-fabricado. Ele se candidatou sugerindo aproximação com a a Rússia e ampliou as iniciativas contra as minorias russófonas e cristãs ortodoxas, em operação de limpeza étnico-cultural-linguística. As milícias neo-nazistas e ultra-nacionalistas seguiram agindo no país. A integração da Ucrânia à OTAN aproximaria armamentos balísticos das fronteiras russas, criando situação indefensável no caso de ataque preventivo. A incorporação à OTAN foi inscrita na Constituição ucraniana.

Trataria-se de golpe de graça na estrutura defensiva da Rússia, que perdeu, com a invasão alemã, em 22 de junho de 1941, mais de vinte milhões de habitantes. É uma frase vazia propor que a operação precaucional russa na Ucrânia não tem sentido pois o “arsenal nuclear da Rússia ainda é mais do que suficiente para protegê-la de qualquer país do mundo.” A Rússia teme, com a aproximação da OTAN a suas fronteiras, perder a situação de paridade, mesmo relativa, quanto à capacidade de resposta a um ataque preventivo. A distância do disparo missilístico é a vantagem mortal. Por isso, os USA impediram a colocação de armas atômicas em Cuba. Quanto a confrontos militares localizados, eles sempre se deram com tropas de terra, mar e ar, como agora na Ucrânia.

 

Biden preparou a invasão da Ucrânia

Com a faca cada vez mais próxima ao pescoço, o governo Putin propôs tratados que garantissem a segurança da Rússia. Ou seja, respeito ao acordo de 1990. Exigia a não incorporação de fato ou legal da Ucrânia à OTAN e o recuo da Organização das antigas nações-satélites da Rússia e de suas ex-repúblicas. Em 21 de fevereiro, em longa locução, quando do reconhecimento das Repúblicas populares de Donbas, lembrou, sem citar, as consequências desastrosas para a defesa da URSS, da contemporização de J. Stálin diante do inimigo nazista.

Os USA e o clube imperialista europeu responderam com desdém ao pedido de discussão, reafirmando o direito “democrático” da Ucrânia de incorporar-se a OTAN. Direito que os USA negaram, em 1961, à Cuba de proteger-se com armas atômicas. Reafirmaram cinicamente o pacifismo da OTAN, com uma longa e sangrenta ficha criminal, na Europa e fora dela. Biden não previu com uma bola de cristal a invasão da Ucrânia. Ele literalmente obrigou Putin a tal iniciativa, sem lhe deixar outra saída. A invasão da Ucrânia foi objetivo preparado e perseguido, para extrapolar ao infinito o ataque econômico à Rússia. Desta vez, com o apoio frenético das populações europeias e mundiais eletrizadas pela grande mídia e, o que é estranho, de partidos e movimentos que se reivindicam da esquerda.

 

A posição dos trabalhadores e dos socialistas

A Rússia é uma nação de economia capitalista, sob o governo autoritário de Putin, que reprime os trabalhadores, os sindicatos e todas as oposições. Governo que pratica orgulhoso o ataque a direitos civis básicos – das mulheres e homossexuais, sobretudo. Nada disso deve ser empecilho ou desculpa para os trabalhadores, os socialistas, os homens e mulheres de bem não hipotecarem apoio à Rússia, em sua intervenção militar defensiva na Ucrânia, país subsumido à ofensiva imperialista.

Não se trata da defesa, crítica ou ataque a um dirigente, a uma cultura e tradições, a uma ordem político-social. Mas sim da defesa da autonomia e independência nacional de uma nação assediada e atacada por nações imperialistas, que almejam sua destruição. Pouco importa que ele seja capitalista ou mesmo feudal. A defesa incondicional da Sérvia, contra o bombardeio assassino da OTAN, independia da avaliação sobre Slobodan Milošević. O mesmo ocorria com Saddam Hussein, para o Iraque; Bashar al-Assad, para a Síria; Muammar al-Gaddafi para a Líbia ou do herdeiro rechonchudo do poder na República Popular da Coreia. Essas lideranças são escusas para ataques imperialistas “democráticos” que buscaram e buscam destruir aquelas, para submetê-las plenamente a sua dominação.

Na esquerda, mergulhada na confusão, viceja a proposta que não interessam aos trabalhadores o sentido e o resultado do confronto USA-Rússia, já que se trataria de disputa entre nações capitalistas e imperialistas. A única contradição que importa seria a dos trabalhadores contra o capital. É lembrada a proposta de “derrotismo revolucionário”, a genial orientação de V. Lênin, agitada junto às tropas alemãs e tsaristas, na I Guerra Mundial. Na época, de avanço da revolução na Europa e na Rússia, com fortíssimas organizações operárias, essa consigna não era um pastel recheado de vento. Hoje, vivemos período contrarrevolucionário, de ofensiva geral do grande capital, com o mundo do trabalho em situação depressiva, sem um partido revolucionário com amplo apoio entre os trabalhadores.

 

A Rússia não é imperialista

Mesmo que não seja determinante para a presente discussão, é difícil definir a Rússia como nação imperialista, no sentido marxista do termo. Lenin propunha, como principal determinação do “imperialismo”, o domínio da exportação de capital monopólico, e não de mercadorias. Nessa fase “superior do capitalismo”, o capital financeiro realiza a exploração da força de trabalho sur place, na nação parasitada, onde obtém super-lucro, devido à sua dimensão e avanços tecnológicos. Como ocorre com os USA, China, Japão, França, Inglaterra, etc.

