10 haicais

James Ensor, A Batalha das Esporas Douradas
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Por ALEXANDRE DE OLIVEIRA TORRES CARRASCO*

Haicai de ocasião
Chove

Se não chovesse
Sol veria

Haicai da conversa de antropólogo
o que – em mim

não for mito
imito

Haicai da segunda-feira à noite
Frio bate no rosto

– no coração
um osso

Haicai da passagem de ano
Fim de ano –

o que passou fica
passado.

Haicai do que recebi sem pedir
Presente:

o que ganhei
des
cubro.

Haicai para uma quarta-feira de cinzas, todo ele a partir de CDA
amar o perdido

contra o sem sentido
esses ficarão.

Haicai à moda de Heráclito
No mesmo rio não se banha duas vezes

No mesmo amor não se ama duas vezes
No mesmo medo: Parmênides.

Haicai que aparece de madrugada
Durmo, sono e sumo
Reapareço, sonho e olho
Vejo que durmo, acordo.

Haicai da langue de bois
Como seria o caso

se a desinência
viesse do acaso?

Sem título
Folha se espraia no vazio.

Não cai, ainda.
Cai indo.

*Alexandre de Oliveira Torres Carrasco é professor de filosofia na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).


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