Por ANDREI MARTYANOV*
Porque Emmanuel Macron se autoconvidou para a cúpula dos BRICS em Pretoria
É um fato fora de questão que Emmanuel Macron é um garoto de recados da família Rothschild. Até mesmo a Wikipedia traz a descrição das atividades da família no eixo Londres-Paris: “Ambos os ramos britânico e francês emergiram da Segunda Guerra Mundial com novas gerações da família no comando. Laços históricos de parceria entre os dois ramos foram revitalizados, levando a uma fusão completa em 2003 sob Rothschild & Co. Os Rothschilds criaram os primeiros hedge funds em 1969, e reforçaram a sua posição como líderes mundiais em investment banking. Adicionalmente, a empresa é um banco privado global com mais de 4.000 clientes privados em 90 países. Rothschild & Co provê uma ampla gama de serviços para indivíduos, governos e corporações por todo o mundo”.
Trata-se de um clássico negócio financeiro de movimentação de capitais, na sua maior parte em cash. Como quaisquer outros hedge funds, os fundos dos Rothschilds contam com analistas – omitiremos aqui os atributos dos mesmos – que são encarregados da avaliação de riscos e das análises probabilísticas concebidas para conservar e fazer aumentar o capital.
O pedido de Emmanuel Macron para comparecer ao BRICS não é um ato de espionagem nem busca ser um Cavalo de Tróia, de jeito nenhum, é para negociar nas bordas da cúpula dos BRICS quanto ao destino dos capitais dos Rothschilds. A trajetória do Ocidente já está agora bem delineada, e o avanço da volatilidade e o declínio radical já se encontram em marcha. Essa é uma situação ruim, muito ruim para o capital. O dinheiro ama estabilidade e calmaria.
Evidentemente que a verdade da SMO (N. do T.: Operação Militar Especial da Rússia na Ucrânia) começou a espirrar sobre aqueles analistas, e a família Rothschild e mesmo o observador não sofisticado já podem agora depreender facilmente a magnitude da mudança geopolítica – é algo sem precedentes na história moderna. É também algo metafísico – o dinheiro cash, mesmo volumes enormes dele, não significa absolutamente nada se não estiver baseado em alicerces firmes de poder militar massivo e poder econômico real.
Nós estamos testemunhando não apenas o fim da hegemonia do Ocidente, há uma mudança muito mais profunda em marcha – a morte do capitalismo financeiro e a exposição do dinheiro como meramente uma ferramenta, não uma substância em si. A desdolarização avança a um ritmo vertiginoso. Apenas um exemplo de hoje: “Encontrar alternativas ao dólar norte-americano levará tempo, mas a dominância global do dólar “asfixiou” muitos países, e a África precisa ter a sua própria moeda, disse na quarta-feira ao RT George Sebuela, presidente da Confederação das Empresas Unidas da África (AUBC). Sebuela disse que os países africanos com uma moeda própria farão comércio mais facilmente entre si e mesmo com outros países. “Aquilo que os Estados Unidos fizeram com o dólar realmente asfixiou muitos países de uma forma ou de outra,” ele disse. “Se você não andar na linha, você estará sob pressão porque você terá que usar o dólar,” disse Sebuela. Ele também disse que a questão para a União Africana será “como nós começaremos como um continente que é imenso, e que tem tantas grandes oportunidades, para então termos a nossa própria moeda, que poderá fazer o nosso comércio muito mais fácil, até mesmo com outros países?” Essa é uma discussão que está ocorrendo também dentro do grupo dos BRICS, disse Sebuela.
E esse é apenas um de muitos. Que tal esse outro: “A Rússia pagou dividendos pelos projetos petrolíferos Sakhalin 1 e 2 em yuans chineses, uma alteração na sua prática usual de pagá-los em dólares, graças às sanções do Ocidente sobre a Rússia. A decisão de pagar na moeda chinesa em vez do tradicional dólar norte-americano veio após a Rússia ter sido excluída dos sistemas de pagamentos globais dominados pelo dólar, como consequência de sanções amplas por conta da guerra da Ucrânia”.
Alguém poderia perguntar, como é que se pode fazer isso? Simples – porque se possui a maior força militar do mundo, e uma economia que pode facilmente bancá-la e supri-la, ao mesmo tempo que permite ao país continuar a crescer. Muammar Gaddafi não tinha isso – ele era um líder de uma pequena nação árabe com um bocado de grana, porém com poderes militar e econômico mínimos. Ele buscou uma alternativa ao dólar norte-americano – ele acabou morto. Não é possível fazer isso com a Rússia, porque aqueles que tentam acabam mortos da forma mais violenta.
E aqui está a diferença. A Líbia não podia produzir tanques modernos, enquanto que a Rússia produz mais de 1.200 por ano, todos eles estado-da-arte. Evidentemente que tal fato “chegou” até a família Rothschild e eles tentam desesperadamente encontrar um lugar para aportar as suas imensas fortunas, antes que elas evaporem devido ao colapso da moderna civilização do Ocidente.
Emmanuel Macron não passa de um gerente, nada além disso. Daí, “por favor me convidem para a cúpula do BRICS”. Trata-se também uma tentativa desesperada de se dependurar nas mangas dos paletós de Vladimir Putin e Xi Jinping e tentar ser ouvido por um minuto. As fortunas da família Rothschild querem ser guardadas por S-400 e T-90Ms com SU-57s em vez de Patriots PAC3 e Leopards-2. É só isso, não é nada além disso.
*Andrei Martyanov fez carreira militar na ex-União Soviética. Aposentado, radicou-se nos Estados Unidos. Autor, entre outros livros, de Losing military supremacy: the myopia of american strategic planning.
Tradução: Ruben Bauer Naveira.
Publicado originalmente no blog do autor.
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