A economia russa é dominada pela exportação de petróleo, de gás, de grãos e de armamentos. Importa, e não exporta capitais. Convidamos nossos leitores a procurarem, em torno, no Brasil, indústrias monopólicas russas. A Rússia é, economicamente, uma nação semicolonial, dependente sobretudo do capital alemão e europeu. O que não impede que não se transforme em nação imperialista, em um futuro indeterminado. Na atual discussão, o determinante é ela ser nação agredida na autonomia nacional, independentemente de ser ou não imperialista.

A luta entre o trabalho e o capital não abrange todos os aspectos da vida social, mesmo sendo central e determinante para a solução das contradições não-classistas. Após 1917, os bolcheviques propuseram solução radical à tormentosa questão das contradições nacionais, que não eram de classes. Organizaram as grandes nacionalidades em repúblicas, com o direito de se tornarem independentes da URSS, se fosse a vontade da maioria de sua população. Puderam fazer isso pois haviam expropriado o grande capital e lutavam para mantê-lo longe de suas fronteiras.

 

A esquerda eternamente pró-imperialista

Essa solução, impensável para a época e para as forças burguesas, procurava satisfazer os anseios das comunidades nacionais e não deixar espaço ao domínio das grandes nacionalidades sobre as pequenas. Os bolcheviques temiam os sentimentos nacionais grã-russos, que se expressavam no interior do próprio partido. O chauvinismo da maioria eslava – russa – fora usado pelo tsarismo para dominar as nacionalidades menores do Império – “o cárcere dos povos”. A russificação das minorias foi prática permanente do tsarismo, retomada durante o período stalinista. Algo que ocorre, hoje, em sentido “reverso”, contra as populações de identidade russa, sobretudo no sul da Ucrânia.

Na esquerda que se propõe marxista-revolucionária, há aqueles, como a direção do PSTU, que exige que a Rússia se retire da Ucrânia, devolva a Crimeia, independentemente da vontade da sua população. E, em forma cínica, propõe que a Rússia, para “defender-se das tropas da OTAN em suas fronteiras, deveria apelar a uma grande mobilização dos povos ucranianos, europeus, norte-americanos… e russos, contra o avanço das tropas da OTAN […].” Proposta que lembra os posadistas conclamando o apoio extra-planetário para a revolução. Defende simplesmente as políticas imperialistas, o que fazem há décadas. O que mereceria análise mais detida.

Em sentido totalmente oposto, defende-se apoio incondicional à Rússia, ressaltando com razão que se trata de movimento defensivo. Mas hipoteca-se confiança total em Putin – portanto na burguesia russa – e silencia-se sobre os direitos nacionais ucranianos. Direitos que Putin revelou vontade de ignorar, até onde for possível, em retomada do chauvinismo grão-russo, que não é de agora. Intenção que deixou clara na intervenção de 21 de fevereiro, ao praticamente propor que a Rússia e a Ucrânia já foram a mesma coisa, sendo a última nação invenção das “loucuras” dos bolcheviques, em geral, e de Lenin, em especial.

 

Dar à Rússia e à Ucrânia o que é da Rússia e da Ucrânia

Putin, em forma contraditória, desanca, por um lado, o direito incontornável das nacionalidades de se auto-determinarem, velho horror do império tsarista, da URSS stalinista, e dos estados burgueses ingleses, espanhóis e por aí vai. E, por outro, sugere que, na Ucrânia, as comunidades das regiões de maioria de russofônicas decidam sua sorte democraticamente, esboçando a ideia de suas separação e incorporação, legal ou de fato, à Rússia. Essa proposta, do ponto da visão bolchevique das nacionalidades, é um direito que, entretanto, não deve ser exercido na ponta do fuzil.

O mundo do trabalho, a esquerda, os marxistas, as mulheres e homens de bem devem exigir a mais pronta e plena retirada das tropas russas da Ucrânia, com o concomitante afastamento geral da OTAN das fronteiras russas, para todo o sempre. Devem reclamar o respeito da independência das repúblicas de Donbas e de seu direito de incorporar-se à Rússia. E o direito de plena autonomia das regiões de fala russa da Ucrânia, extensivo, é claro, a todas as comunidades da Europa e do Mundo, na mesma situação. Iniciativas sancionadas por plebiscitos sem manipulações.

O atual confronto foi querido pelo conglomerado imperialista dirigido pelos USA, que agora impõe terrível ofensiva econômica geral contra a Rússia, com o objetivo de desmontar sua economia, insurrecionar sua população, criar tendências separatistas. Campanha que tem como objetivo estratégico a destruição da China e de todos os estados que se opõem a ele. O cuidado das tropas russas em realizar operação que fira ao mínimo a população civil ucraniana, e que não resulte em graves perdas russas, tem atrasado a intervenção, permitindo que o imperialismo prepare a transformação da Ucrânia em um novo Afeganistão russo.

Anunciam-se já tropas internacionais “democráticas” e neonazistas para lutarem contra os russos, como no Afeganistão, na Chechênia e na Síria. No Rio Grande do Sul, foi preso recrutador das milícias ucranianas nazistas. A derrota da ação mundial do imperialismo depende apenas dos trabalhadores e das classes populares, e jamais de Putin e dos exércitos russos. Entretanto, a eventual vitória da ofensiva contra a Rússia, com um salto de qualidade na hegemonia imperialista ianque, aprofundará terrivelmente o refluxo mundial das classes trabalhadoras e populares. A derrota da Revolução Afegã, nos anos 1980, e a morte de Muammar al-Gaddafi, em 2011, abriram caminho à barbárie regional, e não ao avanço das classes revolucionárias. Elas ensejaram ondas contrarrevolucionárias que se fazem sentir ainda hoje. A derrota da Rússia motivaria um tsunami de dimensão difícil de prever.

*Mário Maestri é historiador. Autor, entre outros livros, de O despertar do dragão: nascimento e consolidação do imperialismo chinês (1949-2021).

 

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