Por JEAN MARC VON DER WEID*
Temos que ficar alertas e preparados para responder a qualquer intento de melar o jogo. Agora é treze e depois é povo na rua
Nesta reta final parece que as nuvens estão se dissipando ou estão se concentrando no quartel general do energúmeno. As pesquisas apontam para uma diferença levemente crescente da perspectiva do voto em Lula em comparação com a do voto em Jair Bolsonaro. 6 a 7% de diferença. Jair Bolsonaro e seus asseclas estão se descabelando e produzindo factoides em massa, apressadamente e desastradamente. O bater de cabeças no campo dos governistas está acontecendo a olhos vistos. O pânico parece instalado e aumentando.
Dizem que a melhor avaliação das eleições na Inglaterra é feita pelos bookmakers. O reflexo dos apostadores não costuma falhar. No nosso caso, os bookmakers são os operadores do mercado de ações. Com um reflexo absolutamente estranho para gente que devia saber avaliar as perspectivas da economia, nossos deuses do mercado surtam a cada notícia confirmando o favoritismo do Lula. Nos últimos dias, a Bolsa vem caindo consistentemente e o dólar subindo, sinal de que Lula está progredindo na sua marcha para Brasília.
As adesões em massa do andar de cima nesta última semana, também apontam na mesma direção e os grandes empresários vão pulando da canoa furada do bolsonarismo. Eles são mais capazes de avaliar as perspectivas econômicas do que os bookies do mercado.
O último suspiro de esperança de Jair Bolsonaro está nos índices de abstenção, já que a aposta em levar os 800 mil votos Luzema do primeiro turno em Minas Gerais estão se frustrando, com os 5% de vantagem para Lula se mantendo firmes nas pesquisas. Duas das pesquisas exploraram a expectativa de abstenção e o resultado foi de estabilidade em relação ao primeiro turno, podendo até ser menor. Para que Bolsonaro tivesse alguma chance de colar no Lula a abstenção teria que saltar de pouco mais de 20% no primeiro turno, para 30% no segundo e, isto simplesmente, nunca aconteceu. Mesmo se acontecer o Lula ainda terá um a dois milhões de votos de gordura.
Bolsonaro sentiu a pressão e retomou as suas manobras para melar o jogo. Tentou forçar o adiamento do segundo turno e recebeu um troco pesado do TSE, que abriu uma investigação sobre a tentativa de perturbar as eleições. A medida era bastante desesperada, pois mesmo se o adiamento acontecesse, ele ganharia alguns dias a mais para tentar recuperar o que não conseguiu em um mês.
Resta a Jair Bolsonaro a manobra mais ensandecida; melar as eleições, recusando-se a aceitar os resultados e forçando uma crise institucional. Pelo comportamento dos seus aliados no congresso esta possibilidade está remota. Os próceres do Centrão têm dado mostras de que qualquer tentativa de golpe institucional não vai encontrar guarida na Câmara e no Senado. Seria preciso que houvesse um enorme movimento de revolta dos bolsominions nos dias posteriores ao pleito para justificar um Estado de Sítio.
Podemos contar com perturbações da ordem durante a votação e nos dias que se seguirão. Bolsonaro já apelou para suas tropas de milicianos se manterem em alerta para iniciar as provocações já na proclamação dos resultados. Caminhoneiros estão circulando orientações para que suas hostes se mantenham prontas para interromper as rodovias, seus militantes armados para agirem, e seu gado para tomar as ruas. Mas o clima não está favorável.
Neste segundo turno, as ruas e praças foram tomados pela militância lulista em todo o país e os bolsominions se encolheram. Uma tentativa de provocação no Rio de Janeiro deu xabú total. Convocados para tomar um dos baluartes da esquerda nesta cidade, a praça São Salvador, os provocadores apareceram em pequeno número e “ocuparam” uma praça que a militância de esquerda esvaziou e fizeram uma ridícula algazarra, sob vaias dos moradores dos prédios vizinhos. Evitou-se um conflito, mas foi até excesso de cuidados, pois se a praça estivesse cheia de lulistas o punhadinho de boçais sequer ia aparecer.
Uma manobra golpista exigiria uma posição decidida dos comandantes do exército, pressionando o congresso para votar o Estado de Sítio e/ou a anulação das eleições. A reunião improvisada dos ministros convocada por Bolsonaro ontem deu xabú e parece que o coiso ficou furioso. Eram poucos ministros, mas os comandantes das FFAA estavam lá, o que indica que qualquer manobra mais agressiva não deve ter sido apoiada por eles. A cara do presidente na sua comunicação com a imprensa era de desânimo, o espelho da derrota tanto nas urnas como na intenção de melar o jogo. Depois de ter convocado a imprensa, deixando a entender que faria algo chocante, ele apenas choramingou sobre as inserções da propaganda bolsonarista em meia dúzia de rádios do interior do nordeste e do norte, dizendo-se vítima do TSE, ele baixou o tom e disse que seus advogados iam recorrer ao STF.
Neste clima de derrota vai ficar difícil lançar suas tropas de provocadores, atacando seja lá o que for, após as eleições. A tática do “bola ou búlica” acabou dando errado, pois ao apostar em uma vitória eleitoral ou, pelo menos, uma derrota por margem mínima de votos, ele foi deixando de mobilizar seus seguidores de forma aguerrida e ativa. O resultado foi uma campanha de segundo turno, na qual o que ele chamou de DataPovo, a mobilização de massas de seguidores, não aconteceu e quem tomou as ruas foi a militância lulista. Os embates e provocações foram mínimos e o bolsonarismo caiu na defensiva.
Estamos “com a mão na taça”? Seria temerário dizer isso, pois ainda podemos ter algum susto com movimentos não percebidos nas pesquisas, mas a probabilidade agora joga contra Bolsonaro. E o mais importante para o campo democrático nesta reta final é ampliar a margem de votos ao máximo para poder neutralizar qualquer arreganho golpista. E ficar a postos para reagir a qualquer intentona pós-eleitoral do energúmeno. Tomar as ruas e praças em comemoração da vitória vai ser importantíssimo como elemento de dissuasão da possível ofensiva dos bolsominions no dia 30 e nos dias seguintes.
Não estamos livres de atos de loucura desesperada de Jair Bolsonaro, mas a probabilidade de uma massiva agitação nacional está ficando cada dia mais diminuta. E, sem isso, vai faltar o pretexto para qualquer pronunciamento militar. Mas temos que ficar alertas e preparados para responder a qualquer intento de melar o jogo.
Agora é treze e depois é povo na rua.
*Jean Marc von der Weid é ex-presidente da UNE (1969-71). Fundador da organização não governamental Agricultura Familiar e Agroecologia (ASTA).
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