A crise na Ucrânia, num par de imagens

Imagem: Zeeshaan Shabbir
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ATILIO A. BORON*

Uma crise inventada pelas “democracias ocidentais”

Convido vocês a olharem este mapa elaborado pela BBC. Comprova-se nele a extensão das mentiras contadas pelos líderes das “democracias ocidentais”, que garantiram a Mikhail Gorbachev, quando a União Soviética se desintegrou, que “a OTAN não se moveria um centímetro para o Leste”. O que fizeram, entretanto, foi rodear a Rússia com 14 novos membros da OTAN, cercando esse país do Báltico até o Mar Negro.

Que países formam a OTAN

A OTAN foi criada em plena Guerra Fria (1949) e compreendia originalmente 12 países: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Itália, Dinamarca, Noruega, Luxemburgo, Islândia, Bélgica, Países Baixos e Portugal. Em 1952, a Grécia e a Turquia aderiram, e em 1955 a República Federal da Alemanha. Em 1982, através da traição de Felipe González, a Espanha incorporou-se à organização. Em 1999, juntaram-se Hungria, Polônia e República Checa. Em 2004, a quinta expansão da OTAN teve lugar com a incorporação da Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia, Lituânia e Romênia. Em 2009, o processo continuou com a adesão da Croácia e da Albânia; em 2017, Montenegro, e em março de 2020, em meio à pandemia, Macedônia do Norte. Desta forma, esta organização benemérita tem a Rússia completamente encurralada ao longo de toda sua fronteira ocidental, com exceção da Bielorrússia e da Ucrânia.

 

O que a Rússia reivindica

Não é necessário ser um especialista em questões militares para avaliar o gravíssimo alcance desta situação e a ameaça à segurança nacional russa. Por exemplo, os mísseis carregados com ogivas nucleares empregados na Polônia e Romênia podem atingir um alvo como Moscou em 15 minutos. Aqueles que se instalariam na Ucrânia, caso esse país seja fagocitado pela OTAN, chegariam em apenas cinco minutos, impossibilitando qualquer tipo de defesa. É por isso que o presidente Vladimir Putin tinha razão quando perguntou: “o que é que não se entende?”. A questão é a segurança nacional de um país como a Rússia, que tem sido implacavelmente agredido nos últimos vinte anos com sanções econômicas, diplomáticas, estigmatização midiática e ameaças de todo o tipo, incluindo uma grosseira campanha de difamação contra Putin, e que agora se exacerba com a crise ucraniana.

Crise, há que dizer, inventada pelas “democracias ocidentais”, na realidade sórdidas oligarquias a serviço do grande capital e da indústria armamentista de seus países, a começar pelos Estados Unidos. Infelizmente, a maioria dos países europeus resignaram-se a ser eunucos obedientes dos presidentes dos Estados Unidos. Foi por isso que se calaram quando, num de seus discursos, Putin perguntou quantas bases militares a Rússia tinha na fronteira dos Estados Unidos, seja no sul, México, ou no norte, Canadá. Ou quantos porta-aviões russos estavam em frente à baía de São Francisco ou nas proximidades de Manhattan. A resposta foi contundente: nenhuma base, nem porta-aviões, nada! Como justificar então tamanha assimetria, em que uma poderosa coalizão de países está cercando a Rússia e o chefe desta organização criminosa (porque não há outra forma de qualificar a OTAN), os Estados Unidos através de seu presidente e de seus líderes políticos (que estão arrastando irresponsavelmente a Europa para uma possível guerra em que nenhum dos milhões de refugiados pedirá ajuda aos norte-americanos, mas destruirá o equilíbrio social e cultural europeu), estimulam uma espiral de violência que põe em risco a paz mundial.

Não há justificativa possível para esta agressão impulsionada pelos EUA. É apenas o declínio inocultável de seu poderio global que os leva a apostar numa aventura militar na Ucrânia – que poderia desencadear um confronto termonuclear – com o argumento estúpido de que uma guerra vitoriosa lhe permitiria recuperar uma liderança mundial irremediavelmente erodida e que seus líderes estão relutantes em admitir. Infelizmente, o único estadista neste jogo macabro é Putin; o resto, começando por Joe Biden e o palhaço Boris Johnson (e seguindo pelos demais), são politiqueiros de quinta que irresponsavelmente colocam o mundo à beira de um holocausto nuclear, como Noam Chomsky tantas vezes advertiu.

*Atilio A. Boron é professor de ciência política na Universidade de Buenos Aires. Autor, entre outros livros, de A coruja de Minerva (Vozes).

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Publicado originalmente no jornal Página 12.

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição
  • O perde-ganha eleitoralJean-Marc-von-der-Weid3 17/11/2024 Por JEAN MARC VON DER WEID: Quem acreditou numa vitória da esquerda nas eleições de 2024 estava vivendo no mundo das fadas e dos elfos

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES