Por RACHEL MORENO*
A taxa de atingidos pela Covid-19 vem caindo, mesmo? Vem caindo o suficiente? Por que razão a classe médica discorda dessa conclusão, que acha, ainda, precipitada e pouco conclusiva?
Declarando que a taxa média de crescimento da Covid-19 vem caindo em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) anunciou a abertura dos parques, na capital do Estado.
A taxa de atingidos pela Covid-19 vem caindo, mesmo? Vem caindo o suficiente? Por que razão a classe médica discorda dessa conclusão, que acha, ainda, precipitada e pouco conclusiva?
Mas, independentemente dos números e da polêmica, a prefeitura da capital anunciou a liberação de 70 dos mais de 100 parques municipais, e o governo estadual também liberou a reabertura gradual de nove dos 16 parques estaduais.
Mas … sabem quais são os dias e horários?
Pois bem, ficarão abertos de segunda a sexta-feira, das 10 às 16 horas.
Os finais de semana seguem vetados.
Essa determinação contempla … quem, mesmo? Os trabalhadores? Os esportistas? Os que querem dar uma corrida ou caminhada antes de ir ao trabalho?
Dizem também que “os locais terão um limite de 40% da capacidade total, com controle de entrada e uso de máscara obrigatório. As atividades conjuntas serão proibidas e bebedouros, parquinhos e espaços para esportes coletivos continuam interditados.”
A Prefeitura, assim como a Secretaria do Verde e Meio Ambiente decidiram dessa forma, e sequer ouviram ou consultaram os Conselhos Gestores dos Parques.
O Fórum Verde Permanente, Praças, Parques e Áreas Verdes, entregou um manifesto no dia 08/07/2020, a respeito dos trâmites de reabertura e protocolos. Mas também esse órgão de participação social foi atropelado pela determinação de reabertura e apresentação de protocolos elaborados de forma unilateral (Poder Público), em 09/07/2020.
Um exemplo concreto
O Parque da Chácara do Jockey está também autorizado a reabrir.
Mas o Conselho Gestor do Parque (formado por representantes de associações, de usuários, de moradores e instituições da região de seu entorno) – além de não ter sido consultado – considera que faltam ao parque condições mínimas de funcionamento adequado, mesmo antes da pandemia.
Assim, o Conselho manifestou à Secretaria do Verde e do Meio Aambiente e à Prefeitura o seu desacordo com a reabertura do Parque Chácara do Jockey. Não se faz necessário expor nenhum outro argumento, basta citar a grave situação da sanitária provocada pelo Coronavírus. Não é o momento adequado para atrair pessoas à convivência e aproximação social.
Como se não bastassem as circunstâncias de extrema vulnerabilidade ao Covid-19, por parte dos espaços coletivos, identifica-se ainda as condições precárias em que se encontra o Parque Chácara do Jockey, em termos de manutenção, zeladoria e infraestrutura adequada para um receptivo decente.
É importante que lembremos o total descuido da atual administração municipal com o conjunto de parques e áreas verdes da cidade. A “política” proposta, por esse governo municipal, para essas áreas públicas já foi escolhida – trata-se de sua privatização. O “velho truque” do sucateamento, associado ao sub financiamento, que coloca um bem público, pertencente à população de São Paulo, disponível para “licitações” exploradoras para essas áreas verdes.
Vemos também o fato de não terem sido realizadas obras de reparos e manutenções da estrutura física, que já eram de conhecimento da secretaria do Verde e cuja não realização compromete ainda mais a segurança dos usuários, funcionários e seguranças.
– as práticas permitidas seriam: corrida, caminhada e bicicleta;
– isolar: atis, playground, bebedouros, quadras e campos, mesas de jogos;
– não são permitidas assessorias esportivas (personal) e aglomerações: pic nics, festinhas, jogos…
– Horário de funcionamento dos parques: de segunda a sexta das 10 às 16h;
– administrativos trabalharão a partir do dia 13/07 de segunda à sexta, ou seja, folgarão nos fins de semana;
– devem chegar antes das 10h e manter o parque em condições de uso, seguindo o protocolo;
– devem orientar os terceirizados qto ao cumprimento do protocolo;
– obrigatório o uso de máscara, distanciamento social;
– é imprescindível que os administrativos estejam circulando pelo parque, orientando munícipes e funcionários;
– todos os dias os administrativos, com os parques abertos, farão relatórios sobre ocorrências nos parques, número de frequentadores, incidentes…
– sanitários deverão ter lavagem completa em média a cada 2 horas: maçanetas, torneiras, vasos sanitários…
– 1 vigilante por portão fazendo a contagem dos munícipes;
Há poucos banheiros disponíveis, faltam bebedouros, entre outras coisas, para além de sua manutenção.
Com a reabertura, além de faltar condições de higienização do único banheiro que se colocará à disposição, ficará proibido o acesso aos bebedouros.
Faltam lavatórios de mãos com água e sabão; etc.
Faltam condições de permanente higienização de espaços de uso coletivo, banheiros, bebedouros, vaporização de água sanitária nos passeios, desinfecção de ambientes (regras sanitárias mínimas)
Falta uma campanha anterior, via midia e outros meios, para garantir o conhecimento dos usuários das condições a que deverão se submeter, uma radiografia desses espaços, para que os possíveis visitantes tenham informação para poder optar entre ir ou não se expor.
Falta treinamento e pessoal para fiscalização dos usuários.
PROTOCOLO: Em especial, entende-se como relevante e imprescindível, que cabe à SVMA e a Prefeitura avisar e alertar a população de modo geral, e frequentadores em especial, que a abertura e a permanência do parque aberto dependerá de uma queda progressiva dos índices de infectados e de mortes pelo Covid, é absolutamente necessária uma alta adesão às regras, pareceres médicos e critério sanitários e distanciamento social preconizado pela OMS.
Outra “joia rara” de procedimento pseudo científico e sanitário: a Prefeitura de São Paulo estabeleceu um limite de 40% de frequentadores para os parques públicos. Número mágico!
Para o Parque da Chácara do Jockey, eles estabeleceram como capacidade de visitantes (absurdo!) de 3.588 pessoas…!
No estado
No sábado, o governador João Doria anunciou que nove dos 16 parques estaduais localizados na capital também serão abertos, de segunda a sexta-feira. Já o Zoológico, o Zoo Safari e o Jardim Botânico ficarão abertos de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h; e aos sábados, domingos e feriados das 9h às 16h, com restrição de 50% dos ingressos.
As atitudes do prefeito e do governador poder ser comparáveis à incúria do governo federal. Além de não oferecerem informações básicas para a população se proteger.
E, depois de alguns dias, o governador Dória agora propõe a oitava quarentena no Estado, de 27 de julho até 10 de agosto, em razão da pandemia.
A capital não reabrirá teatros e cinemas, decreta Dória.
Ele também cancelou a Marcha para Jesus, assim como a Parada LGBTQ+ (que deveriam ter ocorrido em junho e que teriam sido remarcadas para novembro). E finalmente também anunciou o adiamento do Carnaval de 2021, para provavelmente fins de maio ou começo de julho do ano que vem.
Mas, com relação aos parques, nada disse, embora a frequência – a julgar pelo Parque da Chácara do Jockey – esteja aumentando diariamente, apesar da precariedade e do horário de funcionamento.
*Rachel Moreno é psicóloga e militante feminista. Autora, entre outros livros, de A imagem da mulher na mídia (Expressão popular).