Por EVE OTTENBERG*
Não se sabe quantos soldados americanos – para não falar dos mercenários americanos – estão na Ucrânia, mas eles estão lá
Quantos soldados americanos lutam na Ucrânia? O grupo que cerca Joe Biden tem o cuidado de não revelar ou se referir à sua presença, mercenária ou não, mas a questão continua vindo à tona. Voltou a aparecer em 27 de junho, quando a Rússia bombardeou o que a imprensa ucraniana chamou simplesmente de um ataque a um restaurante em Kramatorsk. No entanto, este restaurante supostamente comum fazia parte de um complexo hoteleiro que aparentemente atraía muitos homens ocidentais em idade de combate, especificamente soldados americanos e de outros de países da OTAN.
Sabemos disso porque testemunhas oculares os ouviram falando inglês americano e viram suas tatuagens militares (3º Batalhão de Rangers dos EUA), assim como as bandeiras americanas em seus capacetes. Além disso, mercenários americanos foram dados como mortos em certas contas de pessoas no Twitter. Sabemos também que este ataque com mísseis matou 50 oficiais ucranianos e dois generais e pelo menos 20 oficiais ocidentais, incluindo americanos. Ora, isso provou mais uma vez que um soldado americano na Ucrânia é apenas um soldado a mais na luta contra a Rússia.
O problema é que não sabemos quantos soldados americanos – para não falar dos mercenários americanos – estão na Ucrânia. O Ministério da Defesa russo estima que existem mais de 900 mercenários americanos na Ucrânia. Enquanto isso, Washington permanece guardando esse segredo pela razão óbvia de que, se não o fizesse, isso poderia provocar um confronto aberto com Moscou. E como não querem uma Terceira Guerra Mundial nuclear, a Casa Branca e o Pentágono nutrem um intenso interesse em esconder fatos sobre a pegada militar dos EUA na Ucrânia. Eles escondem, também, um possível incentivo para que norte-americanos se inscrevam como mercenários. Mesmo que muitos oficiais americanos da OTAN sejam mortos lá, aqui, na chamada pátria da liberdade, todos seriam mantidos no escuro.
As notícias recebidas indicam que os combates vão mal para as tropas americanas ocultas na Ucrânia. “Esta é a minha terceira guerra em que lutei, e ela é de longe a pior delas” – disse Troy Offenbecker ao Daily Beast em 1º de julho. “A gente é esmagada pela artilharia, pelos tanques. Na semana passada, um avião lançou uma bomba que caiu perto, a uns 300 metros de distância. Foi uma merda horrível.”
O Daily Beast cita outro soldado dos EUA, David Bramlette: “O pior dia no Afeganistão ou no Iraque é um grande dia na Ucrânia”. Sobre as missões de reconhecimento, ele disse que “se dois deles se ferirem… não tem helicóptero para vir buscar… A merda pode ir para o sul muito, muito rápido.” Em outras palavras, este é um inimigo diferente, muito competente e os soldados dos EUA na Ucrânia podem morrer em grande número sem que as pessoas nos EUA nunca ouçam falar desse acontecimento.
Veja-se o caso do ataque com mísseis a Lvov, em março deste ano. Não temos ideia se os rumores que rondam este ataque são verdadeiros, mas eles falam em centenas de mortos nas forças da OTAN, incluindo americanos. Na medida em que mencionaram essa suposta catástrofe, os meios de comunicação dos EUA se apressaram em contestar a veracidade dessas reportagens. Como acontece em geral, este ataque recebeu pouca ou nenhuma cobertura ocidental.
Mesmo os observadores experientes da Moon of Alabama se afastaram dela, presumivelmente porque a névoa da guerra era muito espessa. No entanto, um comentarista regular desse site, Oblomovka Daydream, postou em 15 de abril, em sua conta lá mantida, informações bem interessantes. Vale a pena dar uma olhada nos detalhes que não aparecem em outros lugares. Mas atenção: pouco se sabe sobre o histórico de Oblomovka Daydream.
De acordo com essa fonte, em março, a Rússia lançou “Daggers” – mísseis Kinzhal – em um centro de comando da Otan na região de Lvov. Esta instalação secreta, situada a uma profundidade de cem metros, era “um posto de comando da reserva do antigo distrito militar dos Cárpatos (…) bem protegido e equipado com modernos sistemas de comunicação.” Foram os generais e coronéis da OTAN que escolheram esse abrigo. Sentiam-se tão seguros que baixaram a guarda: “Às vezes, dezenas de carros se reuniam na entrada da sede, mesmo em plena luz do dia”.
