Jair Bolsonaro na avenida Paulista

Imagem: Cottonbro
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUIS FELIPE MIGUEL*

Bolsonaro é um covarde, mas um de seus medos é o de se assumir como tal diante de seus seguidores. Por isso, a tentação de soltar uma bravata hoje é grande

O ato de hoje é uma cartada importante para Jair Bolsonaro. Ele tem um único propósito: escapar da cadeia. Com o ato, quer atingir dois objetivos que servem a esse propósito.

O primeiro é mostrar que tem força popular. Passar, a um Judiciário tão preocupado com o impacto político imediato de suas ações, o recado de que não é fácil mexer com ele.

Idealmente, o recado seria de que sua prisão geraria uma revolta popular espontânea, poria fogo no país. Mas nem Jair Bolsonaro acredita nisso.

Mostrar que tem capacidade de mobilização já está de bom tamanho. O problema é que métrica vai ser usada para calcular isso.

Com tanto investimento na convocação do ato, ele tem que ser realmente gigantesco, pelo menos tão grande quanto os maiores de seu período na presidência.

Claro que as Carlas Zambellis e os Nikolas Ferreiras vão dizer de qualquer jeito que foi monumental e contar o público na casa dos milhões. Mas o recado que Jair Bolsonaro quer passar não é para o cercadinho. É pra fora. E aí tem que ser mais convincente.

O segundo objetivo é forçar a direita a se unir em torno dele – exatamente no momento em que as investigações se fecham e a prudência recomenda ganhar distanciamento. Por isso a pressão sobre os governadores, Tarcísio de Freitas em primeiro lugar, para que compareçam.

Muitos vão comparecer, mesmo sabendo do potencial desgaste. Mas, se eu fosse Jair Bolsonaro, não contaria muito com a lealdade deles. Afinal, todo político é proverbialmente um peixe ensaboado – sempre escapa das mãos de quem quer prendê-lo.

O desafio de Jair Bolsonaro é se manter dentro do script – evitar bravatas, novos ataques ao Supremo, novas ameaças à democracia.

Ele é um covarde – esse é um dos traços que o definem. Sempre amarela quando o confronto parece sério. Mas um de seus medos é o medo de se assumir como covarde diante de seus seguidores. Por isso, a tentação de soltar uma bravata é grande.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de  Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil. (Autêntica) [https://amzn.to/45NRwS2]

Publicado originalmente nas redes sociais do autor.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Gabriel Cohn Eleutério F. S. Prado Paulo Capel Narvai Gilberto Lopes José Micaelson Lacerda Morais Jorge Luiz Souto Maior Francisco de Oliveira Barros Júnior Lorenzo Vitral Ricardo Abramovay Benicio Viero Schmidt Érico Andrade Ronald León Núñez Chico Alencar Slavoj Žižek Eduardo Borges Tadeu Valadares Atilio A. Boron Juarez Guimarães Valerio Arcary Fernando Nogueira da Costa Leonardo Boff Dennis Oliveira Maria Rita Kehl Fábio Konder Comparato Eliziário Andrade Airton Paschoa Michael Löwy Luiz Carlos Bresser-Pereira Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Francisco Pereira de Farias Ronaldo Tadeu de Souza Ari Marcelo Solon André Márcio Neves Soares Francisco Fernandes Ladeira Paulo Fernandes Silveira José Machado Moita Neto Heraldo Campos João Feres Júnior Elias Jabbour Daniel Brazil Luis Felipe Miguel Ricardo Musse Marcus Ianoni Luiz Roberto Alves Antonino Infranca Paulo Martins Alexandre de Freitas Barbosa Alysson Leandro Mascaro Daniel Costa Marcelo Guimarães Lima Luiz Werneck Vianna Vladimir Safatle Bernardo Ricupero Eleonora Albano Michael Roberts Alexandre de Lima Castro Tranjan Ladislau Dowbor Michel Goulart da Silva Andrew Korybko Jean Pierre Chauvin Sandra Bitencourt Luiz Eduardo Soares Marjorie C. Marona Celso Frederico Daniel Afonso da Silva João Paulo Ayub Fonseca João Carlos Salles João Sette Whitaker Ferreira Lincoln Secco Osvaldo Coggiola Armando Boito Marilia Pacheco Fiorillo Yuri Martins-Fontes Claudio Katz José Costa Júnior Julian Rodrigues Otaviano Helene Thomas Piketty Tales Ab'Sáber Igor Felippe Santos Annateresa Fabris Carla Teixeira André Singer Alexandre Juliete Rosa Ronald Rocha Priscila Figueiredo Sergio Amadeu da Silveira Boaventura de Sousa Santos Tarso Genro Ricardo Fabbrini Bruno Machado Marcos Aurélio da Silva João Adolfo Hansen Kátia Gerab Baggio Gilberto Maringoni Alexandre Aragão de Albuquerque Jean Marc Von Der Weid Marcelo Módolo Eugênio Trivinho Antônio Sales Rios Neto João Lanari Bo Anselm Jappe Leda Maria Paulani Vinício Carrilho Martinez Milton Pinheiro Marilena Chauí Antonio Martins Rodrigo de Faria Paulo Nogueira Batista Jr Caio Bugiato Matheus Silveira de Souza Henry Burnett José Luís Fiori Vanderlei Tenório Lucas Fiaschetti Estevez Manchetômetro Rafael R. Ioris Jorge Branco Gerson Almeida Leonardo Avritzer Luiz Marques Henri Acselrad Paulo Sérgio Pinheiro João Carlos Loebens Flávio Aguiar Carlos Tautz Remy José Fontana Andrés del Río Chico Whitaker Mário Maestri Flávio R. Kothe Liszt Vieira Denilson Cordeiro Rubens Pinto Lyra Dênis de Moraes Walnice Nogueira Galvão Luiz Renato Martins Salem Nasser Celso Favaretto Plínio de Arruda Sampaio Jr. Renato Dagnino Berenice Bento Eugênio Bucci Luiz Bernardo Pericás Manuel Domingos Neto Mariarosaria Fabris Fernão Pessoa Ramos Bruno Fabricio Alcebino da Silva Leonardo Sacramento Luciano Nascimento José Raimundo Trindade Bento Prado Jr. Ricardo Antunes Samuel Kilsztajn José Geraldo Couto Afrânio Catani Luís Fernando Vitagliano José Dirceu Everaldo de Oliveira Andrade Marcos Silva

NOVAS PUBLICAÇÕES