O ataque foi escolhido pelos russos “porque tal bunker seria invulnerável aos mísseis convencionais”. Porém, o ataque russo não deixou sobreviventes. “E foram mais de 200, incluindo – dizem as fontes – alguns jornalistas ocidentais “informados”, vários generais e oficiais superiores americanos. Mas também havia britânicos, poloneses, ucranianos.” De acordo com o portal grego ProNews, que é próximo do Ministério da Defesa da Grécia e que foi citado nessa postagem, “dezenas de oficiais estrangeiros foram mortos” quando os mísseis hipersônicos Kinzhal atingiram a instalação secreta. Este foi “um grande desastre para as forças da OTAN na Ucrânia”.
Como mencionado anteriormente, os meios de comunicação ocidentais apressaram-se a não dizer uma palavra sobre isso ou a lançar dúvidas sobre a credibilidade dessas informações. De acordo com a Newsweek, em 31 de março, as alegações de que um centro de comando da OTAN havia sido atingido eram “infundadas”. A Newsweek afirmou que o ProNews é um sítio de internet “altamente questionável”. Admitiu, no entanto, que na noite de 9 de março a Rússia retaliou por sabotagem em Bryansk, com Kinzhals, e que uma região visada era Lvov.
Portanto, não está claro o que aconteceu. Oblomovka Daydream cita alguns detalhes convincentes: “Algumas fontes de Kiev também criticaram essa perda: após a emergência, representantes do Ministério da Defesa e do Estado-Maior General das Forças Armadas da Ucrânia foram chamados ao tapete da Embaixada dos EUA, onde foram repreendidos “pela má segurança do centro de controle” e, ao mesmo tempo, entregaram uma lista dos oficiais americanos mortos e ordenaram “que os tirassem pelo menos do subterrâneo'”.
A questão é a seguinte: dezenas de americanos poderiam ter sido mortos e, se assim foi, pode ter certeza, nunca vamos ouvir um pio sobre isso. Isso porque essa é uma guerra por procuração e os EUA supostamente não têm nada a ver com isso. Mesmo que bilhões de dólares americanos e muito equipamento militar dos EUA tenham desaparecido, sabe-se lá onde entra o papel da Ucrânia em tudo isso. Mesmo que os americanos lutem e morram lá. E mesmo que ninguém, fora de suas famílias e funcionários do governo, saiba quem eles são.
Mas nunca duvide que os americanos estão na Ucrânia desde o início desta guerra. Relatos que surgiram no Twitter em 9 de julho citando um comandante do Azov, Volyn, são interessantes; ele disse à mídia turca que os EUA e a Rússia organizaram a rendição de Azov em Azovstal no ano passado em troca da retirada de vários “oficiais americanos de alto escalão” da instalação. De fato, havia rumores de que havia americanos no complexo de Azovstal na época da rendição às tropas russas. Esta entrevista turca parece confirmar essa informação. Longe de se opor, muitos americanos sustentariam esse descalabro. Ademais, muitos americanos descartam a ameaça de guerra nuclear com a Rússia, algo em que nenhuma pessoa sã quer apostar, mas que é algo possível.
Tudo isso se soma, mais uma vez, ao argumento de que Washington deveria se retratar e tentar negociar. Moscou disse que atacará os centros de comando ocidentais. Quanto tempo falta para que um grande contingente de “treinadores” americanos da OTAN seja morto e isso não possa mais ser escondido? E depois? Oops… vem as desculpas: não queríamos começar a Terceira Guerra Mundial!
Washington deve procurar um acordo negociado. Um plano de paz, como o organizado por países neutros na primavera de 2022, que os gênios ocidentais afundaram. Washington poderia engolir seu orgulho e seguir a proposta de paz chinesa. Se houvesse a menor preocupação com a vida humana, figurões da capital imperial teriam feito alguma coisa. Mas só se pode concluir que nada fizeram e dificilmente o farão.
*Eve Ottenberg é escritora e jornalista. Autora, entre outros livros, de Lizard People.
Tradução: Eleutério F. S. Prado.
Publicado originalmente no portal Counterpunch.
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